terça-feira, 18 de abril de 2023

Angola | OS JOVENS DO PODER POPULAR – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Hoje, Dia Nacional da Juventude, envio esta foto de Carlos Luís Domingos, com três jovens cheios de guzo mas um nadinha mutilados. O primeiro da esquerda é o malanjino João Nunes, autor da linha gráfica do Poder Popular nos anos de 1974/1975. O cartaz onde Agostinho Neto está de punho erguido e cerrado é de sua autoria. 

Um dia, em Fevereiro de 1975, fomos ao Bairro de Saneamento e o João Nunes (também é fotógrafo e professor universitário reformado) fotografou Agostinho Neto no ambiente familiar, com a Mamã Maria e sua esposa, a minha camarada Maria Eugénia Neto. Os filhos Irene, Mário Jorge e Leda ainda não tinham regressado a Luanda. O João Nunes fez muitas fotos que mais tarde foram oferecidas (algumas…) à Fundação Dr. António Agostinho Neto.

O jovem ao centro da foto é o artrista plástico, fotógrafo e cineasta António Ole, luandense da Vila Alice. Kamundongo. Atenção! Esta expressão nada tem de ofensivo. Há quem ache que kamundongo é rato. Mentira. Kamundongo em kimubdu quer dizer janota. Os luandenses são mesmo janotas. E as luandenses variam entre princesas e rainhas.

O jovem Ole mostrou pela primeira vez a sua obra no salão de arte de Luanda. Enquanto jovem repórter escrevi quatro parágrafos sobre o acontecimento e a peça foi ilustrada com uma tela do artista. Vejam bem. Nasceu um grande pintor angolano, dizia aos leitores. Não me enganei. É um dos melhores do mundo.

 Quem tratou do acontecimento com grande qualidade foi a revista “Notícia”, na época servida por grandes aristas gráficos, como Carlos Fernandes (pintor de altíssima categoria) e José Manuel da Nóbrega. O crítico mais importante era Aníbal Fernandes (Farrica ou Cabeças) tradutor do livro “Viagem ao Fim da Noite de Céline. 

Muitos anos depois, António Ole, cada vez mais jovem, e este vosso criado ainda criancinha de leite (eu gostava de adormecer no colo da bailarina Helena de Troia) entrevistou o artista e ele falou pela primeira vez do “Movimento Contínuo”. 

António Ole, agora artista de dimensão universal, falou nestes termos precisos: “Na Arte, um objecto pode desafiar todas as leis, o sagrado e até a função que lhe é atribuída. O seu compromisso é apenas com a harmonia e as formas que brotam da natureza. A forma como esta espiral se desenrola, vórtice voraz, movimento contínuo, rotativo, indagação da síntese extrema, é uma busca incessante da origem das coisas e do mundo”.

O rapazinho da foto à direita é um adorador da Conquista do Pão, livro escrito pelo príncipe Kropotkine. Anarco-libertário dia sim e anarco-comunista dia sim, sim. Afeiçoei-me à reportagem e de vez em quando faço incursões (golpes de mão) na crónica. Jovem como sou, deixei de beber e de fumar. Por isso estou mutilado. Como podem ver pela foto do Carlos Luís Domingos não há garrafas nem copos. Ficaram na mesa ao lado.

Neste Dia Nacional da Juventude ofereço-vos a foto dos três jovens que serviram o MPLA e o Poder Popular. E ainda estão em prontidão para o que der e vier.

Legenda da foto: Da esquerda para a direita, João Nunes, António Ole e Artur Queiroz.

* Jornalista

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