quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Ministra timorense sai "orgulhosa" do trabalho feito mas lamenta acusações de corrupção




Díli, 29 set (Lusa) - A ministra demissionária das Finanças timorense, Emília Pires, disse à Lusa que sai do cargo "orgulhosa" do Ministério que ajudou a criar, considerando que tem a consciência tranquila, mas que "custa" ser acusada de corrupção.

"Um dos grandes orgulhos é a forma como deixei o Ministério. Comecei a preparar esta saída há um ano e meio", disse à Lusa, numa curta entrevista, uma das poucas que tem concedido nos últimos anos.

"Não posso ser irresponsável e deixar estas pastas nas mãos de pessoas irresponsáveis, e por isso fui preparando os meus diretores. Estou confiante de que o podem fazer. Saí várias vezes do país, em trabalho, e o Ministério andava e eles assumiam a responsabilidade", considerou.

Pires viveu na Austrália durante o período de ocupação indonésia, regressando a Timor-Leste em 1999, tendo praticamente desde o início trabalho no setor das Finanças, inicialmente com o apoio da ONU e do Banco Mundial.

Hoje, garante ter deixado uma equipa amplamente preparada que, ainda que tenha que ser guiada "nas grandes reformas e nos grandes conceitos", consegue "trabalhar muito bem no dia-a-dia".

Emília Pires é um dos mais de 20 membros do Governo timorense que saem do executivo no processo de reestruturação em curso em Timor-Leste.

Além de Pires, estão de saída os ministros Mariano Sabino (Agricultura e Pescas), Pedro Lay (Transportes e Telecomunicações), Sérgio Lobo (Saúde), Bendito Freitas (Educação) e José Luís Guterres (Estado e dos Negócios Estrangeiros e Cooperação).

Vão sair do Governo também quatro vice-ministros e pelo menos 12 secretários de Estado numa ampla reforma que verá o executivo timorense passar de 55 para "entre 25 e 30" membros, segundo fonte do Governo.

Nos últimos anos o nome de Emília Pires tem sido frequentemente associado a corrupção tendo o seu julgamento por alegada participação económica em negócios sido adiado 'sine die'.

Questiona sobre como reage a essas acusações, Emília Pires insiste que tem a consciência tranquila mas lamenta as acusações.

"Claro que custa. Também sou humana. Mas o que é que eu posso fazer", interrogou-se.

"Algumas das lições que eu aprendi foram as da necessidade de um processo de capacitação, da capacidade de se adaptar. Muita gente não sabe entender as leis, os processos. É uma fase que temos que aprender", disse.

Sobre a sua saída, depois de tantos anos à frente das contas do país, Emília Pires disse que "não está a custar nada", porque é uma pasta "muito complicada", em que as pessoas "nem sempre compreendem as regras, os procedimentos e as formas como se tem que trabalhar".

"É um grande peso que agora já não tenho", disse.

"É normal, numa fase de pós conflito como a nossa, haver muita desconfiança e outros problemas. Mas nós temos de saber liderar e ultrapassar esta fase", sustentou.

Para a ainda ministra, Timor-Leste "tem muita sorte em ter (o primeiro-ministro) Xanana Gusmão, uma figura sólida", considerando que é essencial "uma fase de mudança para a sociedade".

Sobre o futuro Emília Pires explicou que para já vai tirar "um bocadito de férias", que tem convites "para muitos lados" mas que já assumiu compromissos que a manterão ligada a Timor-Leste.

"Assumi uma responsabilidade como enviada especial do G7+. Continuarei a ser uma voz de Timor lá fora e dar uma ajuda aqui dentro onde for necessário", explicou.

Com sede em Díli, o G7+ é uma organização intergovernamental que reúne países que recentemente passaram por conflito e que premie partilhar experiências no processo de desenvolvimento.

Atualmente tem 20 membros: Afghanistan, Burundi, Central African Republic, Chad, Comoros, Côte d'Ivoire, Democratic Republic of the Congo, Guinea, Guinea-Bissau, Haiti, Liberia, Papua New Guinea, San Tome e Principe, Sierra Leone, Somalia, Solomon Islands, South Sudan, Timor-Leste, Togo and Yemen.

Até maio de 2014 a presidência do organismo era de Emília Pires, que foi substituída pelo ministro das Finanças e Desenvolvimento da Serra Leoa, Kaifala Marah.

ASP // JPS

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