A
humidade só piorou a ferrugem. Uma equipa sem pernas empatou no limite contra
os EUA. Só um milagre matemático poderá levar Bento e os seus aos
oitavos-de-final.
Pedro
Candeias, enviado ao mundial do Brasil – Expresso – fotos EPA
Não
é a coisa mais bonita de dizer-se mas a verdade é que gosto de estereótipos.
Gosto sobretudo quando estou em trabalho e quero perceber de onde vem aquele
tipo que quero abordar: ele é assim, assado, magro, gordo, alto, baixo, moreno,
loiro. Seja lá o que ele for, encaixo-o sempre nalgum sítio e rapidamente faço
um scan mental para meter conversa. E falho. Não sempre, embora mais vezes do
que as que acerto e é o estereótipo que me leva ao engano – mas mesmo um engano
pode ser o começo de uma historieta.
Esta
começa com Cristiano Ronaldo, o português que não é português porque não se
enquadra em nenhum dos estereótipos da portugalidade – talvez seja por isso que
causa a urticária que leva uma liga como a norte-americana a publicar 17 coisas
pelas quais o devíamos odiar. Ora bem, Cristiano é confiante, egoísta, às vezes
arrogante, tem uma namorada russa top-model, conta os golos que marca e os
milhões que ganha. É um goleador milionário que trabalha muito. E não tem
bigode. Não é de Portugal.
Mas
apesar de tudo, Cristiano não deixa de ser português e, como todos nós, faz
tudo em cima do joelho. No caso dele, de um joelho, o direito, porque o
esquerdo está tendinoso como sabemos. Infelizmente para Portugal, que procurou
cavalgar o Mundial sobre as pernas de um futebolista apenas.
O
FÍSICO QUE FOI DE ADÓNIS
Portugal esteve coxo, aleijado, manco – admito
outro adjetivo - e a saída de Postiga (Éder, 16’ ) depois do 1-0 de Nani (5’ ) foi um exemplo flagrante mas
também dramático. Porque se antes já Rui Patrício, Hugo Almeida e Fábio
Coentrão tinham obrigado Bento a mudar caras no seu onze fetiche, as lesões de
Postiga e, depois, de Almeida (William, ao intervalo) reforçaram a ideia de que
até os arames que seguravam os jogadores estão oxidados. E a humidade só piorou
a ferrugem.
Jogar
aqui em Manaus onde só por respirar já se está a suar, não era fácil para
ninguém mas pareceu muito mais difícil para os portugueses do que para os
americanos. Os yankees, um projeto-piloto de Jürgen Klinsmann, foram sempre
mais rápidos, coesos e agressivos e energéticos; os lusos, um
projeto-a-precisar-de-renovação, foram sempre lentos, desligados e moles. A
tática foi estática e a explosão foi implosão. A defesa longe do meio-campo e o
meio-campo longe do ataque e todos juntos a leste do que alguma vez foi o
paraíso português. Dizer que foi fraco seria eufemismo; ridículo é mais
ajustado.
Só
algumas defesas de Beto, o pouco jeitinho dos americanos (salvam-se Dempsey e
Bradley) e o joelho esquerdo (claro) de Ricardo Costa adiaram que a
bomba-relógio lhes implodisse na mão - até ao morteiro de Jermaine Jones (64’ ). Houve uma reação à
homenzinho como Paulo Bento pedira, mas as pernas e a cabeça estavam no fim de
linha, não da linha de golo, mas da vida. A anca de Dempsey quase matou
Portugal. A testa de Varela deixou-o ligado à máquina. De calcular.
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