Como políticos sem escrúpulos
em Portugal se prestam a trabalhos de spin doctors para
governantes africanos duvidosos
Alberto
Castro*, Londres
Um artigo de opinião de José Ribeiro e Castro na edição online do diário luso ''Público'' no passado dia 10 de Outubro, vésperas de eleições em São Tomé e Príncipe, com o título ''São Tomé, à porta do futuro'' exemplifica bem a prática de legitimar e promover a imagem de governantes africanos duvidosos. Comum na política ocidental, o trabalho de spin doctor (especialista em relações públicas e comunicação política capaz de manipular a opinião pública) tornou-se numa grande fonte de rendimentos para vários políticos e também jornalistas, autênticos mercenários de cifrões guiados por cinismos e hipocrisias a que convenientemente chamam realpolitik, por eles feitas no seu pior sentido: o da política sem ética.
Um artigo de opinião de José Ribeiro e Castro na edição online do diário luso ''Público'' no passado dia 10 de Outubro, vésperas de eleições em São Tomé e Príncipe, com o título ''São Tomé, à porta do futuro'' exemplifica bem a prática de legitimar e promover a imagem de governantes africanos duvidosos. Comum na política ocidental, o trabalho de spin doctor (especialista em relações públicas e comunicação política capaz de manipular a opinião pública) tornou-se numa grande fonte de rendimentos para vários políticos e também jornalistas, autênticos mercenários de cifrões guiados por cinismos e hipocrisias a que convenientemente chamam realpolitik, por eles feitas no seu pior sentido: o da política sem ética.
Um
claro exemplo de spin doctor é Lanny Davis, advogado,
político, consultor, lobista e comentador de televisão que foi
porta-voz da administração Clinton. Entre a lista de clientes cuja imagem
ele ajudou a promover contam-se a ditadura de Obiang na Guiné Equatorial
e a oligarquia dos apoiantes do golpe de estado que em 2009 derrubou Manuel Zelaya,
nas Honduras.
Ribeiro e Castro foi um dos quatro políticos portugueses que, fora do quadro de observadores da UE e da CPLP, acompanhou Patrice Trovoada, o candidato que volta ao cargo de primeiro-ministro em São Tomé e Príncipe numa altura de plena campanha eleitoral. De acordo com o África Monitor, AM, a presença de quatro deputados portugueses, entre eles Ribeiro e Castro, na comitiva de regresso de Trovoada à STP, teve como propósito o tentar dissuadir, por meio de sua presença, eventuais ''procedimentos'' das autoridades contra o ex-novo primeiro-ministro. Os referidos ''procedimentos'' relacionam-se com suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais que pesam contra o dirigente santomense enquanto primeiro-ministro numa anterior legislatura.
Curisoso é que a viagem em jatinho particular (a noticia não informa quem a custeou) teve escala em Luanda onde Trovada se encontrou, segundo a AM, com figuras fortes do regime como o vice-presidente Manuel Vicente e o tido como todo poderoso ministro de Estado e chefe da Casa Militar da Presidência da República, general Hélder Vieira Dias ''Kopelipa'', com o objetivo de vincar a importância que atribui a Angola como parceiro.
Ora,
qualquer observador minimamente atento à politica em Portugal e nos Países Africanos
de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) sabe perfeitamente que Ribeiro e
Castro sempre foi um apoiante aberto da UNITA de Jonas Savimbi e que,
tal como o seu correligionário Paulo Portas, mudou completamente de opinião quando Savimbi desapareceu
de cena e, com ele, provavelmente a fonte que sustentava o lobby em
favor do movimento do Galo Negro em Lisboa. Passaram
a tecer rasgados elogios ao governo angolano e ao presidente José Eduardo
dos Santos, a quem Portas qualificou como ''um dos estadistas de
África mais respeitado e experimentado.''
Quando o jornalista e ativista Rafael Marques acusou Dos Santos de apadrinhar negócios ilícitos e disse de Portugal que ''é um país subserviente em relação ao regime de Luanda'', Ribeiro e Castro, em entrevista à TSF, reagiu em defesa do governo angolano dizendo: ''Por um lado, as pessoas queixam-se que não há Democracia mas, por outro lado, a própria prática dessas críticas de uma forma aberta é sinal que existe liberdade de expressão e do próprio debate democrático''.
Quando o jornalista e ativista Rafael Marques acusou Dos Santos de apadrinhar negócios ilícitos e disse de Portugal que ''é um país subserviente em relação ao regime de Luanda'', Ribeiro e Castro, em entrevista à TSF, reagiu em defesa do governo angolano dizendo: ''Por um lado, as pessoas queixam-se que não há Democracia mas, por outro lado, a própria prática dessas críticas de uma forma aberta é sinal que existe liberdade de expressão e do próprio debate democrático''.
Quanto
aos Trovoada, existem rumores de que em determinada altura o governo do MPLA não via
com bons olhos o pai Miguel e o filho Patrice, bem como o ex-presidente Fradique de
Menezes, por estes manifestarem em privado palavras pouco simpáticas para
com Angola e nutrirem alguma simpatia pela UNITA.
Com o cheiro a petróleo nas ilhas fica agora a suspeita de que não foi inocente a estratégia montada com a criação da STPtv, um projeto de televisão online da Companhia de Ideias, a principal produtora, via RTP África, de conteúdos para os países africanos lusófonos. Oficialmente lançado em Novembro de 2013 e tendo as ilhas prodigiosas como foco principal, a STPtv conta na sua grelha de programação com um segmento semanal ancorado por Abílio Neto (analista e crítico feroz da política nas ilhas no programa ''Debate Africano'' da RDP África), tendo Patrice Trovoada como comentador residente. Ribeiro e Castro foi ele mesmo um dos convidados para falar das relações de Portugal com os PALOP. Acessando as emissões do canal durante o período de campanha eleitoral em STP, nota-se uma inequívoca cobertura do mesmo em apoio à candidatura da Acção Democrática Independente (ADI) de Patrice Trovoada.
Com o cheiro a petróleo nas ilhas fica agora a suspeita de que não foi inocente a estratégia montada com a criação da STPtv, um projeto de televisão online da Companhia de Ideias, a principal produtora, via RTP África, de conteúdos para os países africanos lusófonos. Oficialmente lançado em Novembro de 2013 e tendo as ilhas prodigiosas como foco principal, a STPtv conta na sua grelha de programação com um segmento semanal ancorado por Abílio Neto (analista e crítico feroz da política nas ilhas no programa ''Debate Africano'' da RDP África), tendo Patrice Trovoada como comentador residente. Ribeiro e Castro foi ele mesmo um dos convidados para falar das relações de Portugal com os PALOP. Acessando as emissões do canal durante o período de campanha eleitoral em STP, nota-se uma inequívoca cobertura do mesmo em apoio à candidatura da Acção Democrática Independente (ADI) de Patrice Trovoada.
Esses
desenvolvimentos mostram que são fundamentadas algumas das críticas
mais viscerais que surgem das capitais africanas lusófonas apontando no
sentido de Lisboa como um centro de conspirações por excelência contra
os PALOP. E de grandes negociatas também, com empresários, políticos e
advogados corruptos disputando sem escrúpulos a sua parte nas
chorudas ''gorjetas'' proporcionadas por seus pares africanos não menos
corruptos.
Salvo valentes e honrosas exceções, tudo isso acontece perante o capitular de uma imprensa e de uma justiça, ou coniventes ou amordaçadas e chantageadas aos interesses do grande capital e a ditos interesses superiores do Estado. O Jornal de Angola volta e meia pincela umas linhas contra o que etiqueta, com alguma razão, de elites ignorantes e corruptas de Lisboa (nunca fala das suas) e logo desencadeia um tsunami políticoem Portugal. Por um
lado desperta nacionalismos bacocos indignados com lições de moral vindos da
antiga colónia. Por outro, lobistas e spin doctors de plantão ao
serviço de Luanda logo surgem frenéticos, coagindo a imprensa e ajustiça de
cumprirem os seus papéis, mesmo que nem sempre da melhor forma.
Salvo valentes e honrosas exceções, tudo isso acontece perante o capitular de uma imprensa e de uma justiça, ou coniventes ou amordaçadas e chantageadas aos interesses do grande capital e a ditos interesses superiores do Estado. O Jornal de Angola volta e meia pincela umas linhas contra o que etiqueta, com alguma razão, de elites ignorantes e corruptas de Lisboa (nunca fala das suas) e logo desencadeia um tsunami político
Voltando
ao Ribeiro e Castro, advogado e político do CDS-PP, partido que sempre esteve
na linha da frente do apoio a UNITA de Jonas Savimbi e cujos
dirigentes quando hoje desembarcam em Luanda fogem dela como o diabo foge da
cruz com medo de desagradar ao governo de Angola. Ele reconhece no seu artigo
de opinião que apesar de tudo, STP ''beneficia do
privilégio da condição insular, surgindo num honroso 12.º lugar no Índice Ibrahim
no total de 52 países africanos''.
Ora bolas! (como se diz em bom português), como pode um país que ocupa um lugar honroso no índice de uma prestigiada instituição, na sua opinião, que tem ''um povo pacífico e uma sociedade com segurança'', entre outros elogios que faz a São Tomé e Príncipe, merecer tão grosseiro tratamento ingerencista? Só mesmo vindo de políticos que traem seus princípios e, prestando um desserviço a Portugal e à CPLP, agem como autênticos emissários coloniais encarregados de colocar ordem na colónia. Mais chocante, legitimados por um candidato cujo pai, Miguel Trovoada, foi uma figura proeminente da luta anticolonial.
Ora bolas! (como se diz em bom português), como pode um país que ocupa um lugar honroso no índice de uma prestigiada instituição, na sua opinião, que tem ''um povo pacífico e uma sociedade com segurança'', entre outros elogios que faz a São Tomé e Príncipe, merecer tão grosseiro tratamento ingerencista? Só mesmo vindo de políticos que traem seus princípios e, prestando um desserviço a Portugal e à CPLP, agem como autênticos emissários coloniais encarregados de colocar ordem na colónia. Mais chocante, legitimados por um candidato cujo pai, Miguel Trovoada, foi uma figura proeminente da luta anticolonial.
Diz
ainda Ribeiro e Castro que o então governo da ADI liderado por Patrice Trovoada
foi derrubado em ''modo controverso'', para dizer o mínimo. Pois houve outros
governos nas ilhas que foram depostos de forma igualmente controversa, para
dizer o mínimo. Socorreram-se eles de ''emissários coloniais'' para os apoiar e
impulsionar de volta ao poder da forma como fizeram deputados portugueses? Não me
lembro de algum parlamentar em Portugal que se tenha prestado a tão vergonhoso
papel. Parece pois que o cheiro a petróleo era inexistente na altura
em que foram derrubados, ou não tão intenso como agora.
Portugal
no pós-25 de Abril viveu uma década de intensa instabilidade
governativa com sucessivas quedas de governos até que a democracia se
consolidasse e estabilizasse. Não me recordo de haver alguma
interferência externa tão vergonhosa como essa feita à STP. Aconteceu
porque as ilhas são, por enquanto, ainda demasiados dependentes de Lisboa no
que toca a vários programas assistencialistas. Não me parece
que ousariam fazer o mesmo com outros PALOP, nem com o tido como estado falhado
da Guiné-Bissau. Neste, Carlos Gomes Júnior foi deposto de uma forma
violenta por golpe militar. Perseguido, teve seus direitos políticos e
humanos violados. Não me lembro de ter sido acompanhado por deputados
portugueses em jatinho particular no seu regresso à Bissau.
No
Brasil mais de cinquenta mil, na maioria pobres, jovens e negros, morrem
anualmente vitimadas pela intolerância racial, violência policial,
tráfico de drogas, entre outras mazelas. Ativistas sociais, jornalistas e
ambientalistas são frequentemente perseguidos e vários assassinados.
Raramente se levantam vozes de políticos e mesmo da imprensa em
Portugal a protestar ou a denunciar com veemência tão flagrantes e
chocantes violações aos direitos humanos. Silêncio quase total num país
que se vangloria de ter criado o enorme Brasil mas que se torna amnésico perante
suas enormes responsabilidades históricas. Cego, surdo e mudo para com
para com a tragédia de populações descendentes de um processo de escravização que
resultou no maior movimento migratório forçado de toda a história
da humanidade.
Para dizer o mínimo, os factos parecem demonstrar claramente um grande embuste em torno de todas as movimentações e desenvolvimentos em claro favor de um político de São Tome e Príncipe, sob o qual pesam suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais.
Para dizer o mínimo, os factos parecem demonstrar claramente um grande embuste em torno de todas as movimentações e desenvolvimentos em claro favor de um político de São Tome e Príncipe, sob o qual pesam suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais.
*Jornalista
freelance e colunista
2 comentários:
A cima de tudo imparcialidade e bom jornalismo. Bom trabalho.
Gostei de ler o artigo. Agora cabe aos saotomenses abrir
os olhos pk n devem aceitar k PT os colonize outra vez.
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