domingo, 5 de agosto de 2012

Moçambique: INSEGURANÇA SOCIAL É MINISTÉRIO, MAS HÁ UMA “FLORESTA DE ARTE”




Crianças procuram alternativa à pobreza na África do Sul

04 de Agosto de 2012, 09:22

André Catueira, da Agência Lusa

Chimoio, 04 ago (Lusa) - Descalço e sorridente, aprumado nas vestes, Norberto Ntane, 14 anos, deixa a escola e a família para, junto do seu tio, viajar para a África do Sul e "garantir o noivado", como fazem milhares de uma localidade no centro de Moçambique.

"Não consegui ir para África do Sul no ano passado e vou aproveitar agora o convite do meu tio e conseguir comprar capulanas, bicicletas, aparelhos (de som) e outras coisas para eu casar", disse à Lusa Norberto Ntane, enquanto acena para outros miúdos que assistem à partida, ansiosos de um dia chegar a sua vez.

Muitas crianças do distrito de Machaze, interior de Manica, emigram voluntariamente, com algum familiar e ou vizinho, para a África do Sul, motivadas pelo acentuado índice de pobreza, uma situação que se tem tornado preocupante para as autoridades governamentais, pela sua frequência.

Em Machaze, uma das principais origens de mineiros para a África do sul, as crianças perdem a sua infância atrás de água potável, para dar de beber às suas famílias, e noutras vezes para dar de comer, o que incentiva muitas a emigrar à procura de oportunidades.

"Muitas crianças, várias delas indocumentadas, emigram com seus familiares (que já trabalham na África do Sul) e outras ainda sem companhia de pessoas conhecidas. Estas vão com o propósito de encontrar um familiar e ou à procura de emprego", disse à Lusa, Teixeira Machate, administrador de Machaze.

No ano passado, um grupo de 30 pessoas de Machaze, entre as quais oito crianças, escapou de uma suposta rede de tráfico de seres humanos. A polícia interpelou-as quando seguiam, para África do Sul, num camião frigorífico, sob promessa de emprego. Em 2011, perto de 90 pessoas, na mesma situação, foram recambiadas para Moçambique.

"A emigração em massa é um problema cultural que carece de um estudo cauteloso neste distrito. É muito fácil (em Machaze) convencer alguém para ir para a África do Sul, porque acredita que vai para uma espécie de paraíso, onde a vida é facilitada. Isso tem consequência nas emigrações e propício à prática do tráfico humano", afirmou Machate.

O tráfico humano em Machaze, disse, ocorre com o recrutamento clandestino de pessoas na maioria das vezes sob promessa de emprego na África do Sul. Entre os recrutados incluem-se crianças que têm sido "objeto de mão-de-obra barata".

"Há uma motivação descontrolada de emigração para a África do Sul. Tem havido casos de recrutamento clandestino. Essa atividade chegou a envolver líderes comunitários (representantes do governo nas comunidades)", reconheceu Machate, embora a tendência esteja a diminuir devido a um intenso trabalho governamental.

O governo distrital tem continuamente realizado reuniões populares com líderes comunitários, para desencorajar o seu envolvimento, como instrumentos de contratação clandestina, e incentivar uma fiscalização para punir os eventuais "traficantes de pessoas".

Atualmente os líderes comunitários são responsabilizados, pelo governo local, pela saída à revelia de qualquer morador, sobretudo crianças, uma iniciativa que pretende travar a emigração clandestina, mas a situação no local sugere o contrário.

Em média 200 pessoas emigram, através de terminais oficiais, para África do Sul mensalmente em Machaze. Mas estima-se que muitos residentes de Machaze emigram clandestinamente para o país vizinho.

Em 2011, através do relatório sobre a emigração infantil em Moçambique, as organizações não-governamentais Save The Children e a SANTAC (Rede de África Austral contra o Tráfico e Abuso de Menores) lançaram um veemente apelo para se dar uma resposta de dimensão regional ao problema de emigração clandestina de crianças a nível dos países da região Austral de África.

AYAC

Exonerada diretora do Instituto de Segurança Social por alegada má gestão

04 de Agosto de 2012, 14:43

Maputo, 04 ago (Lusa) - A ministra moçambicana do Trabalho, Helena Taipo, exonerou a diretora-geral do Instituto Nacional de Segurança Social, Rogéria Muianga, por alegada má gestão de fundos de pensão de trabalhadores.

Recentemente, a imprensa moçambicana revelou que a instituição, a única em Moçambique que gere as pensões dos trabalhadores, gastou 217 mil euros para reabilitar um imóvel destinado a Rogéria Muianga.

A Organização dos Trabalhadores de Moçambique reagiu às denúncias, considerando, na ocasião, a situação "deveras preocupante para os contribuintes e beneficiários do sistema, dados os prejuízos que dela resultam".

Em comunicado hoje enviado, o Ministério do Trabalho de Moçambique indica que Helena Taipo "determinou a cessação de funções, na sexta-feira, de diretora-geral do INSS, Rogéria da Conceição Muianga" e sublinha que "a decisão, que tem efeitos imediatos, surge no quadro dos últimos acontecimentos na instituição, relacionados com a sua gestão".

A decisão de Helena Taipo surge dias depois do anúncio do envio à Procuradoria-Geral da República dos resultados do inquérito levado a cabo pela Inspeção das Finanças ao INSS, que pretendia apurar o grau de envolvimento de Rogéria Muianga e do presidente daquela instituição, Inocêncio Matavele, em casos de suposta gestão danosa do património do INSS.

Falando aos jornalistas sobre os procedimento, o ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang, afirmou há dias que a inspeção levada a cabo pela sua instituição produziu resultados que indiciam os visados de ações passíveis de procedimentos disciplinar e criminal, assinalando, no entanto, que para cada caso será solicitada a intervenção das autoridades competentes.

Os problemas de gestão de fundos de pensão do INSS foram divulgados após o Conselho de Administração da instituição ter adquirido um imóvel para o respetivo presidente no valor de um milhão de dólares.

Outra fonte de suspeição de eventual má gestão das verbas foi a adjudicação de uma empreitada avaliada em 217 mil euros para a reabilitação duma moradia, algures na cidade da Matola, destinada à diretora-geral da instituição, agora destituída.

MMT.

Trio artístico luso-alemão cria "floresta" com obras de arte

05 de Agosto de 2012, 09:11

Maputo, 05 ago (Lusa) -- Uma "floresta" construída com obras esculpidas, pintadas e sonorizadas é a proposta de um coletivo artístico luso-alemão, que apresenta, até ao final do mês, a instalação ´Um Passo Com Unha`, no Instituto Camões , em Maputo.

Há dois anos, Ídasse Tembe, pintor moçambicano, Volker Schnuttgen, escultor alemão, e Victor Gama, músico angolano, plantaram a ideia de um trabalho conjunto, tendo como ponto de partida as valências artísticas de cada um dos autores.

"O projeto começa com a escultura, que é o primeiro ´Passo Com Unha`. O segundo, foi a resposta do Ídasse sobre a escultura, trabalhando uma linguagem própria, e transformando-a numa obra totalmente diferente", diz à Agência Lusa Volker Schnuttgen.

Ao trabalho dos dois artistas juntou-se o toque musical de Victor Gama, que, "via documentação fotográfica", compôs uma banda sonora para a instalação.

O resultado é uma "floresta" com mais de 10 peças esculpidas em madeira de chanfuta (espécie local), que foram cobertas de "cores realmente muito fortes", e que têm sistema de som incorporado.

"À partida, foi concebido que o som seria parte integrante desta floresta. É como se estivéssemos a andar na floresta, e, a cada passo que se dá, produz-se som. O som é parte integrante e faz parte da vida das esculturas", explica à Lusa Ídasse Tembe.

"Ele (Victor Gama) disse que tentou esculpir o som. Acho que isso se percebe quando se ouve o som dentro da instalação", acrescenta Schnuttgen.

O processo artístico de criar a seis mãos "surpreendeu" positivamente os mentores do projeto, até porque, desde o início, existia um "ideal comungado por três pensamentos".

"É sempre uma aventura, porque, no fundo, não sabemos como vai o outro reagir. Estou muito surpreendido com os resultados", diz Schnuttgen.

"Considero a peça como uma ação consequente de todo um ideal comungado por três pensamentos. Na altura que começou a escultura, também começou a pintura, da mesma forma que a banda sonora", observa Tembe.

Depois de apresentada ao público a primeira fase do projeto, o coletivo artístico pretende realizar "uma exposição itinerante", na qual irão constar novas peças.

Por enquanto, a mostra "Um Passo Com Unha", que integra a 5.ª bienal de Arte Contemporânea de Moçambique, está em exposição no Instituto Camões até ao dia 31 de agosto.

ENYP

*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG

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