Fernando Gomes –
Jornal de Notícias, opinião
Definitivamente, as
coisas estão feias para o Norte do país. Sendo certo que a generalidade dos
portugueses está a viver o seu pior tempo depois do 25 de Abril, é evidente que
a situação tem vindo a ficar ainda mais difícil para os que vivem na região norte.
Acresce que não se vislumbra, por parte de quem nos governa, qualquer atitude
para corrigir o ritmo deste declínio. Bem pelo contrário.
Rememorando o que
aqui tem acontecido, as decisões mais recentes demonstram a total indiferença
dos poderes públicos nacionais perante a degradação económica e social da
região.
Como pudemos
constatar há algumas semanas, através dos números publicados pelo Instituto
Nacional de Estatística, a riqueza produzida na Região Norte tem vindo a decair
perigosamente, a ponto de sermos hoje a mais pobre das regiões portuguesas,
Madeira e Açores incluídos. De pulmão da economia nacional, centro da indústria
transformadora e motor do crescimento, depressa passamos para a cauda do
pelotão. A coesão económica e social tão incensada em termos europeus, é em
Portugal uma miragem. Como já antes aqui referi, o fosso que nos separa da
região mais desenvolvida - a de Lisboa - tem vindo a aumentar em vez de se
atenuar. É claro que esta situação não aconteceu hoje.
Mas o que é por de
mais perturbante é a forma como se tem acentuado este agravamento nos últimos
tempos, sem que nada tenha sido feito para o evitar. Bem pelo contrário, a
preocupação aumenta quando nos damos conta da sobranceira indiferença com que a
situação é encarada por quem nos governa. Chego a pensar se esta não é uma
atitude deliberada para procurar diminuir a tradicional capacidade afirmativa
do Norte, mostrando o Governo, com a sua intransigência, que não se deixa
influenciar e que não cede a pressões. Não haverá melhor exemplo para o país do
que procurar calar quem tem visibilidade e abafar desde logo a reivindicação,
por mais justa que ela seja.
Senão, como se
entenderiam os conflitos com a Casa da Música, em que o Governo diz e se
desdiz, ou a incompreensível subalternização dos estúdios do Monte da Virgem da
RTP, tão profusamente referidos na Comunicação Social?
E como se tudo isto
não bastasse, aparece agora a inesperada proposta para serem introduzidas mais
16 portagens em ligações viárias, sendo que 14 delas se concentram no Norte do
país. São demasiados sinais de desnorte. Como muito bem diz Rafael Barbosa no
seu comentário de sexta-feira "chama-se a isto equidade, em versão
centralista".
Para se entender a
injustificável atuação do Governo, só há uma outra possibilidade - é ele não
ter uma linha de rumo para o país e andar à deriva. Tendo como único objetivo
cumprir as metas assumidas com a troika, corta onde pode e onde não pode, sem
curar das consequências e tenta esbulhar o último punhado de euros dos bolsos
de quem ainda os possa ter. À falta de um projeto para o país que nos faça
crescer e, por essa via, permita aumentar a receita fiscal, vale apenas o
programa dos credores.
O que mais assusta
é vermos que o Governo entende que está no bom caminho. As trombetas do
potencial sucesso de um défice perto dos 5% , mesmo que com receitas
irrepetíveis, já se fazem ouvir e ainda não sabemos se o conseguiremos. É
evidente que o controlo do défice é importante. Mas ele não pode ser atingido a
qualquer preço, como repetidamente se tem dito.
A luta política
sobe de tom. Sente-se que os portugueses estão no limite da sua capacidade de
resistência. O Partido Socialista, única alternativa visível de Governo,
aumentou esta semana a parada e fala objetivamente de eleições antecipadas,
pedindo maioria absoluta. Os partidos da coligação, por seu turno,
contra-atacam e desvalorizam a tomada de posição do PS argumentando que tal se
deve a lutas internas pela liderança (o que, se fosse verdade, o
descredibilizaria completamente).
O ambiente que se
vive no país é tudo menos calmo. O número e a importância das vozes que se
faziam ouvir contra uma possível crise política diminuiu a olhos vistos. Se o
país está mal, o Norte está pior. Mas uma coisa é certa - aconteça o que
acontecer, já nada temos a perder. Ao fim e ao cabo, qualquer alternativa será
sempre para nós um motivo de esperança.
Sem comentários:
Enviar um comentário