segunda-feira, 23 de junho de 2014

AMÉRICA LATINA 5 – EUROPA 0



Tomás Vasques – jornal i, opinião

Só depois de Outubro, se conseguirá avaliar os estragos que este demorado processode clarificação provocou no Partido Socialista e, sobretudo, no eleitorado

1 - Em tempos de futebol, falemos de futebol. No mundial a decorrer no Brasil, a Europa tem sido uma sombra de si própria, cinzenta e deprimida, como quem anuncia a sua decadência. Acontece no futebol, tal como acontece na economia. Com os jogos já realizados, dizem no Brasil, que a América Latina está a ensinar a Europa a jogar futebol. Mais: está a ensinar, também, como o sonho, a esperança e a alegria se transformam em vitórias. O Chile atira para fora da competição, ao segundo jogo, a poderosa selecção de Espanha - a titular do troféu. O Uruguai fez o mesmo à Inglaterra, enquanto a Costa Rica, o "parente pobre" deste grupo, já está apurado para a fase seguinte, deixando a Itália com um ataque de nervos, sem saber ainda se passa esta primeira fase. A Colômbia deixou a Grécia a fazer contas ao apuramento. Sem esquecer as derrotas da Bósnia e da Croácia aos pés da Argentina e do Brasil. Por distracção ou ilusão de que a Europa ainda é o umbigo do mundo, poucos reparam, por exemplo, no dinamismo económico da Aliança do Pacífico, uma plataforma de integração económica que reúne Chile, Colômbia, México e Peru, e cuja taxa de crescimento é mais do que tripla da Zona Euro. A última conferência de presidentes dos quatro países, realizada esta semana, que no seu conjunto representam 35% do PIB latino--americano, aprovou a estratégia de expansão económica e comercial para a Ásia, Austrália e Nova Zelândia. Até os países do Mercosul, com o Brasil como motor, apesar da estagnação económica dos últimos tempos, da turbulência na Argentina e da situação económica desastrosa na Venezuela, mantêm um crescimento económico superior à Zona Euro. Até ao fim do mundial poderemos ainda assistir a mais surpresas (no momento em que escrevo esta crónica ainda não sei se Portugal já está a fazer as malas ou se renovou a esperança). Contudo, esta primeira fase já marcou uma tendência: a decadência da Europa. No futebol e no resto.

2 - Depois da reunião da comissão nacional do PS realizada ontem, já é praticamente definitivo que António Costa e António José Seguro só disputarão a liderança dos socialistas em fins de Setembro. Apesar do futebol e das férias de Verão, esta prolongada campanha eleitoral, a avaliar pela agitação na reunião da distrital de Braga e pelo ambiente de faca na liga que passa nas redes sociais, vai deixar profundas marcas no maior partido da oposição. Por outro lado, o que vai estar em causa no confronto de 28 de Setembro é a escolha do "candidato a primeiro-ministro". Esta solução "mágica" que o actual secretário-geral encontrou para retardar o máximo possível a inevitável disputa pela liderança, a pretexto de poder ter tempo suficiente para desfazer o "messianismo" com que António Costa se apresenta, ainda carece do cumprimento da palavra de António José Seguro, segundo a qual se demite do cargo de secretário-geral em caso de derrota. Só depois, a partir de Outubro, se conseguirá avaliar os estragos que este demorado processo de clarificação provocou no partido e, sobretudo, no eleitorado que observa à distância e sem emoções à flor da pele estes enredos partidários.

3 - Estes últimos três anos, de violento empobrecimento da maioria dos portugueses, tanto através do aumento de impostos, como nos cortes em salários e pensões de reforma, com o pretexto infame de "terem vivido acima das suas possibilidades", não fez recuar a perversa promiscuidade entre o poder político e os bancos. Foi esta promiscuidade, que envolve personalidades dos três partidos do "arco da governação", traduzida em contratos tóxicos, sejam swaps ou PPPs, que em grande parte nos conduz até aqui. O BES, agora em turbulência, propôs para chairman o influente deputado do PSD Paulo Mota Pinto. Pelos vistos, a bagunça continua.

Jurista, escreve à segunda-feira

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