quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Fernando Henrique Cardoso: Governo português está despreocupado com situação social

 

Económico - Lusa
 
Ex-presidente do Brasil, Henrique Cardoso, diz que os governantes portugueses "não estão preocupados" com "a situação social".
 
Em entrevista à agência Lusa, o sociólogo e político recordou como, quando estava à frente da presidência brasileira, conviveu de perto com o Fundo Monetário Internacional (FMI), mas sem nunca descurar a situação social.
 
"Em pleno FMI, nós fizemos as bolsas para as camadas mais pobres do Brasil (...), fizemos uma política continuada de aumento do salário mínimo. Nunca deixamos de ver a situação social, nós equilibramos", sublinha.
 
Para Fernando Henrique Cardoso, a diferença é que em Portugal já se parte "de um patamar social mais elevado" e os líderes políticos "parece que não estão preocupados" com os efeitos sociais das medidas de austeridade e "querem só que aperte o cinto".
 
Em Portugal, e noutros países, tudo começou com uma crise nos bancos, que "estão rebentados" e "passaram a sua dívida para os governos", gerando "défice".
 
"É uma situação difícil e tem pouco horizonte de crescimento económico", estima o ex-Presidente brasileiro.
 
Para resolver a situação, vai ser necessária "flexibilização", concretamente a criação de "um enorme fundo que compre as dívidas, dê um prazo maior para o pagamento e baixe as taxas de juro", diz. Mas, para já, os bancos centrais "têm medo de, ao fazer isso, os países não fazerem nenhum esforço fiscal".
 
O "jogo" actual - resumiu o ex-chefe de Estado, que cumpriu dois mandatos (oito anos) à frente dos destinos do Brasil - é que os bancos "estão dizendo 'façam primeiro o esforço que depois nós damos o dinheiro'", ao que as pessoas respondem "'como é que eu vou fazer o esforço se não tenho mais de onde tirar?'".
 
"É um equilíbrio difícil. Alguns apostam - é o caso de Portugal - em que, fazendo esse esforço, vai ter êxito, porque [as medidas impostas] vão afrouxar. Outros, como a Grécia [dizem que] não vai dar para fazer esforço nenhum mais", distingue, sem tomar partido, mas com uma certeza: "Não acho que isso se resolva nem depressa nem sem um grande acordo financeiro".
 
Também só se resolverá quando a classe política perceber a importância de se mobilizar em torno de "uma agenda nacional".
 
Mas não é isso que está a acontecer, em Portugal e noutros países europeus. "A classe política, nessa hora, fica atónita, porque ela depende do voto e não pode dizer para o eleitor que vai apoiar o aperto", mas, por outro lado, "sabe que algum aperto tem que ter", analisa Fernando Henrique Cardoso.
 
Nesta "espécie de teatro de marionetas", em que "um diz uma coisa e outro diz outra", não se chega ao "mais razoável", um compromisso nacional. "Nesse sentido, falta liderança, falta grandeza", considera.
 

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