Kumuênho da Rosa –
Jornal de Angola
As relações entre
Angola e Portugal estão de “pedra e cal”, afirma a ministra portuguesa da
Justiça. Em visita de trabalho a Angola, Paula Teixeira da Cruz, que é natural
de Luanda, participou em várias reuniões com altos responsáveis do poder judiciário
angolano e mostrou-se “muito feliz e orgulhosa” com a enorme margem de
progressão para cooperar em todas as áreas do sector da justiça.
Para ela, os
angolanos são um exemplo de resistência e de esperança.
Jornal de Angola – Até que ponto as relações entre Portugal e Angola ficaram
afectadas pelos casos judiciais que eram sistematicamente vertidos na imprensa
portuguesa?
Paula Teixeira da Cruz – Creio que o senhor Procurador-Geral da República
de Angola, nas declarações que proferiu, teve a oportunidade de esclarecer essa
matéria e de deixar, de uma forma muito enfática, a mensagem de que as relações
não ficaram abaladas, continuamos a trabalhar, continuamos a fazer a nossa
cooperação. Não há nenhum percalço nesta matéria.
JA – A situação que resultou da declaração do Presidente José Eduardo dos
Santos, sobre a falta de condições para uma cooperação estratégica entre os
dois países, já é passado?
PTC – Também sobre esta matéria se pronunciou o senhor ministro do
Interior, o senhor ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, bem como o
senhor Procurador-Geral da República, deixando claro que tinha havido uma má
interpretação daquilo que foi dito.
JA – Como avalia a cooperação entre os dois países no sector da Justiça?
PTC – Penso que não podíamos ter uma melhor cooperação. Estamos a cooperar
em todas as áreas. Desde a formação de magistrados até à elaboração de
reformas. Durante esta minha vinda a Angola foi com muito orgulho e muita
felicidade que vi que vamos intensificar ainda mais a cooperação em todas as
áreas.
JA – Não deixa de ser curioso o facto de ambos os países estarem a passar por
processos de reformas e no que respeita aos tribunais seguirem direcções
opostas. Enquanto Angola faz tudo por expandir territorialmente os tribunais,
Portugal faz precisamente o inverso.
PTC – Em termos territoriais, Portugal tem uma dimensão muito menor, por
um lado, e, por outro, nós tínhamos uma organização judiciária do tempo de Dona
Maria II. É evidente que não há aqui nenhuma contradição. Angola precisa de
expandir os tribunais porque, durante o difícil período por que passou, de
guerra, não era possível ter e nem expandir uma rede judiciária. Em Portugal, o
que se vivia era precisamente em zonas onde havia menos pessoas, por um lado, e
por outro havia tribunais de competência genérica com muito poucos processos e
que já não se justificava a sua existência.
JA – Acredita que existe espaço de progressão para os dois países cooperarem no
sector da justiça?
PTC – Há sempre espaço para cooperar e espaço para melhorar o que já existe.
JA – Em que áreas é possível alargar, mais concretamente?
PTC – Temos não só agora a cooperação na área das reformas que estão em
curso, como na investigação criminal, no reforço da rede de cooperação jurídica
e judiciária, na área dos Registos e Notariado, que é extremamente importante
no âmbito da identificação civil, da identificação e dos registos prediais e
comerciais. Temos, de facto, aí um campo vasto ainda para aprofundar nas nossas
relações.
JA – Já existem áreas de cooperação definidas?
PTC – Temos, naturalmente, situações bem identificadas. Foi exactamente
nesse sentido que as equipas tiveram já a estabelecer metodologias de trabalho
e a definir calendários. Quer o ministro Rui Mangueira quer eu própria tivemos
a oportunidade de pedir às equipas que trabalhassem já no plano concreto e que
estabelecessem prazos e metodologias. As nossas equipas começaram a trabalhar
imediatamente.
JA – Como avalia a cooperação judiciária no espaço da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP)?
PTC – Penso que hoje em Luanda demos um salto qualitativo. E vou dar dois
exemplos: o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos de Angola patrocinou
esta reunião da Rede de Justiça da CPLP, que já não se realizava há nove anos,
tal como ficou acordado em Lisboa quando tivemos a última reunião de ministros
da Comunidade. Por outro lado, nós reactivamos o site da própria Rede da CPLP,
e estamos agora a trabalhar também num manual de procedimentos para agilizar
procedimentos judiciários, designadamente cartas rogatórias. Eu diria que, em
tão pouco tempo, isto é um excelente salto.
JA – O que ficou definido em relação à Rede da CPLP?
PTC – Os pontos focais da Rede vão continuar um trabalho constante, e já
não episódico, conforme estava. Penso que ambos, neste momento, estamos a
imprimir à Rede uma força que presidia a sua criação, mas que, de facto, deixou
de existir.
JA – Qual é o lugar da formação de quadros nessa agenda de cooperação?
PTC – É uma prioridade. O senhor presidente do Supremo Tribunal de Justiça
transmitiu-me esta preocupação, tal como o meu colega ministro da Justiça e dos
Direitos Humanos, que também já me tinha falado do assunto. Uma vez mais, em
colaboração com o Instituto Nacional de Estudos Judiciais (INEJ) e com o
Centro de Estudos Judiciários português, vamos dar continuidade a esse processo
de formação. É um processo que já existe. O que vamos fazer agora é aprofundar.
JA – Com que impressão ficou de Angola?
PTC – Angola é um exemplo, porque um país que teve décadas de guerra
conseguir este clima de paz e de reconciliação que aqui se sente e de
desenvolvimento com integração, é extraordinário numa altura em que o mundo
vive momentos de intolerância terríveis.
JA – Ocorre-lhe dizer algo em especial neste seu regresso à terra em que
nasceu?
PTC – Gostaria de dizer, com muito sentimento – porque nasci cá e este
também é o meu povo – que os angolanos são um exemplo. O povo angolano foi um
exemplo de resistência a muita dor, porque não há nada pior do que a guerra, e
é neste momento um exemplo de esperança. Nós olhamos à volta e vemos uma
sociedade em construção e isso é muito importante. Os angolanos estão de
parabéns pela sua resistência, pela sua perseverança e pelo exemplo de
esperança que dão na consolidação daquilo que é Angola.
Foto: Kindala
Manuel
1 comentário:
o hitler e a coreia do norte são esperança -paula teixeira da cruz hitler de almeida
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