domingo, 20 de janeiro de 2013

Portugal: CAI OU NÃO CAI?




Paulo Baldaia – Diário de Notícias, opinião

O PS pode querer, mas o que sabemos é que o Governo só cai se o CDS sair da coligação ou se o Presidente dissolver a Assembleia. E sabemos também que Portas se mantém no Governo por "patriotismo", enquanto Cavaco se reafirma avesso a crises políticas.

Aqueles de quem depende a sobrevivência deste Executivo já se afirmaram disponíveis para manter o statu quo e isso significa que qualquer teoria sobre o fim antecipado da coligação não precisa de perder tempo com o que pensa o PS. Acontece que os socialistas acreditam que o Governo tem fortes probabilidades de não chegar ao Natal. Olhemos para o que pode ser complicado de gerir:

1 - a rua pode voltar a ficar complicada com a contestação ao plano para cortar 4 mil milhões na despesa pública.

2 - a execução orçamental na primeira metade do ano pode mostrar que o défice de 4,5% não será conseguido sem medidas extraordinárias.

3 - o Tribunal Constitucional pode declarar que há normas do orçamento que não estão de acordo com a lei fundamental.

4 - em Outubro, pode haver um desastre eleitoral da coligação que reduza a soma dos votos dos dois partidos abaixo dos 30%, dando ao PS o que ele precisa (uma grande vitória) para se mobilizar como alternativa de governo.

Com estas quatro coisas a acontecer, já não será apenas a vontade de Portas ou de Cavaco a determinar o futuro do Governo. Passos Coelho também ficará obrigado a pensar no assunto. Aliás, perante a eventual concretização deste cenário, alguém no seu perfeito juízo pode considerar que a convocação de eleições antecipadas é criar uma crise política? Não, não é. É constatá-la e resolvê-la da forma democraticamente mais lógica.

Mas, até porque vivemos uma situação de emergência, a Democracia prevê uma outra solução. Um governo de iniciativa presidencial, que junte o melhor dos partidos e da sociedade civil, não pode ser visto como um capricho de Cavaco. Teria de ter o apoio de uma larga maioria, é algo quase impossível de pôr de pé, mas, para evitar que isto fique pior do que na Grécia, um governo destes não pode ser excluído por preconceito político.

Mas nestas contas também tem de entrar o que pode ser favorável ao Governo. O País pode conseguir cumprir o principal objectivo do memorando e regressar aos mercados em boas condições, mudando assim a percepção de uma parte significativa dos eleitores. Encontrar financiamento para a nossa economia será uma grande vitória da dupla Passos/Gaspar e o desastre eleitoral das autárquicas pode não acontecer. Neste cenário, o Governo reforçará as condições para cumprir a legislatura e quem pode vir a ter de arrepiar caminho será o líder do PS, que aposta tudo na antecipação das eleições.

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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