Henrique Monteiro –
Expresso, opinião em Blogues
A história não é
simples, mas tento contá-la. Um ex-ministro da Saúde dos governos de
Cavaco Silva, de seu nome Arlindo Carvalho (o qual tinha como currículo
uma passagem pela rádio pública), tornou-se, após ter saído do Governo num
bem-sucedido gestor numa empresa de nome Pousa Flores. Com o apoio do -
adivinhem - BPN comprou património e fez negócios, os quais, aliás,
passavam pela recompra do BPN de alguns ativos.
Acontece que o BPN,
devido às solicitudes por que passou (chamemos assim à vigarice, porque é
mais elevado) não comprou os tais ativos. E eis que o ex-ministro,
representando a empresa que fez os negócios vem pedir 53,6 milhões de euros ao
banco, segundo informa hoje o 'Correio da Manhã'.
Ao mesmo tempo, a
Justiça anda a investigar os negócios de Arlindo Carvalho na empresa, que
considera ruinosos, sendo que o ex-ministro é arguido no célebre
processo BPN.
Como sabem os
leitores, 53,6 milhões de euros não é quase nada. É assim uma conta que
eu levaria cerca de 800 anos a ganhar com o meu salário atual, que por sua vez
é considerado um salário muito elevado em termos fiscais. Mas, claro, não fui
ex-ministro nem tive qualquer negócio com o BPN.
E também não
tenho conclusões sobre esta história, salvo uma que tirei já há mais de quatro
anos, quando nacionalizaram o banco - deviam tê-lo deixado falir. Porque, como
já perceberam, acaso o ex-ministro conseguisse valer os seus direitos, seria o
dinheiro dos nossos impostos a pagar a coisa.
Por último, uma
palavra para os 1,1 mil milhões que o Estado colocou no Banif... Eu sei
que neste caso não houve vigarices, mas o princípio geral mantém-se. Enquanto
não forem prejudicados aqueles que realizam maus negócios, sendo socializados
os seus prejuízos, não há exigência no mercado. Porque mais do que os
mercados, que são sempre tão criticados, a culpa é de quem não os deixa
funcionar e coloca todo o jogo de um lado.
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