quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Estudo indica que 61% da população de Macau apoia sufrágio universal




Macau, China, 17 dez (Lusa) - Um estudo da Universidade de Hong Kong hoje divulgado indica que 61% da população de Macau apoia a introdução de sufrágio universal para eleger o chefe do Governo e 71% quer este método para escolher os deputados na Assembleia.

O estudo foi encomendado pela Novo Macau, a maior associação pró-democracia do território, e apresentado hoje, através de videoconferência, pelo diretor do Programa de Opinião Pública da Universidade de Hong Kong, Robert Chung.

Dos 506 entrevistados, 61% dizem ser favoráveis a uma eleição direta do líder do Governo, enquanto 11% estão contra e 22% são neutros.

A maioria dos que apoia esta medida, 67%, considera que o voto direto devia entrar em vigor já nas próximas eleições, em 2019.

Os que estão contra justificam maioritariamente (45%) a sua posição com a "má qualidade dos eleitores de Macau". Também há quem não deseje mudar o atual sistema (27%) e rejeite a opção para "manter a estabilidade política" (15%).

Em relação à Assembleia Legislativa (AL), onde atualmente há deputados eleitos pela população, eleitos indiretamente através de associações e nomeados pelo chefe do executivo, os inquiridos discordam da atual distribuição dos assentos e gostariam de ver um aumento dos deputados escolhidos pelos residentes.

Os inquiridos preferiam um modelo em que 58,4% do hemiciclo, com um total de 33 assentos, fosse eleito pela população, o que significaria um aumento dos deputados escolhidos por este método de 14 para 19. Em resultado, diminuiriam os indiretos (de 12 para 9) e os nomeados (de 7 para 5).

Para 71% dos inquiridos, no futuro, a totalidade do hemiciclo devia ser eleita pelos residentes, enquanto 11% se opõem à ideia e 15% são neutros. Entre os apoiantes, 68% gostava que a eleição popular de toda a AL acontecesse já nas próximas legislativas, em 2017.

Mais uma vez, os inquiridos que optaram por se opor apontaram como principal justificação a "má qualidade dos eleitores".

Robert Chung, que há vários anos conduz estudos de opinião sobre Macau, disse acreditar que esta preocupação, ainda que manifestada por uma minoria, se prende com receios de "corrupção eleitoral".

"A corrupção é um fator importante e que afeta as eleições. Macau é uma sociedade unida, há muitas ligações sociais, ligações com organizações. Há uma alta possibilidade de corrupção ou tráfico de influências", sugeriu o académico, salientando que esta justificação não foi diretamente apresentada pelos inquiridos.

O investigador considerou que, ao longo dos últimos 20 anos, a opinião pública de Macau tem vindo a acusar transformações, ainda que sobressaia sempre um maior conservadorismo em comparação com Hong Kong.

No entanto, esse hiato começa agora a estreitar-se. "A luta por democracia em Hong Kong teve um certo efeito de contágio em Macau e temos assistido a uma maior mobilização da sociedade civil", disse.

A maioria dos 506 entrevistados para este estudo tem idades entre os 30 e os 49 anos (39%), seguida da faixa etária acima dos 50 anos (35%) e dos jovens entre os 18 e 29 anos (26%). A maioria tem formação superior (45%) e 46% tem um rendimento mensal entre as 10.000 e as 29.999 patacas (entre 1.000 e 3.000 euros). Quase todos (84%) estão recenseados e 80% votaram nas últimas eleições para a AL.

O estudo foi apresentado em videoconferência, em parte devido a receios de que o académico fosse impedido de entrar em Macau, numa altura em que se espera a visita do Presidente chinês, Xi Jinping.

Em época de visitas de individualidades, é comum que as autoridades vetem a entrada de ativistas, deputados e académicos, entre outros.

ISG // VM

Sem comentários:

Mais lidas da semana