João
Galamba – Expresso, opinião
Em
2014, ao fim de três anos de recessão, a economia portuguesa terá crescido
0.9%. Depois de uma queda no PIB de cerca de 5%, mais preocupante do que uma
taxa de crescimento anémica é a sua composição. Apesar de ainda só conhecermos
a estimativa rápida do INE, os dados disponíveis permitem-nos antecipar
que o Consumo Privado vai crescer a uma taxa que será cerca de duas vezes
superior à taxa de crescimento do PIB, e que a Procura Externa Líquida (a
diferença entre Exportações e Importações) será bastante negativa. De acordo
com o discurso da actual maioria, este crescimento económico, para além de ser
reduzido, é totalmente insustentável, porque assenta exclusivamente na procura
interna, em particular no consumo privado.
A
taxa de crescimento de 0,9% é significativamente inferior à média anual de 1,5%
verificada no período 2000-2007, anterior à grande crise de 2008-9. Para além
da taxa de crescimento ser mais baixa do que na (chamada) "Década
Perdida", a composição desse crescimento parece ser menos sustentável do
que era no passado. Olhemos para 2010, o ano de todos os défices, o ano do
"descalabro". Nesse ano a economia cresceu 1.9%, mais do dobro do que
em 2014, mas o contributo da procura externa líquida , embora negativo, foi
muito menos negativo do que em 2014.
Se
o actual padrão de crescimento se mantivesse, Portugal só voltaria a ter os
valores de emprego de 2010 quando atingisse um défice da balança de bens e
serviços pior do que em 2010. Portugal só não tem um défice da balança de bens
e serviços igual ao desse ano porque, entretanto, destruiu mais de 350 mil
empregos líquidos. É a destruição de emprego e a queda da procura interna, face
a 2010, que explicam a existência de um saldo externo (decrescentemente)
positivo, não qualquer alegado ganho competitivo. O ajustamento é, pois, apenas
conjuntural: depende de níveis de emprego, de consumo e de investimento típicos
de um país em depressão económica.
Quando
pomos os dados de 2014 em perspectiva, percebemos que, em primeiro lugar,
Portugal não está a viver qualquer retoma, está apenas a constatar que a
travagem na austeridade - imposta ao Governo pelo Tribunal Constitucional e
pelo aproximar das eleições - produz efeitos positivos na economia. Em segundo
lugar, tudo parece indicar que o esse crescimento, para além de anémico, não
tem bases mais sustentáveis do que as do passado.
Chegados
a 2015, constamos que a economia portuguesa tem exactamente os mesmos problemas
que tinha: cresce pouco, até menos do que no passado, e não consegue crescer
sem que as importações disparem. Entretanto, o Investimento Estrangeiro, o tal
que viria salvar uma economia descapitalizada, tendo em conta as últimas
notícias, não parece dar sinais de vida. Este governo limitou-se a destruir e a
fazer ajustamentos que, por serem social e economicamente insustentáveis, têm
forçosamente de ser conjunturais.
Sem comentários:
Enviar um comentário