sábado, 19 de janeiro de 2013

Comando político-militar colonial na origem da morte de Cabral - Pedro Pires




JSD – JPF - Lusa

Cidade da Praia, 19 jan (Lusa) - O Comando Político-Militar Colonial montou uma campanha "insidiosa" e usou "intriga política" para tentar afastar cabo-verdianos e guineenses durante a luta de independência da Guiné e Cabo Verde, abrindo caminho ao assassínio de Amílcar Cabral.

A afirmação foi feita sexta-feira à noite pelo ex-presidente cabo-verdiano Pedro Pires (2001/11), na abertura do Fórum Amílcar Cabral, organizada pela fundação homónima e presidida pelo também antigo comandante da Frente Sul na guerra de libertação e primeiro primeiro-ministro do Cabo Verde independente (1975/91).

"É preciso ter em mente que as guerras coloniais versus guerras de libertação nacional apresentam várias facetas: a militar, a política, ideológica e psicológica, a de conspiração, subversão e desinformação, de intoxicação ideológica, de espionagem, de assassínios e de golpes sujos", começou Pedro Pires, falando da sua vivência pessoal.

Sem explicitar nomes, nem responder à questão que domina os debates do Fórum, quem mandou matar Cabral, Pedro Pires lembrou que é "nesse contexto de guerra, conspiração e métodos criminosos e repressivos coloniais" que se deve entender o recurso ao assassínio de Amílcar Cabral, abatido a tiro a 20 de janeiro de 1973.

"Um dos argumentos de intriga política dos conspiradores e assassinos era que os cabo-verdianos teriam um tratamento privilegiado no PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde)", afirmou.

Aludindo, sem nomear, aos "homens da pena ao serviço dos restos ideológicos do poder imperial", Pedro Pires salientou que ainda recentemente tentaram "desresponsabilizar e branquear os crimes dos seus chefes coloniais", que, na sua opinião, se "converteram em heróis serôdios".

"Não há lugar para confusão. No quadro da guerra psicológica, intoxicação, diversão e desinformação, o CPMC, não confundir com Portugal e com os portugueses, montou uma insidiosa campanha contra os funcionários e os cabo-verdianos na Guiné", afirmou.

Essa campanha, prosseguiu, tinha um "intuito perverso e cínico" de confundir a opinião guineense, alijar responsabilidades e de tentar transferir para os cabo-verdianos e para Cabo Verde as responsabilidades dos crimes e desmandos que "foram e são da responsabilidade do colonizador e do colonialismo português".

"Na repressão colonial, muitos agricultores e pequenos empresários de origem cabo-verdiana foram assassinados e outros presos e deportados por envolvimento com o PAIGC. Naquela fúria repressiva, várias personalidades cabo-verdianas foram presas, torturadas e deportadas para as masmorras da PIDE, em Portugal", salientou.

No seu entender, a partir de 1970, as campanhas militares "desesperadas" do CPMC, na tentativa de reverter a seu favor o estado de equilíbrio militar "já em declínio", conjugadas com a propaganda lusa no "Por Uma Guiné Melhor", não deixaram margem para dúvidas.
"O recurso ao assassínio do líder do PAIGC insere-se na busca de uma saída para o grave dilema em que vivia o poder colonial. (?) Nada melhor do que decapitar o PAIGC, solução já experimentada em outras guerras coloniais. Reside aí a razão principal de avançar com a operação do assassínio de Cabral pelos serviços secretos portugueses e por seus homens de mão", sustentou.

Para Pedro Pires, em novembro de 1970, o CPMC fracassou "vergonhosamente" (Operação Mar Verde) na tentativa de provocar a mudança de regime na Guiné-Conacri, destruir as instalações do partido em Conacri e assassinar os dirigentes do PAIGC.

"Esses desaires, conjugados com os riscos eminentes de um colapso militar e do afundamento do império colonial, obrigaram-no a ir mais longe na sua miopia política e na ação criminosa e recorreu decididamente ao assassínio do lúider do PAIGC", rematou.

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