segunda-feira, 23 de junho de 2014

Copa2014: PORTUGAL FEZ TUDO EM CIMA DO JOELHO




A humidade só piorou a ferrugem. Uma equipa sem pernas empatou no limite contra os EUA. Só um milagre matemático poderá levar Bento e os seus aos oitavos-de-final.

Pedro Candeias, enviado ao mundial do Brasil – Expresso – fotos EPA

Não é a coisa mais bonita de dizer-se mas a verdade é que gosto de estereótipos. Gosto sobretudo quando estou em trabalho e quero perceber de onde vem aquele tipo que quero abordar: ele é assim, assado, magro, gordo, alto, baixo, moreno, loiro. Seja lá o que ele for, encaixo-o sempre nalgum sítio e rapidamente faço um scan mental para meter conversa. E falho. Não sempre, embora mais vezes do que as que acerto e é o estereótipo que me leva ao engano – mas mesmo um engano pode ser o começo de uma historieta.

Esta começa com Cristiano Ronaldo, o português que não é português porque não se enquadra em nenhum dos estereótipos da portugalidade – talvez seja por isso que causa a urticária que leva uma liga como a norte-americana a publicar 17 coisas pelas quais o devíamos odiar. Ora bem, Cristiano é confiante, egoísta, às vezes arrogante, tem uma namorada russa top-model, conta os golos que marca e os milhões que ganha. É um goleador milionário que trabalha muito. E não tem bigode. Não é de Portugal.

Mas apesar de tudo, Cristiano não deixa de ser português e, como todos nós, faz tudo em cima do joelho. No caso dele, de um joelho, o direito, porque o esquerdo está tendinoso como sabemos. Infelizmente para Portugal, que procurou cavalgar o Mundial sobre as pernas de um futebolista apenas.

O FÍSICO QUE FOI DE ADÓNIS

Portugal esteve coxo, aleijado, manco – admito outro adjetivo - e a saída de Postiga (Éder, 16’) depois do 1-0 de Nani (5’) foi um exemplo flagrante mas também dramático. Porque se antes já Rui Patrício, Hugo Almeida e Fábio Coentrão tinham obrigado Bento a mudar caras no seu onze fetiche, as lesões de Postiga e, depois, de Almeida (William, ao intervalo) reforçaram a ideia de que até os arames que seguravam os jogadores estão oxidados. E a humidade só piorou a ferrugem.

Jogar aqui em Manaus onde só por respirar já se está a suar, não era fácil para ninguém mas pareceu muito mais difícil para os portugueses do que para os americanos. Os yankees, um projeto-piloto de Jürgen Klinsmann, foram sempre mais rápidos, coesos e agressivos e energéticos; os lusos, um projeto-a-precisar-de-renovação, foram sempre lentos, desligados e moles. A tática foi estática e a explosão foi implosão. A defesa longe do meio-campo e o meio-campo longe do ataque e todos juntos a leste do que alguma vez foi o paraíso português. Dizer que foi fraco seria eufemismo; ridículo é mais ajustado.

Só algumas defesas de Beto, o pouco jeitinho dos americanos (salvam-se Dempsey e Bradley) e o joelho esquerdo (claro) de Ricardo Costa adiaram que a bomba-relógio lhes implodisse na mão - até ao morteiro de Jermaine Jones (64’). Houve uma reação à homenzinho como Paulo Bento pedira, mas as pernas e a cabeça estavam no fim de linha, não da linha de golo, mas da vida. A anca de Dempsey quase matou Portugal. A testa de Varela deixou-o ligado à máquina. De calcular.

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