Daniel Oliveira –
Expresso, opinião
Entre
pequeno-almoços e encontros, Miguel Relvas e Paulo Portas resolvem os seus
diferendos em relação ao futuro da RTP. Talvez alguns portugueses gostassem de
ter uma palavra a dizer sobre o assunto, mas é assim que por agora se governa
em Portugal.
Miguel Relvas acha
que... Duvido que Miguel Relvas ache realmente alguma coisa. Miguel Relvas
tem, na sala de espera, uns angolanos e a Cofina que querem ficar com a RTP
toda pagando apenas metade por ela. E nós ficamos, através da taxa do
audiovisual, a financiar um canal que na prática será privado.
Paulo Portas
defendia que se fizessem cortes na RTP e ela ficasse exclusivamente dependente
da taxa e da publicidade. Não sei se os cortes permitem o serviço público, que
inclui da RTP Internacional ao trabalho nos PALOP, do apoio ao audiovisual
nacional ao espaço dado à sociedade civil, das delegações regionais à RTP
Madeira e RTP Açores. Para isso precisava de ver números. Mas a proposta de
Paulo Portas tem uma enorme vantagem: não é irreversível, ao contrário do
negócio de Relvas, que não tem qualquer vantagem para os portugueses, para o
Estado e para o mercado televisivo.
Segundo últimas
notícias, Paulo Portas poderá terá cedido a um "mal menor": alienação
da frequência de um dos canais da RTP, mantendo-se os outros canais, incluindo
os internacionais, na esfera pública. Poderá o CDS apresentar esta solução como
uma vitória. Mas seria mais uma estrondosa derrota, depois de todas as outras.
Não sei se o que
move Portas é um jogo de equilíbrios políticos no governo (precisa
desesperadamente de uma vitória interna), a pouca vontade de dar aos amigos de
Relvas um tão forte instrumento mediático, o seu conhecimento mais profundo
deste dossiê ou a consciência de que as propostas de Relvas nada têm a ver com
as dificuldades financeiras do Estado. Sei que nesta matéria, onde tem sido de
uma enorme clareza em relação às suas posições, ou leva até ao fim o que
defende ou os seus eleitores podem começar a questionar-se da vantagem de ter o
partido no qual votaram nesta coligação.
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