Angola está a
exercer "a diplomacia do silêncio, ao invés da diplomacia pública"
para resolver a crise nas relações com Portugal, disse hoje o adido de imprensa
da embaixada angolana em Lisboa.
Convidado para
participar numa conferência sobre "o estado actual das relações
Portugal-Angola", na Universidade Lusíada, o embaixador de Angola em
Portugal, José Marcos Barrica, fez-se representar pelo adido de imprensa
Estêvão Alberto, que usou da palavra apenas uns minutos e justificou que o
convite para a sessão "chegou muito tardiamente".
Além disso,
recordou, "todos os responsáveis" angolanos "já falaram" o
que tinham a falar sobre o assunto e o ministro das Relações Exteriores,
Georges Chikoti, encontra-se a preparar uma "comunicação ao Estado
português".
É preciso
"deixar que evoluam com naturalidade" os "contactos
diplomáticos" em curso, disse o adido de imprensa da embaixada de Angola.
"Pretende-se a melhoria das relações entre Angola e Portugal",
assegurou ainda.
Promovida pelo
Centro Lusíada de Investigação em Política Internacional e Segurança, a
conferência contou ainda com o embaixador português Martins da Cruz, que
apontou as causas e os riscos da "recente turbulência" entre os dois
países.
O ex-ministro dos
Negócios Estrangeiros apontou algumas das razões que justificam "o mal-estar
angolano", entre as quais as "fugas de informação" sobre casos
envolvendo dirigentes angolanos em apreciação na justiça portuguesa, "que
só podem ter partido do interior do Ministério Público" e que foram
acompanhadas por "ruído" na comunicação social portuguesa.
Além disso,
"Angola está a ser usada como arma de arremesso entre os partidos
políticos portugueses", apontou, sublinhando que as relações bilaterais se
processam "Estado a Estado e não partido a partido ou empresa a
empresa".
Na opinião do embaixador,
"o Governo português procedeu bem" no caso, ao manter uma diplomacia
de 'low profile' [discreta] e encarando as relações com Angola com a mesma
normalidade que tinham antes do discurso do Presidente angolano".
A 15 de Outubro,
José Eduardo dos Santos anunciou, perante o Parlamento angolano, a suspensão da
anunciada parceria estratégica com Portugal, alegando não estarem reunidas
condições.
Também "Angola
continuou a comportar-se da mesma forma do que antes", pois "não
tinha interesse nenhum em levar mais longe" a tensão com Portugal,
assinalou Martins da Cruz, reparando que Luanda "procurou desactivar a
turbulência". Porém, o caso "dura há dois meses e ainda não se
encerrou", lamentou, vincando que "a política externa não pode ter
estados de alma".
Recordando que
Angola é o quarto mercado de exportação para Portugal e que todas as empresas
do índice bolsista PSI-20 estão representadas no país africano lusófono, onde
150 mil portugueses estão a trabalhar, o embaixador alertou ainda para "o
risco" de desvalorização da política externa portuguesa, na qual "um
dos activos" é "a relação privilegiada com os países africanos de
língua portuguesa".
"Não estaremos
num clima de Guerra Fria", mas é preciso "um desanuviamento",
referiu, por seu lado, António Luvualu de Carvalho, professor na Universidade
Lusíada de Angola, sublinhando que, "para que possa haver parceria, é necessário
haver igualdade nas relações e respeito mútuo".
Porém, de acordo
com os "estereótipos" em Portugal, a riqueza dos angolanos
"implica corrupção e ilicitude", disse.
Considerando que os
angolanos são alvo de "perseguição" em Portugal, o investigador
questionou por que é que "só os angolanos são perseguidos pela justiça
portuguesa" e "só os dinheiros angolanos são questionados".
Lusa
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