sábado, 15 de dezembro de 2012

REPRESENTANTE DA ONU EM BISSAU CONSIDERA-SE “BODE EXPIATÓRIO” DA CRISE

 

RTP com Lusa
 
O representante da ONU na Guiné-Bissau acredita ter sido feito "bode expiatório" das autoridades "de facto" guineenses por os estados-membros da ONU não terem reconhecido o Governo emanado do golpe de Estado de abril.
 
Em entrevista à Lusa a duas semanas de concluir a sua missão de quatro anos à frente do gabinete da ONU em Bissau (UNIOGBIS), o ruandês Joseph Mutaboba não poupou críticas também à lentidão dos parceiros internacionais em financiar a desmobilização de militares no país, que teria evitado o mais recente golpe de Estado, ocorrido a 12 de abril, que depôs o primeiro-minitro eleito e o Presidente interino.
 
Durante o último debate da Assembleia-Geral da ONU, em setembro, as novas autoridades enviaram a Nova Iorque o Presidente interino de transição, mas este não conseguiu acreditação para discursar em nome do país, facto que causou "frustração" em Bissau.
 
"Precisavam de um bode expiatório e ele foi o Secretariado [da ONU] e o representante. Tornei-me num bode expiatório para todas as palavras duras contra a ONU e secretariado", disse à Lusa.
 
As críticas por vezes "nem sequer distinguiam" entre o Secretariado e os países que têm assento na Assembleia-Geral da ONU e no Conselho de Segurança, vendo a ONU como "uma grande entidade só".
 
Esta "frustração", adiantou, foi também o motivo contra os ataques contra meios da organização em Bissau, já condenados pelo Conselho de Segurança, mas que Mutaboba se escusa a detalhar.
 
Mutaboba confessa ele próprio frustração com a dificuldade de resolução dos problemas da Guiné-Bissau e em chamar a atenção internacional para a crise no país.
 
"Acreditei que teria ajudado a resolver problemas da Guiné-Bissau num tempo curto, mas faltavam elementos", afirma.
 
O representante fez um `briefing` ao Conselho de Segurança nas vésperas do golpe de Estado e considera que a inação do organismo e dos parceiros internacionais foi uma das razões da crise atual.
 
"Agora acreditam todos em mim", afirma Mutaboba, em relação aos alertas ignorados antes do golpe.
 
Em relação à estratégia de 2006 para desmobilizar militares "nada foi feito", em particular na disponibilização de meios financeiros.
 
"Se a União Europeia, a comunidade internacional, pagaram em Moçambique para desmobilizar mais 100 mil pessoas, e funcionou perfeitamente, porque não aceitam sacrifícios para desmobilizar 10 mil na Guiné-Bissau e ter o problema resolvido?", questiona.
 
Mesmo antes de 2012, a desmobilização "devia ter acontecido há muito tempo" e teria evitado a sucessão de crises, defende.
 
Para Mutaboba, o último passo é agora elaborar e entregar ao secretário-geral o seu relatório de conclusão de missão.
 
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana