Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Ando há uns tempos
nisto e lembro-me da última vez que um Governo em Portugal teve de fazer o
chamado "trabalho sujo" do FMI - foi um Governo do Bloco Central,
liderado pelo PS e por Mário Soares.
O líder histórico
socialista tinha já decidido candidatar-se a Presidente da República, pelo que
não se apresentou a sufrágio para primeiro-ministro. E, não obstante o Governo
PS/PSD ter cumprido, no geral, tudo aquilo a que se tinha comprometido - desde
sanear as Finanças Públicas a esse grande desígnio que era entrar na CEE -
quando chegaram as eleições, a 6 de outubro de 1985, os dois partidos do
Governo tiveram dos piores resultados de sempre. O PS, que chegara a pedir 43%
para governar sozinho, com Almeida Santos no lugar de Soares, não obteve mais
do que 20,7%; o PSD, apesar de liderado por Cavaco Silva, um crítico de sempre
do Bloco Central, ganhou as eleições mas com menos de 30%, mais exatamente
29,8% (foi a única vez que a soma de PS e PSD não chegou a 50%). O que se
passou? Algo tão simples como isto, um novo partido que entrara em cena,
inspirado por e na figura de Ramalho Eanes, obteve 18%; o PCP (ou a APU,
antecessora da CDU), conseguiu o resultado de 15,5% e o CDS 10%.
Apesar do trabalho
feito pelo governo do Bloco Central, os eleitores estavam fartos daqueles
protagonistas. O PS estava dividido, o PSD estava igualmente dividido e muita
gente experimentou votar diferente.
Há quem pense que
Passos Coelho ainda tem hipóteses de ganhar as legislativas. Eu não. O
eleitorado, independentemente do que o Governo ainda possa fazer de positivo,
está farto dele, está farto destes protagonistas. Muitos não irão votar, mesmo
dentro do PSD há gente que não quer ver o atual primeiro-ministro nem pintado.
Por muito que a sua ação possa ser considerada bem-sucedida nestes anos
plúmbeos da troika Passos não vai conseguir mais do que uma derrota
significativa. E o CDS também não será beneficiado.
Por muito que o
critiquem, por muitas asneiras que cometa, aquele que estiver à frente do PS
será o vencedor das eleições. Se for Seguro, como tudo indica, será ele o novo
primeiro-ministro. Mas não vencerá esmagadoramente; os votos fugirão não só
para a abstenção, como para o PCP e, até, para partidos ou formações que ainda
possam formar-se.
O certo é que estas
crises acabam por afetar todos, como se viu com Cavaco que (apoiado por
Marcelo, Durão Barroso, Santana Lopes, José Miguel Júdice e Eurico de Melo,
entre outros), não obstante ser de forma consistente contra o Governo de
Soares/Mota Pinto e apesar de ter ganho o Congresso contra o aparelho (com uma
reviravolta de última hora de Fernando Nogueira), não conseguiu sequer 30% do
eleitorado.
Depois das próximas
eleições não haverá vencedores absolutos; mas o regime político terá levado
mais um safanão, como aconteceu em 85, dois anos antes de, pela primeira vez,
Cavaco ter uma maioria absoluta. Mas, para já, em 2015 terá de haver acordos.
Não há outra hipótese. Passos Coelho estará, então, já fora de jogo. Terá
passado o seu tempo. Isto não significa que, passados anos, não venha muita
gente reconhecer que, afinal, teve um papel positivo no país. Mas isto já é
demasiada futurologia. Mas vale ficar por aqui.
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Expresso
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