Em entrevista à
Carta Maior, Mark Weisbrot, co-diretor do Center for Economic and Policy
Research, de Washington, fala sobre as perspectivas da economia brasileira no
atual cenário internacional. Para Weisbrot, Brasil deveria seguir o exemplo da
China que fez um gigantesco investimento para manter aquecida a atividade
econômica no país. Exatamente o oposto do que faz a União Europeia, que, na
opinião do economista, segue mantendo uma "demente política de
austeridade". Por Marcelo Justo, de Londres.
Marcelo Justo - Carta Maior
Londres - As
últimas estimativas de crescimento do Brasil acenderam luzes de alarme no
governo de Dilma Rousseff. A indústria é um dos setores mais atingidos com uma
queda interanual de 3,3% em março, o que levou vários analistas a reduzirem as
estimativas de crescimento para este ano e o próximo. A Carta Maior conversou
com o co-diretor do heterodoxo Center for Economic and Policy Research, de Washington,
Mark Weisbrot, para analisar as perspectivas da economia brasileira.
É o terceiro ano em que a economia do Brasil tem um crescimento anêmico. A que
se deve isso?
Mark Weisbrot: Toda a América Latina está sofrendo o golpe da crise mundial.
Essa é a realidade. Em seu último informe, o FMI reduziu as expectativas de
crescimento para toda a região. O problema vem dos Estados Unidos, Europa e
China. Cabe não esquecer que, até o presidente do Banco Central Europeu, Mario
Draghi, ter indicado que faria tudo o que fosse necessário para salvar o euro,
existia o perigo de uma crise financeira mundial como a de 2008. Este pânico
foi controlado, mas a Europa segue em uma situação de recessão. Os Estados
Unidos estão crescendo, mas vive ameaçado pela restrição fiscal que o congresso
não conseguiu solucionar e que pode apresentar a conta este ano, o que gera
muita incerteza. E a China está crescendo muito menos.
O governo tem buscado separar-se do monetarismo que dominou a política
econômica brasileira desde os anos 90. Com Dilma Rousseff, as taxas de juro
caíram e há uma tentativa de estimular a indústria. Mas, no momento, isso não
tem dado resultado.
MW: É que essas políticas levam tempo para surtir efeito. Há mais de 20 anos de
descuido da indústria para dar conta. O crescimento industrial per capita foi
de 0,5 anual entre 1990 e 2003. Isso não se resolve da noite para o dia. Mas
acredito que a economia vai se recuperar. O investimento terminou em alta em
2012 e o governo tem reservas consideráveis que pode usar a qualquer momento
para estimular sua economia. É um debate que tem ocorrido nos Estados Unidos.
Lamentavelmente, o governo de Barack Obama preferiu um estímulo moderado ao
invés de implementar o que defendia Christina Romer no conselho de assessores
econômicos do presidente. Na crise de 2008 e na atual, a China fez um
gigantesco investimento para manter a atividade econômica. Exatamente o oposto
do que faz a União Europeia que segue mantendo uma demente política de
austeridade. Creio que o Brasil deveria seguir o exemplo chinês.
No Brasil está claro que, no momento, a magnitude do estímulo não tem sido
suficiente para reverter o caminho da desindustrialização nacional que um
professor da Universidade de Cambridge, José Gabriel Palma, denominou como um
dos processos de desindustrialização mais extremos do século passado. Segundo
Palma, hoje a indústria do Brasil é a metade do que era em 1980 em relação ao
seu Produto Interno Bruto (PIB).
MW: Precisamente por isso mudar esta situação levará tempo. A desvalorização do
real ajuda, mas não é suficiente. Por um lado, porque esta depreciação também
precisa de tempo para disseminar-se por toda a economia. Por outro, porque
também é preciso uma política industrial com estímulo de setores chave e estratégicos.
Mas penso que na segunda metade do ano este panorama atual vai mudar.
Este discreto desempenho atual pode complicar as possibilidades de reeleição de
Dilma Rousseff no próximo ano?
MW: Não. Cabe lembrar que tem havido uma enorme mudança na distribuição de
renda, um aumento de cerca de 28% na renda per capita, desde que o PT está no
poder, e uma forte queda no desemprego. Por isso os índices de aprovação de
Dilma Rousseff são tão altos apesar dos problemas econômicos. E não esqueçamos
que essa melhoria nos níveis de vida é tão importante quanto os outros fatores
para o crescimento da economia.
Vê algum sinal de recuperação na economia mundial daqui até às eleições?
MW: Não tenho bola de cristal. Se tivesse seria milionário (risos...). No momento,
o que vem se observando a cada semana são indicadores diversos. Mas não creio
que estejamos avançando para uma nova recessão mundial. Na última, tivemos
gigantescas bolhas especulativas que explodiram ao mesmo tempo. Não há nada
parecido com isso no horizonte. O que temos hoje é uma política fiscal
incorreta em muitos países, em especial na Europa. Mas isso pode ser corrigido
e não tem o mesmo impacto. É preciso aguardar para ver. Há muitos investidores
que, estes sim, estão apostando que vem aí uma nova recessão mundial.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Fotos: Center for Economic and Policy Research
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