quarta-feira, 9 de abril de 2014

Portugal: A DERROTA ANUNCIADA DE PASSOS COELHO



Henrique Monteiro – Expresso, opinião

Ando há uns tempos nisto e lembro-me da última vez que um Governo em Portugal teve de fazer o chamado "trabalho sujo" do FMI - foi um Governo do Bloco Central, liderado pelo PS e por Mário Soares.

O líder histórico socialista tinha já decidido candidatar-se a Presidente da República, pelo que não se apresentou a sufrágio para primeiro-ministro. E, não obstante o Governo PS/PSD ter cumprido, no geral, tudo aquilo a que se tinha comprometido - desde sanear as Finanças Públicas a esse grande desígnio que era entrar na CEE - quando chegaram as eleições, a 6 de outubro de 1985, os dois partidos do Governo tiveram dos piores resultados de sempre. O PS, que chegara a pedir 43% para governar sozinho, com Almeida Santos no lugar de Soares, não obteve mais do que 20,7%; o PSD, apesar de liderado por Cavaco Silva, um crítico de sempre do Bloco Central, ganhou as eleições mas com menos de 30%, mais exatamente 29,8% (foi a única vez que a soma de PS e PSD não chegou a 50%). O que se passou? Algo tão simples como isto, um novo partido que entrara em cena, inspirado por e na figura de Ramalho Eanes, obteve 18%; o PCP (ou a APU, antecessora da CDU), conseguiu o resultado de 15,5% e o CDS 10%.

Apesar do trabalho feito pelo governo do Bloco Central, os eleitores estavam fartos daqueles protagonistas. O PS estava dividido, o PSD estava igualmente dividido e muita gente experimentou votar diferente.

Há quem pense que Passos Coelho ainda tem hipóteses de ganhar as legislativas. Eu não. O eleitorado, independentemente do que o Governo ainda possa fazer de positivo, está farto dele, está farto destes protagonistas. Muitos não irão votar, mesmo dentro do PSD há gente que não quer ver o atual primeiro-ministro nem pintado. Por muito que a sua ação possa ser considerada bem-sucedida nestes anos plúmbeos da troika Passos não vai conseguir mais do que uma derrota significativa. E o CDS também não será beneficiado.

Por muito que o critiquem, por muitas asneiras que cometa, aquele que estiver à frente do PS será o vencedor das eleições. Se for Seguro, como tudo indica, será ele o novo primeiro-ministro. Mas não vencerá esmagadoramente; os votos fugirão não só para a abstenção, como para o PCP e, até, para partidos ou formações que ainda possam formar-se.

O certo é que estas crises acabam por afetar todos, como se viu com Cavaco que (apoiado por Marcelo, Durão Barroso, Santana Lopes, José Miguel Júdice e Eurico de Melo, entre outros), não obstante ser de forma consistente contra o Governo de Soares/Mota Pinto e apesar de ter ganho o Congresso contra o aparelho (com uma reviravolta de última hora de Fernando Nogueira), não conseguiu sequer 30% do eleitorado.

Depois das próximas eleições não haverá vencedores absolutos; mas o regime político terá levado mais um safanão, como aconteceu em 85, dois anos antes de, pela primeira vez, Cavaco ter uma maioria absoluta. Mas, para já, em 2015 terá de haver acordos. Não há outra hipótese. Passos Coelho estará, então, já fora de jogo. Terá passado o seu tempo. Isto não significa que, passados anos, não venha muita gente reconhecer que, afinal, teve um papel positivo no país. Mas isto já é demasiada futurologia. Mas vale ficar por aqui.

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