segunda-feira, 24 de abril de 2023

Angola | AS MARCAS DA LIBERTAÇÃO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda 

Virgílio de Fontes Pereira fez um discurso na Assembleia Nacional que devia ser distribuído porta a porta em todo o país. Porque ia dar de comer a quem está faminto de esperança. De acreditar. De encarar o futuro com esperança. Quando temos fome é preciso que alguém nos dê uma palavra de solidariedade. O líder do grupo parlamentar do MPLA deu ao país essa palavra. Quando vivemos atazanados pela pobreza precisamos que alguém nos dê uma mão para sairmos da exclusão. Essa mão foi dada pelo deputado Virgílio de Fontes Pereira. Agora todos sabemos que o MPLA regressou a casa. O MPLA é de novo o povo.

O amplo movimento que juntou todos os que lutavam pela Independência Nacional, nos anos 50, deixou uma marca indelével logo nos primeiros passos da sua vida. Enxotou o medo. Ensinou-nos que só tínhamos a perder as correntes de escravos. Aos que eram privilegiados, ensinou que só teriam dimensão humana se encostassem a pele ao chão na luta pela liberdade do Povo Angolano. Caso contrário seríamos sempre agentes ou apoiantes do colonialismo, o mais grave crime que alguma vez foi cometido contra a Humanidade. Digam agora quem mais deixou tão profunda marca na História de Angola.

O amplo movimento, liderado por patriotas da dimensão de Ilídio Machado ou Mário Pinto de Andrade, juntou no seu seio estivadores, serventes, médicos, engenheiros, cantineiros, estudantes, enfermeiros, camponeses do algodão e do café, privilegiados e deserdados, justiçados e injustiçados, pobres e ricos. Digam agora que outra organização política deixou uma marca tão profunda de unidade na luta pela liberdade.

O amplo movimento, ciente da sua força imparável e invencível, disse às autoridades coloniais que tinha chegado a hora da Independência Nacional. A resposta foi brutal. Os dirigentes e militantes do amplo movimento foram forçados ao exílio ou enclausurados nas masmorras. Sem querer, os colonialistas multiplicaram cada patriota por mil. Chegou aquele por quem esperávamos, levando a cada cubata, a cada tugúrio, a cada oficina, a cada plantação, a cada casa, a cada escritório, a sagrada esperança na Luta Armada de Libertação Nacional. Agostinho Neto chegou. Na História Universal nenhum outro dirigente político deixou o perfume da Poesia na libertação de um povo. Mais ninguém no mundo tem essa marca.

O MPLA criou o Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA). Nas suas fileiras encontraram-se, de armas na mão, camponeses e operários, estudantes e analfabetos, deserdados, remediados e até ricos. Todos unidos na causa pela liberdade. Todos lutando pelo Povo Angolano. Os militantes do MPLA levaram a luta armada ao Norte e ao Leste. Lutaram clandestinamente nas cidades. Morreram em combate. Apodreceram nos campos de concentração e nas prisões. Nenhum partido político no mundo deixou essas marcas de coragem e abnegação.

 O amplo movimento conduziu o Povo Angolano à Independência Nacional. Quem tem bilhete de identidade e passaporte tem uma marca do MPLA. A marca da cidadania conquistada a ferro e fogo. O orgulho de ser angolano regado com suor e sangue nas frentes de combate pela Soberana Nacional e a Integridade Territorial. Mais nenhum povo no mundo pode exibir essas marcas.

Agostinho Neto garantiu a paz no Norte e ampliou a luta armada para a Namíbia, Zimbabwe e África do Sul. Fez de Angola libertada, trincheira firme da Revolução em África. Mais nenhum líder no mundo deixou essas marcas. Ninguém ajudou a libertar tantos povos sedentos de liberdade. Ninguém ousou ir tão longe no combate ao regime racista da África do Sul, apoiado e sustentado pelo Reino Unido, estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) e as grandes potências do ocidente alargado.  

O MPLA, dirigido por José Eduardo dos Santos, derrotou o regime de apartheid da África do Sul. Obrigou os nazis de Pretória a assinarem a capitulação nos Acordos de Nova Iorque. Mandela foi libertado. O regime racista caiu. A África Austral foi libertada. Nenhum partido no mundo deixou essas marcas na História Universal.

O MPLA respeitou os adversários a um nível nunca antes visto. Depois de mil vitórias estendeu a mão aos derrotados. Primeiro em Bicesse. Depois em Lusaka. E finalmente no Luena. A sua generosidade é inigualável. A sua abertura é total. Nas primeiras eleições multipartidárias, em 1992, ganhou com maioria absoluta. Apesar disso, convidou todos os partidos que elegeram deputados para o Governo. Os derrotados partiram para a guerra. Ao mesmo tempo, tinham deputados na Assembleia Nacional. E depois ministros no Governo de Unidade e Reconciliação Nacional. Não há na História Universal exemplo igual. Mais uma marca distintiva da democracia angolana. 

O amplo movimento nasceu da Mamã Angola e é o seu melhor filho. O que mais respeita as suas origens. Há países com mais escolas, melhor ensino, melhores cuidados primários de saúde, mais habitações, mais empregos, melhores salários, mais comida na mesa. Mas esses não foram devastados por matilhas de mercenários, exércitos invasores. Destruição total, em 1974 e 1975, das unidades de produção e circuitos de distribuição. Debandada da força de trabalho, desde motoristas a médicos e cientistas. Esses países não tiveram de enfrentar uma rebelião armada durante dez anos. A UNITA destruiu os equipamentos sociais e unidades económicas em todas as províncias. Matou. Causou milhões de deslocados.

A rebelião armada terminou em 2022. O amplo movimento perdoou aos marginais armados que durante dez anos dispararam contra o Povo e na Democracia. Em 21 anos o Executivo do amplo movimento cravou três marcas indeléveis na sociedade angolana: A Paz, amnistia e perdão aos sicários da UNITA e as Centralidades. Mais nenhum Governo do mundo construiu novas cidades num país devastado pela guerra. 

Na inauguração da Cidade do Kilamba falei com o responsável da administração. E fiquei a saber que ali foi criado o modelo de gestão das autarquias, quando forem realizadas eleições para o Poder Local Democrático. Na Centralidade de Cacuaco fiz uma reportagem que incidiu nos equipamentos da Educação. Entrevistei o cónego Graciano Apolónio, um angolano de dimensão excepcional. Um dia destes falei com ele e soube que foi afastado da sua obra! Nas redes sociais circulam imagens do bater de panelas na Cidade do Kilamba, onde vive a base social de apoio do amplo movimento.

No Chile assisti a manifestações nas ruas de Santiago. Mulheres batendo tampas de panelas contra o socialismo. A CIA organizou as manifestações e o golpe sangrento que derrubou o Governo de Allende. Na Cidade do Kilamba aas tampas das panelas bateram por ordem do Gangsta, gato escondido com o rabo da UNITA de fora. Mas isso é o menos. O problema é que forças inorgânicas estão a tomar o lugar do MPLA. Isso só interessa ao estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) e ao ocidente alargado, sobretudo ao cartel falido chamado União Europeia. Até o Zelensky lhe cospe em cima! Mas o Executivo deixa os seus embaixadores fazerem subversão em Cabinda!

As marcas distintivas da democracia são do MPLA. A UNITA é incapaz de criar uma alternativa. Nem com o truque da “frente patriótica” conseguiu ganhar eleições. Mas teve um prémio de consolação. Destruiu a CASA-CE e tornou todos os outros partidos pouco mais do que irrelevantes eleitoralmente. Neste quadro inquietante, o engenheiro agrónomo Fernando Pacheco escreve hoje no Novo Jornal: “ Se o MPLA insinua que há forças políticas não interessadas na paz e na reconciliação, deveria fazer propostas no sentido de dialogar com essas forças”. 

O autor deve ter emigrado para Marte desde 1978 e só regressou agora. Não soube da paz no Norte conseguida por Agostinho Neto através do diálogo com Mobutu. Os órgãos de comunicação social marcianos não lhe deram notícia do Acordo de Bicesse, onde José Eduardo dos Santos estendeu a mão a Savimbi. O Protocolo de Lusaka. Entendimento com a FLEC. Amnistia geral aos criminosos de guerra da UNITA. Nem mais um tiro depois da morte de Savimbi. Tirem esses piolhosos das matas, em segurança. O amplo movimento tem espalhado as marcas do diálogo desde a sua fundação, em 1956! Fernando Pacheco estava a tratar das suas fazendas em Marte.

O santinho Fernando Pacheco invoca o papa Paulo VI e o papa Francisco para nos dizer que com fome, pobreza e desigualdade não há paz, não há democracia, não há justiça. O populismo é filho da extrema-direita. Já vais aí Fernando? Diz-me, sábio e santinho Fernando Pacheco, em que país do mundo não há fome. Não há desigualdades sociais. Não há pobreza. 

Já sei! Nos países nórdicos. Mas para eles estarem livres dessas catástrofes, semeiam a pobreza, a fome e a injustiça por todo o mundo e mais particularmente no “terceiro”. São mais espertos do que o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) e seus capangas, que roubam à mão armada. Os escandinavos assaltam-nos com falinhas mansas.

A aldeia de Kakanga, Golungo Alto, já tem luz eléctrica e água canalizada. Quando era miúdo passei lá férias. O senhor Zé Marimbala tinha aí uma fazenda. Fiquei comovido. Mais uma marca do MPLA. 

O discurso de Virgílio de Fontes Pereira na Assembleia Nacional representa o regresso do amplo movimento às suas marcas distintivas. Já não era sem tempo. Vamos à luta!

* Jornalista

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