William Tonet – Folha 8, 26 outubro 2013 (clicar imagem para ampliar)
Hoje não sei se
escrevo ou passo apenas uns rabiscos para exteriorizar sentimentos vários
que atravessam a minha mente desde o passado 15.10, por ocasião do discurso do
Presidente da República sobre o Estado da Nação, feito na Assembleia Nacional
perante os deputados eleitos em 2012 e a Nação.
Depois de ter feito
um balanço mais profundo a propósito daquilo que de relevante foi dito pelo
Presidente não resisti à tentação de abordar neste espaço de leitura o cinismo
de muitos dirigentes angolanos nessa espécie de alarde jubilatório a perturbar
a quietude da pretensa estabilidade política Jesiana, semelhante a uma quase
masturbação geral, quando JES falou do fim da parceria estratégica com
Portugal.
De que parceria
estava o Presidente a falar? Da dos ricos dos dois países? Dos ricos que integram
os dois governos? Dos povos? Não percebi….
E, então, eu
pensei, deve ser a parceria estratégica entre os antigos proletários comunistas
angolanos, que no regime monopartidário prendiam e até matavam quem portasse
a nota de 1 dólar, e transformaram-se, do dia para a noite, em proprietários
mais vorazes que os antigos capitalistas e imperialistas. A parceria
estratégica que foi abordada e ameçada de morte, durante o dia, foi, no mesmo
dia à noite renovada e regada com champanhe de sangue, entre os milionários de
uma riqueza “ilicitamente suspeita” e os Américo Amorim, Belarmino de Azevedo,
Soares da Costa, Joaquim Oliveira, Mota e Companhia, entre outros capitalistas
portugueses.
Não houve o fim da
parceria estratégica entre a UNITEL de Isabel dos Santos, com a Portugal
Telecom, tão pouco com a Zon Optimus, ou a Galp Energia, o BPI, o BFA, entre
outros negócios da nossa bilionária princesa.
O fim da parceria
estratégica é apenas um “fait diver” para iludir a raia miúda, pois se fim
houver, será o principio de penalização aos pequenos e médios empresários das
duas margens do Atlântico, que investem no desenvolvimento, com os seus parcos
recursos e não bajulem o regime de Luanda. Eu, mesmo ingenuamente, não consigo
dar o benefício da dúvida, pois em jogo, estão mais de 500 milhões de investimentos
de milionários de altos dirigentes do regime angolano, no imobiliário e outros
empreendimentos em Portugal.
A essa tirada
calculada nas oficinas do Futungo seguiu-se a inevitável e frenética corrida
dos arautos da cegueira política angolana, para sublinhar o facto de Angola
ser um país rico que está a ajudar Portugal a sair da crise, o que liminarmente
é mentira, pois o petróleo não é e nunca será sinónimo de riqueza quando mal
utilizado. Portugal não tem petróleo mas tem, em relação a Angola, mais
riqueza, patente numa muito melhor distribuição em favor da sua população,
embora também esteja longe se ser um exemplo de boa governação.
Angola diz ser um
país rico que não precisa de Portugal, mas nesta asserção esquece-se o
essencial, perde-se de vista aquilo que não temos e lá vamos buscar, como a
Educação. É cinismo puro, pois o próprio presidente da República e todos os
seus ministros da Educação e não só, já tiveram e os filhos a estudar na
escola portuguesa, um estabelecimento de ensino, cujas propinas são mais altas
que as cobradas nas universidades e, por isso mesmo, recebe no seu rol de
alunos uma esmagadora maioria dos filhotes dos dirigentes angolanos. E quando
não ficam em Luanda, um dos pontos preferidos é Lisboa ou Porto, onde nas suas
universidades e colégios estão muitos desses “filhos de papá” igualmente a
estudar. E quando damos a volta ao cenário que aqui descrevo, vemos que em
Angola não há praticamente nenhum filho de dignitários portugueses a estudarem
nas nossas universidades ou colégios… Por alguma coisa será...
Por outro lado,
vejamos o que se passa quando os mesmos ditos iluminados arautos angolanos
querem um parecer jurídico… Onde é que eles o vão buscar? Nem vale a pena
investigar, recorrem a Freitas do Amaral, Marcelo Rebelo de Sousa, Gomes
Canotilho e outros intelectuais lusos, avençados ou afectos ao actual regime
angolano, entre outros da mesma igualha.
Passemos agora ao
que se passa no dia-a-dia, nas sua correrias e momentos de lazer. Os
restaurantes, por exemplo, em Angola estão cheios de portugueses, bem como as
grandes casas arrendadas, assim como no afluxo aos supermercados, e basta ir ao
Kero, Maxi, Jumbo, Martal, etc, por volta das oito e meia da manhã para ver a
quantidade de lusos no seu interior.
Contrariamente ao
que se passa na nossa terra, em Portugal, um país em crise, os restaurantes e
supermercados estão cheios de… portugueses, pese embora a terrível crise que
abalou o país e cujos maléficos efeitos se repercutem sobre os estratos mais
baixos da sua população
Voltemos a Angola.
Como é possível
defender a ideia de sermos ricos se a maioria dos angolanos, mesmo com um nível
alto de escolaridade, não consegue ir a um restaurante?
Como podemos nós
ser ricos, quando o poder manda ao desemprego milhares de jovens para colocar
no seu lugar estrangeiros?
Quem são os sócios
dos dirigentes angolanos? São portugueses. Quantos genros têm esses mesmos
dirigentes portugueses? Muitos.
Nessa história das
relações com Portugal os dirigentes angolanos deveriam deixar de ser cínicos e
lançar os pobres dos dois lados em situação de incitamento a guerras. Eu, como
angolano, tenho vergonha do muito que ouvi, pois os principais agitadores são
aqueles que, noite vinda, falam e dormem a contar os milhões surripiados ao
erário público com contabilistas e financeiros da sua confiança portugueses.
Olhemos para as
suas festas, para ver quem são os que por aí se divertem?
E não será que, ao
alargarmos a nossa visão, reparamos que os portugueses sentem-se em casa quando
vêm para Angola e que os angolanos, embora sejam recebidos com muito mais
frieza do que os portugueses que se instalam no nosso país, é para Portugal que
anseiam ir? Ora isso ultrapassa, a meu ver, as coordenadas do “dicktat” de JES,
quando manipulou a noção de “parceria estratégica”, que, de muito longe o
ultrapassa.
Basta abrir os
olhos e ver, não só tudo o que aqui atrás referi, mas também os milhões, os
famosos milhões de dólares em posse da Jet Set angolana…Mas onde “diabo” é que
ela, a Je(s)t Set, esconde os seus milhões que se contam por milhares de
milhões? Basta avaliarmos, o que é um pouco mais do que simplesmente ver, onde
a maioria dessa gente da JES’T SET tem grandes mansões e contas bancárias: na
União europeia em geral, particularmente em Portugal.
Bem vistas as
coisas, o que JES quis neste triste discurso foi lançar a primeira pedra da
legitimação de roubos de que são acusados alguns filhos, parentes e
compadres.
JES falou da
pobreza, mas esqueceu-se dos pobres, sem dizer nada a não ser aquilo que serviu
de alicerce ao seu discurso, ou seja, algarismos, contas de somar e de sumir
sem referência alguma a qualquer estudo identificado e credível, portanto e em
suma, estatísticas de geometria variável (como essa dos pobres angolanos, que
vamos lutar para atingir o patamar de 35% da população em estado de extrema
pobreza, quando o mesmo patamar já tinha sido ultrapassado, mas só da boca pra
fora, aquando da entrevista da SIC)… Resumindo, JES assegurou que o Estado da
Nação é óptimo e recomenda-se e quanto a Portugal, com a sua tara de separação
de poderes, Portugal que se cuide.
Mas, como já
comentámos, não é possível defender a ideia de que dos Santos pretenda cortar,
de todo e no seu tudo, os tratados com os seus melhores parceiros e cúmplices
em estratagemas e esquemas opacos.
Mas vamos para os
números, para ver se os bajuladores continuam com o nariz empenado. O PIB per
capita de Angola, coloca o país, em 139.º lugar, pese a tal propalada riqueza,
baseada no petróleo, com USD 6.000,00 dólares, por cidadão, enquanto Portugal,
que se diz ser um país pobre, não ter, na realidade, não tem, petróleo e outras
parangonas se encontra em 55.º lugar com USD 23.700, 00/cidadão.
Noutro extremo, a
expectativa de vida dos angolanos é de 48,4 anos, contra os 79,2 anos dos
portugueses e a taxa de mortalidade infantil em Angola é por 114,9 óbitos por
mil, enquanto Portugal queda-se em 2,5, registando uma taxa menor de
mortalidade.
É contra este
cinismo que me bato, hoje, aqui e agora, para que possa ter higienicamente
limpa a minha mente.
Estamos juntos.
Sem comentários:
Enviar um comentário