quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Portugal: A HORA DE CAVACO

 

Eduardo Oliveira Silva – i online, opinião
 
Ontem Cavaco Silva falou sem dizer nada de substancial
 
Não vale a pena iludir o assunto. O Presidente da República tem nestes dias um papel decisivo, ainda mais depois de ontem ter recebido um António José Seguro em absoluta ruptura institucional com o governo.
 
Horas depois o Presidente da República rompeu o silêncio, mas em bom rigor não disse nada de concreto sobre o que tenciona fazer com a questão essencial que está em cima da mesa: o Orçamento do Estado.
 
Cavaco Silva foi até extremamente cauteloso ao afirmar que é um assunto de grande relevância, que deve ser analisado em função de estudos e não de palpites. Ou seja, não abriu jogo.
 
Outra coisa não seria de esperar, como também não se esperaria que o chefe de Estado caísse na tentação de, também ele, misturar o “sound bite” da refundação com a substância matricial que tem o Orçamento.
 
É um facto que, ao contrário de todos os seus antecessores eleitos, Jorge Sampaio, Mário Soares e Ramalho Eanes, o actual chefe de Estado tem evitado tomar posições de qualquer natureza relativamente à crise e à governação.
 
Como se verificou quando aguentou o governo Sócrates para além de todos os limites, o actual Presidente tem optado por assumir uma postura que mais o remete para o papel de um chefe de Estado emanado do Parlamento.
 
No entanto, até alguns desses conseguem ter um papel activo e nevrálgico, como se viu na Itália, com o procedimento de Napolitano ao apoiar Monti e tirar o tapete a Berlusconi.
 
Os dias que correm são complexos, difíceis e dramáticos para os portugueses, e por muito que se compreenda que o chefe de Estado é um último reduto e, simultaneamente, o primeiro e mais importante símbolo da nação, o que o obriga a gerir silêncios, importa também recordar-lhe que foi eleito e reeleito com a expectativa de ser um guia e uma referência e não alguém condicionado.
 
Não se nega que ultimamente Cavaco tenha estado na primeira linha para evitar uma crise política. Ninguém lhe recusa também a existência de um trabalho de bastidores em algumas outras matérias sensíveis.
 
É certo ainda que o mundo, a vida, as opções não têm só o preto e o branco e que o papel de um chefe de Estado tem de ter em consideração muitas variáveis. Mas não é menos certo que há situações em que tem de tomar uma posição a favor ou contra determinada opção política, explicando claramente porquê.
 
Assim, quando dentro de dias receber o Orçamento, Cavaco Silva deve esclarecer totalmente o fundamento de qualquer das três decisões possíveis e que dividem a sociedade portuguesa nesta altura (assinar e concordar, remeter para o Tribunal Constitucional ou vetar, hipótese que não se põe), de forma que se perceba se dá ou não cobertura à actual política do governo.
 
Se assim não fizer, corre o risco de se deixar confundir com aqueles presidentes das assembleias-gerais que se limitam a abrir e fechar sessões sem nelas nada mandar.
 
Na política, para fazer isso, já temos o presidente da Assembleia da República, tarefa sempre exercida por pessoas estimáveis e simpáticas, mas com um papel mais decorativo do que activo.
 

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