segunda-feira, 24 de abril de 2023

Portugal | ADMITAM QUE SÓ NÃO QUEREM CELEBRAR ABRIL

Ano após ano há, à direita, quem crie uma polémica em torno das celebrações da Revolução de Abril. Há sempre alguma coisa errada com o dia. Após tantas sucessivas polémicas, o problema não são as celebrações, mas sim o que se celebra.

AbrilAbril | editorial

À mínima questão dá-se a exacerbação do que retira do foco o que se devia discutir e centra-se o acessório. A acção política definida somente com base na espuma dos dias tem esse objectivo e a direita, à boleia de uma comunicação social que não se imiscuindo de uma agenda própria veicula determinadas agendas, tem o suporte e plataforma para colocar em marcha os seus objectivos. As celebrações da Revolução de Abril são a prova do algodão que, de facto, não engana.

Que se analisem os vários exemplos nos últimos anos. Foi a sessão solene do 25 de Abril na Assembleia da República, foram os desfiles na Avenida da Liberdade enquadrados nas comemorações populares da Revolução, é agora a vinda do Presidente da República Federativa do Brasil a Portugal que terá enquadramento institucional. Tudo isto serviu e serve para manchar as celebrações da Revolução, para impedir que se discuta o valor do dia que derrubou o fascismo. Tanta polémica não é em vã, tem um claro objectivo.

Dos que instrumentalizam pequenas questões e as amplificam, a táctica requentada traduz objetivos de fundo. Nunca a afirmar o valor do dia, somente o valor da polémica, nunca os vimos a exaltar os valores democráticos, somente o lateral e supérfluo e isso apenas porque não querem e não respeitam o dia que deu corpo ao sonho da liberdade. 

Mas porquê? Talvez porque saibam que os seus laivos reacionários, os seus posicionamentos fascizantes, a sua gula pelo retrocesso não são compatíveis com os valores de Abril. É sempre mais fácil criar uma polémica do que evidenciar a sua antipatia pela Revolução. Sabem que a identificação popular, comprovado pelas grandes celebrações país afora, não iria deixar esquecer quem é contra o dia que consagrou os valores com que muitos querem construir o futuro. 

A vinda de Lula da Silva a Portugal é somente mais um capítulo dos vários já existentes. Claro que à mistura identifica-se a indignação por vir falar um chefe de Estado que não tem medo de dizer que é necessário procurar a paz, e com isso vai contra a narrativa imposta no ocidente de fomento de guerra, mas não é somente isso. A direita, desprovida de todo e qualquer sentido de Estado, está disposta a colocar em causa relações diplomáticas com um país irmão se para isso for necessário não falar de Abril. 

A Iniciativa Liberal, de forma infantil até, diz que Rodrigo Saraiva vai ostentar bandeira ucraniana quando Lula da Silva estiver no parlamento a 25 de Abril. A desvalorização que fazem da data foi sempre apanágio dos seus dirigentes nas redes sociais. Nunca, em nenhuma outra ocasião, fizeram questão de dizer que em algum sítio iriam ostentar um cravo. Pela mesma linha vai o Chega que durante a data da Revolução não são vistos (naturalmente) na rua a celebrar, desta vez querem organizar uma manifestação contra Lula da Silva. 

Entende-se o pseudo-desconforto da direita com Lula. A polémica e a encenação fazem manchetes e o burburinho visa esvaziar a importância do dia. Ano após ano vai ficando cada vez mais evidente a falta de vontade de exaltar os valores, as conquistas e os avanços do 25 de Abril de 1974. Chega a ser cansativo. Mas enquanto as massas populares na rua gritam «25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!», façam-lhes um favor e admitam logo que não querem é celebrar Abril.

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