quarta-feira, 22 de agosto de 2012

EIKE ROUSSEFF




O maior empresário brasileiro e a presidente do Brasil são inseparáveis

João Almeida Moreira – Dinheiro Vivo

Como todas as semanas, na tarde de 16 janeiro de 1970 a operacional Wanda foi encontrar o operacional Olavo Ribeiro num bar da Rua Augusta, coração de São Paulo, para discutir as ações seguintes da Vanguarda Armada Revolucionária, organização de combate à ditadura militar.

Nesse dia, mal chega, Wanda vê Olavo rodeado de polícias. Instintivamente, dá meia volta e sai do bar com passo apressado. Mas um dos polícias desconfia, segue-a e revista-a. Descobre uma arma. Foi presa na hora e torturada nos três anos seguintes. Na prisão, diz quem conviveu com Dilma, o seu verdadeiro nome, que leu tudo o que podia de economia e familiarizou-se com histórias idênticas à sua de "camaradas" do mundo inteiro – como Álvaro Cunhal, por exemplo. Mais tarde seguiu a carreira política e foi subindo, escalão a escalão, até chegar à presidência do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Nesses mesmos anos 70, o jovem Eike Batista vivia entre a Suíça e a Alemanha para onde o pai, gestor de grandes empresas brasileiras e internacionais na época da ditadura militar, fora transferido. Cursou engenharia, sem concluir, e andou por Aachen a vender seguros de porta em porta, atividade que, segundo o próprio, lhe deu bagagem para lidar com situações negociais stressantes no futuro. Não consta que soubesse quem era Álvaro Cunhal mas conhecia de cor os feitos dos Rockefeller e dos Rothschild. Investiu mais tarde na exploração de petróleo e tornou-se multimilionário. Hoje é o homem mais rico do Brasil, oitavo do mundo.

Se se conhecessem nos anos 70, Dilma e Eike seriam inimigos. Mas, como no “Les Intouchables” (blockbuster francês com tiques de Hollywood recém chegado a São Paulo) um ex-recluso e um multimilionário aos poucos se tornam unha com carne, também Dilma e Eike são hoje amigos inseparáveis.

Já em abril, quando visitou o Porto Açu, maior conglomerado portuário-industrial da América latina e propriedade de Eike Batista, a presidente elogiou durante 15 minutos, sem pausas para respirar, o megaempresário, sugerindo ainda parcerias entre o seu grupo, o EBX, e a estatal Petrobras. Eike, financiador da campanha do rival José Serra, do PSDB (centro-direita), respondeu com sorrisos e juras de amor ao governo PT.

Na semana passada, a presidente anunciou o maior investimento de sempre em parceria com privados na área dos transportes rodoviários e ferroviários – 53,5 mil milhões de euros – a que se seguirão outros em aeroportos e portos. “Isto é um kit felicidade para o país”, disse o mais entusiasmado dos convidados da cerimónia, que não era nenhum ministro do Governo, mas sim, nada mais nada menos, que o ex-vendedor de apólices Eike Batista.

Antes do anúncio, Dilma não perdeu a oportunidade de homenagear “um dos homens que mais se destacou na criação de infraestruturas no país”, Eliezer Batista, o tal grande empresário da época da ditadura militar e pai de Eike.

Membros do núcleo mais ortodoxo do PT, sentados em poltronas ao lado da família Batista, sentiram-se incomodados. Mais ainda porque, à porta da sala da cerimónia, grevistas mobilizados pela CUT, a união dos sindicatos brasileiros e berço do partido, reclamavam melhores salários. Dois ou três desses veteranos ainda se entreolharam breves momentos, divididos entre a fidelidade ao passado de "camaradas" e o conforto do presente e futuro de governantes. Mas logo esqueceram a operacional Wanda e aplaudiram de pé a presidente Dilma.

*Jornalista - Escreve à quarta-feira, em Crónicas de um português emigrado no Brasil

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