Ana
Sá Lopes – jornal i, editorial
Netanyahu
diz que há um grande apoio internacional a Israel. Infelizmente tem toda a
razão
Os
Estados Unidos e a Inglaterra pressionam Vladimir Putin às claras e culpam-no
indirectamente pelo abate do avião malaio. A Casa Branca não tem dúvidas: o
czar de Moscovo é responsável pelo armamento dos separatistas e tem de parar
imediatamente o incêndio em território ucraniano.
Merkel
foi mais devagarinho - ao contrário de David Cameron, não tem qualquer
"special relationship" com os Estados Unidos e a que tinha degrada-se
de dia para dia, à medida que vão aparecendo mais espiões americanos. Merkel
telefonou a Putin e acordou com ele uma investigação internacional às
circunstâncias da queda do aparelho.
Mas,
depois de Obama, foi John Kerry a desdobrar-se ontem por vários canais de
televisão americanos, a apontar o dedo à Rússia e ao armamento dos separatistas
levado a cabo pelas autoridades russas. É verdade que quando questionado
directamente sobre se Vladimir Putin foi responsável pelo ataque ao avião,
Kerry resguardou- -se: "Culpado é um termo jurídico", respondeu, mas
apelou à opinião pública: "As pessoas podem fazer o seu próprio
julgamento".
No
dia em que Kerry
pressionou o Kremlin até ao tutano, foi apanhado por um microfone numa conversa
privada onde falava da "operação infernal" que Israel está a levar a
cabo na faixa de Gaza. Interrogado sobre se a sua conversa privada indicava que
pensava que Israel estava a ir longe de mais, Kerry lá foi dizendo que falou no
sentido em que "estas situações são muito difíceis" e que reagiu
"da mesma maneira que toda a gente, no que respeita às crianças e aos civis".
Mas insistiu que Israel tinha o direito de se defender.
O
tremor com que a comunidade internacional reage ao que se está a passar na
faixa de Gaza permite que Benjamim Netanyahu venha dizer, como fez ontem, que
"existe um apoio internacional muito forte" ao massacre na zona.
Tirando o primeiro-ministro da Turquia, Erdogan, que comparou as autoridades
israelitas aos "nazis", a reacção política foi controladíssima. O
secretário-geral das Nações Unidas pediu humildemente a Israel para
"poupar os civis na sua ofensiva". O sentimento de culpa ocidental
pelo anti-semitismo bastante recente (que não foi exclusivo de Hitler e da
Alemanha) redundou na vitória em larga escala dos falcões israelistas. O Hamas
não é uma coisa que se recomende, mas o Ocidente decidiu fazer uma escolha
política. O direito de Israel se defender permitirá tudo - e obriga Kerry e os
outros todos a falar baixinho.
Sem comentários:
Enviar um comentário