sexta-feira, 26 de maio de 2023

DiA DE ÁFRICA E OS ABUTRES – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Hoje é o Dia de África em homenagem à data da fundação da Organização da Unidade Africana (hoje União Africana). Os abutres, apesar desse ameaço de frente comum contra eles, continuam a debicar no seu corpo recheado de matérias-primas valiosas e essenciais ao progresso e bem-estar da Humanidade. O problema é que os abutres são mutantes. Primeiro debicam e depois tornam-se vampiros que comem tudo e não deixam nada aos africanos. Por isso, só comemoro o Dia das Vítimas do Imperialismo, que é todos os dias de todas as vidas de todos os que não aceitam o domínio do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) e seus ajudantes de campo na exploração, corrupção, roubo e latrocínio. 

No Dia de África foi anunciado, envergonhadamente, que a Alemanha entrou em resseção. Quer isto dizer que o motor da União Europeia, que já estava gripado, parou por falta de combustível. Mau sinal. África vai pagar mais esta avaria. 

No Dia de África foi anunciado, envergonhadamente, que republicanos e democratas não se entendem e os EUA vão falhar o pagamento das prestações da dívida multimilionária que se for medida em quilómetros, chega da Terra ao Sol. Imaginem os anos-luz que os mais perigosos terroristas do mundo devem aos credores. Os africanos vão pagar pelos caloteiros que gastam tudo nos jogos de guerra e inventaram a economia de casino, com uma roleta viciada para sair sempre aos donos da maquineta mesmo quando perdem.

No Dia de África ficámos a saber que a economia portuguesa teve um desempenho muito positivo no primeiro trimestre. Mas como a União Europeia está nas lonas porque manda o kumbu todo para a guerra da Ucrânia, um dia destes Portugal põe à venda o Palácio de Belém e aluga os boys dos partidos aos governos africanos. Eles são danados. Começaram muito mal vistos. Eram apresentados como parasitas imprestáveis que recebiam muito dinheiro sem fazer nada, só porque estavam cobertos pela bandeira partidária. 

António Guterres, o rato de sacristia, até os excomungou ao dizer numa campanha eleitoral “no jobs for de boys”, uma fauna desprezível. Hoje são a alma de Portugal. Derrubam ministros, governos, presidentes, serviços secretos e até são capazes de afocinhar a TAP numa aterragem fatal. Os importantíssimos boys portugueses vão para o Sudão rapidamente. Demitem os beligerantes e eis a paz. Vão para a fronteira entre a República Democrática do Congo e o Uganda, demitem os presidentes, os governos e as forças armadas e eis a paz. O Presidente João Lourenço perde o título de campeão para os boys portugueses. Tudo isto acontece à vista do Dia de África.

O secretário-geral do MPLA, Paulo Pombolo, para animar o Dia de África fez uma declaração enigmática, cara a cara com Manuel Homem, o líder do partido na província de Luanda. Pediu-lhe ajuda para “acabar a intriga e a fofoca” entre dirigentes e militantes. Surpresa das surpresas. O dirigente que responde pela máquina partidária reconhece publicamente que as coisas já desceram ao nível do Partido de Renovação Democrática (PRD), restos dos golpistas de 27 de Maio de 1977, da Frente para a Democracia, uma parcela da Revolta Activa ou do Ngwizani a Kongo (NGWIZAKO). Já vais aí?

O anúncio de alargar o comité central do MPLA foi visto como uma medida inteligente porque iria ampliar os elos de ligação entre a direcção e as bases. Como é público, esse objectivo está longe de ser cumprido. As centenas de dirigentes, segundo Paulo Pombolo, estão mais viradas para a intriga e a fofoca. O secretário-geral até dramatizou a situação. Acabar com este ambiente tóxico é fundamental para o partido ganhar as próximas eleições. No Dia de África ficámos a saber que existe uma tragédia no continente. O partido que mais contribuiu para a sua libertação está atolado na intriga e na fofoca. 

No Dia de África a advogada Ana Paula Godinho agitou as águas mansas em que navega o Poder Judicial. Como é público e notório, está tudo no seu lugar, nem um mosquito se ouve no ambiente dos Tribunais de todas as instâncias. Nem uma suspeita sobre magistrados judiciais e agentes do Ministério Público. 

Ana Paula Godinho é uma avogada angolana, credora de respeito e consideração. Mas vem sendo torturada e vilipendiada, há alguns anos, pela turma do Miala. É preciso desacreditá-la em nome da deificação do Presidente João Lourenço. Quem belisca o deus de Angola leva logo com o tempero do chefe da cozinha.

A advogada denunciou uma decisão do Conselho Superior da Magistratura Judicial, (CSMJ), quando deliberou instaurar inquéritos à veneranda conselheira Ana Bela Vidinhas. Estão em causa os processos 138/23 e 171/23. Se a Dra. Ana Paula Godinho merece respeito e consideração, o órgão perante o qual respondem os magistrados judiciais também. Ana Paula Godinho não poupa nas palavras, quando aprecia os inquéritos que correm contra Ana Bela Vidinhas, veneranda conselheira do Tribunal Supremo: “O poder que nos devia libertar, oprime-nos!”

Face aos processos 138/23 e 171/23 que correm no Conselho Superior da Magistratura Judicial, Ana Paula Godinho afirma, desassombradamente: “Estão lançadas as bases para uma ditadura no judiciário”. Porque a partir destas acções contra Ana Bela Vidinhas “todos os magistrados judiciais terão medo de decidir de acordo com a Lei porque serão punidos, se a decisão desagradar ao CSMJ.”

As redes sociais, os “portais” e outros instrumentos de tortura ao serviço do Miala podem gritar que “Ana Paula Godinho é a advogada do diabo”. Pouco ou nada adiantam. Porque está em causa todo o edifício do Poder Judicial e são os seus agentes que estão a demoli-lo às ordens do poder político que não hesita, nem um segundo, em mostrar que manda nos Tribunais como se fossem repartições públicas.

A marca dos mandatos do Presidente João Lourenço é o combate à corrupção. Mas que não seja circo ofertado ao povo como distracção da falta de pão. Para o espectáculo não redundar numa palhaçada convém que o Poder Judicial não seja o palco da festa. A magistratura judicial precisa de respeitar as Leis para ser respeitada. Se uma avogada com o prestígio de Ana Paula Godinho faz declarações tão duras é porque algo está podre no reino do Palácio da Justiça.

Camarada Paulo Pombolo isto não é intriga nem fofoca. É um sinal de alarme. Mas se a direcção do MPLA quiser viver com a cabeça debaixo da areia, quem sou eu para aconselhar outra postura. Mas esta só interessa mesmo ao Estado terrorista mais perigoso do mundo.

* Jornalista

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