segunda-feira, 13 de junho de 2011

Turquia: ERDOGAN E AKP CONQUISTAM MAIORIA NAS ELEIÇÕES TURCAS




OPERA MUNDI - EFE

Os islamitas moderados do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, revalidaram neste domingo uma cômoda maioria absoluta, com 326 cadeiras, nas eleições gerais realizadas na Turquia, que transcorreram com normalidade e com a economia como principal assunto.

A economia e a repartição do bem-estar entre a população dominaram a terceira reunião consecutiva com as urnas de Erdogan e de seu AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento), fundado em 2001 por ele e pelo atual presidente da República Turca, Abdullah Gül.

O "milagre econômico" da Turquia na última década é palpável, com um crescimento de 8,9 % em 2010, embora não tenha repercutido tanto em alguns setores como o rural e industrial.

Como exemplo, o desemprego atingiu em março 11,5% da população ativa comparado a 14,4% no mesmo mês em 2010.

Salvo os setores mais suspeitos do laicismo turco, ficou praticamente esquecida a suposta "agenda secreta" de Erdogan para islamizar a Turquia, cujo temor era amplo nas eleições de 2007.

Outras conquistas do dirigente que os eleitores reconheceram nas urnas, além de ter salvado o país da crise econômica, foi a neutralização do então muito influente estamento militar.

Como lembrou um eleitor crítico a Erdogan, 20 % da cúpula militar está atrás das grades por casos relacionados com tentativas fracassadas de golpismo, como o "Ergenekon".

No entanto, sua retórica nacionalista nos últimos tempos prejudicou sua popularidade entre os eleitores curdos, que hoje o castigaram claramente nas urnas.

Nas províncias do sudeste, onde se concentra a população curda, o AKP viu reduzir seu número de votos consideravelmente em benefício dos independentes curdos do Partido da Paz e da Democracia (BDP), que passou de 20 a 35 deputados.

Seu principal rival na oposição, Kemal Kilicderoglu, que dirige desde 2010 o Partido Republicano do Povo (CHP), conseguiu modernizar esta formação, freando a carga do militarismo golpista do passado e aceitando os valores democráticos ocidentais.

Durante a jornada eleitoral só foram registrados incidentes sem consequências graves, como a tentativa de falsificar a identidade em vários casos e uma tentativa de linchar por isso cinco membros do AKP, assim como a morte de três por ataques cardíacos.

Com 95,1% das cédulas apuradas, o AKP obteve 50,4 %, seguido do CHP com 25,8%, do MHP (Partido da Ação Nacionalista) com 13,1% e dos independentes do BDP com 6,2%.

Estes quatro partidos estarão representados no Parlamento de 550 deputados na próxima legislatura de quatro anos. Com isso, Erdogan quer redigir uma nova Constituição mais adaptada a Turquia moderna comparada a herdada dos militares nos anos 1980.

No entanto, os resultados indicam que fica claro que o premiê, de 57 anos de idade, vai ter que desistir de seu sonho de criar um Estado presidencialista ao estilo francês na nova Carta Magna e que agora deverá se ajustar a outros partidos parlamentares e submetê-la a um plebiscito popular.

Para atuar sozinho, o AKP deveria ter conseguido uma maioria absoluta arrasadora de, pelo menos, dois terços do Parlamento, ou 367 cadeiras, número muito afastado dos 326 conseguidos hoje, embora ainda possa ter uma leve variação.

A política externa jogou outro trunfo na campanha eleitoral, mas a integridade, combinada às vezes à arrogância do atual governo, foi um claro motivo de orgulho expressado pelo cidadão, diante todo um afastamento "das regras dos Estados Unidos", como veem alguns de seus rivais mais críticos.

A aproximação e a rejeição da Turquia à União Europeia estiveram na mente não só dos partidos políticos, mas também de eleitores mais conscientes da projeção rumo as relações exteriores da política governamental.


Sem comentários:

Mais lidas da semana