Díli,
29 set (Lusa) - A ministra demissionária das Finanças timorense, Emília Pires,
disse à Lusa que sai do cargo "orgulhosa" do Ministério que ajudou a
criar, considerando que tem a consciência tranquila, mas que "custa"
ser acusada de corrupção.
"Um
dos grandes orgulhos é a forma como deixei o Ministério. Comecei a preparar
esta saída há um ano e meio", disse à Lusa, numa curta entrevista, uma das
poucas que tem concedido nos últimos anos.
"Não
posso ser irresponsável e deixar estas pastas nas mãos de pessoas
irresponsáveis, e por isso fui preparando os meus diretores. Estou confiante de
que o podem fazer. Saí várias vezes do país, em trabalho, e o Ministério andava
e eles assumiam a responsabilidade", considerou.
Pires
viveu na Austrália durante o período de ocupação indonésia, regressando a
Timor-Leste em 1999, tendo praticamente desde o início trabalho no setor das
Finanças, inicialmente com o apoio da ONU e do Banco Mundial.
Hoje,
garante ter deixado uma equipa amplamente preparada que, ainda que tenha que
ser guiada "nas grandes reformas e nos grandes conceitos", consegue
"trabalhar muito bem no dia-a-dia".
Emília
Pires é um dos mais de 20 membros do Governo timorense que saem do executivo no
processo de reestruturação em curso em Timor-Leste.
Além
de Pires, estão de saída os ministros Mariano Sabino (Agricultura e Pescas),
Pedro Lay (Transportes e Telecomunicações), Sérgio Lobo (Saúde), Bendito
Freitas (Educação) e José Luís Guterres (Estado e dos Negócios Estrangeiros e
Cooperação).
Vão
sair do Governo também quatro vice-ministros e pelo menos 12 secretários de
Estado numa ampla reforma que verá o executivo timorense passar de 55 para
"entre 25 e 30" membros, segundo fonte do Governo.
Nos
últimos anos o nome de Emília Pires tem sido frequentemente associado a
corrupção tendo o seu julgamento por alegada participação económica em negócios
sido adiado 'sine die'.
Questiona
sobre como reage a essas acusações, Emília Pires insiste que tem a consciência
tranquila mas lamenta as acusações.
"Claro
que custa. Também sou humana. Mas o que é que eu posso fazer",
interrogou-se.
"Algumas
das lições que eu aprendi foram as da necessidade de um processo de
capacitação, da capacidade de se adaptar. Muita gente não sabe entender as
leis, os processos. É uma fase que temos que aprender", disse.
Sobre
a sua saída, depois de tantos anos à frente das contas do país, Emília Pires
disse que "não está a custar nada", porque é uma pasta "muito
complicada", em que as pessoas "nem sempre compreendem as regras, os
procedimentos e as formas como se tem que trabalhar".
"É
um grande peso que agora já não tenho", disse.
"É
normal, numa fase de pós conflito como a nossa, haver muita desconfiança e
outros problemas. Mas nós temos de saber liderar e ultrapassar esta fase",
sustentou.
Para
a ainda ministra, Timor-Leste "tem muita sorte em ter (o primeiro-ministro)
Xanana Gusmão, uma figura sólida", considerando que é essencial "uma
fase de mudança para a sociedade".
Sobre
o futuro Emília Pires explicou que para já vai tirar "um bocadito de
férias", que tem convites "para muitos lados" mas que já assumiu
compromissos que a manterão ligada a Timor-Leste.
"Assumi
uma responsabilidade como enviada especial do G7+. Continuarei a ser uma voz de
Timor lá fora e dar uma ajuda aqui dentro onde for necessário", explicou.
Com
sede em Díli, o G7+ é uma organização intergovernamental que reúne países que
recentemente passaram por conflito e que premie partilhar experiências no
processo de desenvolvimento.
Atualmente
tem 20 membros: Afghanistan, Burundi, Central African Republic, Chad, Comoros,
Côte d'Ivoire, Democratic Republic of the Congo, Guinea, Guinea-Bissau, Haiti,
Liberia, Papua New Guinea, San Tome e Principe, Sierra Leone, Somalia, Solomon
Islands, South Sudan, Timor-Leste, Togo and Yemen.
Até
maio de 2014 a presidência do organismo era de Emília Pires, que foi substituída
pelo ministro das Finanças e Desenvolvimento da Serra Leoa, Kaifala Marah.
ASP
// JPS
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