"A Terra não pode
esquecer, nunca, as agressões contra Angola até 2002, porque elas foram
alimentadas por nazis e defensores do apartheid, com o apoio político de forças
políticas do “arco da governação”, em Portugal."*
Jornal de Angola,
editorial
A tolerância em
regimes democráticos está no centro do debate político. A democracia pressupõe
a diferença e esta deve ser vista, não como um mal, mas como um factor gerador
de progresso. A liberdade de expressão só nos conduz à consolidação do Estado Democrático
e de Direito, pelo que deve ser incentivada, na medida em que estimula a
participação dos cidadãos na vida política.
E é importante a
participação, porque todos têm uma contribuição a dar na solução dos problemas.
É na diferença de ideias que podemos encontrar as melhores soluções para os
problemas das comunidades.
Angola vive num regime de multipartidarismo desde 1992 e a convivência entre as
diferentes organizações políticas pode ser considerada positiva, apesar de
alguns problemas que surgem aqui ali entre membros de diferentes partidos.
Desde que foi instituído o multipartidarismo em Angola, tivemos um grave
problema que pôs tudo em causa. Aconteceu uma guerra sangrenta, que fazia parte
da estratégia de um partido para a tomada do poder. Convém lembrar sempre essa
excepção desonrosa e que os angolanos condenaram no passado, rejeitam hoje e
vão continuar a rejeitar no futuro. Há coisas que a Humanidade não poder
esquecer. E nos tempos modernos tivemos três situações que nunca devem sair da
memória dos povos, para que jamais se repitam: o Holocausto dos Nazis, o
Apartheid em vários países, sobretudo EUA e África do Sul, e a Guerra Colonial
que Portugal impôs aos povos de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. Neste ponto
entram duas guerras mais mortíferas e destruidoras, após as Independências
Nacionais, em Angola e Moçambique. A Terra não pode esquecer, nunca, as
agressões contra Angola até 2002, porque elas foram alimentadas por nazis e
defensores do apartheid, com o apoio político de forças políticas do “arco da
governação”, em Portugal.
Mas em Angola triunfou a tolerância que tem garantido a estabilidade e o normal funcionamento das instituições do Estado. Temos um Parlamento em que são discutidos os grandes problemas nacionais, apesar dos abandonos das sessões plenárias por algumas forças ainda pouco versadas nas regras da democracia. É preciso referir que mesmo durante a guerra levada a cabo por um partido representado no Parlamento, nunca se verificaram gestos de intolerância em relação aos políticos desse partido. Esse gesto magnânimo e de grandeza democrática está a ser interpretado pelos seus dirigentes, basicamente os mesmos que fizeram a guerra, como sinais de fraqueza da sociedade. Estão muito enganados. E só não compreendem a grandeza da tolerância democrática porque continuam com o dedo no gatilho e o pensamento na guerra. Nunca abandonaram o projecto de tomar o poder pela força das armas.
O MPLA, que ganhou as primeiras eleições multipartidárias em 1992, demonstrou um elevado sentido de Estado. Fez Governo com todas as forças que elegeram deputados e todos aceitaram conviver no Parlamento com um partido que fazia a guerra contra a soberania nacional e a democracia. Foi um gesto de tolerância, que suscitou a admiração de políticos de vários países do mundo. Houve até académicos que estudaram o “caso angolano”, pelas suas especificidades. Nunca no mundo tinha havido um caso tão flagrante de tolerância. Um partido estava ao mesmo tempo a destruir a democracia e a conviver no Parlamento, espaço democrático por excelência! A questão da tolerância continua na ordem do dia. Angola está num processo de reconciliação nacional e importa que os angolanos tenham a cultura do respeito pela diferença. O problema é que o líder da oposição actua como se não tivesse havido um acto eleitoral onde os vencedores tiveram mais de 72 por cento dos votos. Não respeita os vencedores. Não os cumprimentou pela sua brilhante vitória. Não tolera os vencedores. Semeia a discórdia e a intolerância. Quem não sabe perder jamais saberá ganhar. E quem demonstra publicamente falta de cultura democrática jamais conseguirá a confiança dos eleitores. Este é o problema.
Porque todos os outros derrotados imitam o líder da oposição. Todos fingem que não foram derrotados. Nenhum respeita os resultados eleitorais. Semeiam a discórdia e a intolerância. Faltam ao respeito à veneranda figura do Chefe de Estado. Porque para eles só existe o seu umbigo, quando muito o seu quintal. Haja paciência!
É preciso que cada pessoa saiba que uma ideia diferente não é um problema. Pode até ser uma contribuição para solucionar problemas que parecem de difícil solução. Temos de nos habituar a ouvir e a aceitar as ideias dos outros. Uma comunidade não vive da unanimidade. E é essa diferença que nos leva ao progresso. O Estado e a sociedade civil têm instituições em que essas diferenças podem ser manifestadas. Em democracia, todos os políticos devem contribuir com as suas ideias para o fortalecimento da democracia. Mas têm que aprender a ser democratas e isso começa dentro de casa. E convém que aprendam a perder, se é que defendem eleições.
*Destaque PG
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