A
ida do eleitorado espanhol às urnas resultou, como se esperava, numa soma de
dúvidas. Só há uma certeza: o bipartidarismo está “morto e enterrado” e os
partidos vão ter de negociar, possivelmente “à portuguesa”
a
será o que era”. Os espanhóis acordaram com a “sombra da ingovernabilidade” a
pairar sobre as suas cabeças e os jornais do país vizinho refletem esse estado
de espírito. Há um aspeto comum: têm os olhos postos em Portugal e nos inéditos
acordos à esquerda promovidos por António Costa depois das últimas eleições
legislativas, numa altura em que se desenha o fim do bipartidarismo que tem
marcado toda a História da democracia espanhola.
Rajoy
ganhou, mas não se sabe o quê; Sánchez ganhou em relação às sondagens, mas
registou o pior resultado de sempre do PSOE; o Podemos superou-se, deixando
Pablo Iglesias no centro das decisões; e Albert Rivera, do Ciudadanos,
conquistou menos eleitores do que o esperado mas pode ainda ser uma peça
importante nos acordos pós-eleitorais.
O
“El País” fala da nova composição parlamentar como “um puzzle com mais peças do
que antes, difíceis de encaixar por serem incompatíveis”. Embora noticie “a
sombra da ingovernabilidade”, o editorial deste diário é o mais otimista,
destacando a necessidade de “negociar com espírito construtivo” e “retomar a
via da negociação para resolver os problemas do país”, “depois de quatro anos
em que o diálogo político esteve ausente”. E “esta é a melhor maneira” de
colmatar essa ausência”, defende o matutino.
“PSOE
ESTARIA A COMETER SUICÍDIO”
“Uma
vitória insuficiente, um país difícil de governar”: esta é a descrição que o
“El Mundo” faz no rescaldo das eleições. No editorial desta segunda-feira, o
jornal defende que este é um resultado “agridoce” para Rajoy, que diz ter
“ganho em condições adversas”. De acordo com o “El Mundo“, “seria desejável que
o Ciudadanos apoiasse Rajoy como primeiro-ministro”, uma vez que o matutino não
hesita em classificar um possível acordo à esquerda como “uma amálgama de
formações heterogéneas, condenada de início ao fracasso e difícil de justificar
perante o eleitorado”.
O
jornal vai mais longe e assegura que, a encabeçar um acordo semelhante ao
assinado em Portugal, “o PSOE estaria a cometer suicídio”. Fica no ar a
hipótese de uma “repetição” da ida às urnas, se ninguém conseguir formar uma
solução governativa.
“UM
PACTO À PORTUGUESA”
Já
o “La Razón” segue a mesma linha, defendendo que a oposição espanhola
“capitalizou eleitoralmente quatro anos de esforço e de políticas reformistas
que marcaram o caminho para a recuperação económica”. No editorial, o jornal
refere que “o objetivo [dos partidos de esquerda] é tirar o PP do poder, a
qualquer preço”, destacando que uma fórmula semelhante àquela encontrada por
António Costa é “instável e oportunista”.
O
jornal adianta ainda que os bons resultados registados pelo Podemos podem fazer
com que o partido passe de ser “um perigo para uma salvação” para os
socialistas, que assegura só poderem aspirar a governar tendo em vista “um
pacto à portuguesa”.
UMA
“PROFUNDA MUDANÇA POLÍTICA”
O
diário “La Vanguardia” destaca “a profunda mudança política” que o eleitorado
espanhol mostrou desejar, tendo como resultado “uma situação muito complexa em
que a aritmética não basta”. O jornal prevê que os passos seguintes para a
formação de Governo tragam uma suavização do discurso dos novos partidos,
afirmando que a hipótese de acordo entre PP e PSOE é desejada pelas forças
internacionais mas “nada faz prever” que se concretize.
“PREÇO
PODE SER A INGOVERNABILIDADE”
Por
seu lado, o ABC é claro: “o xadrez político mudou, mas o preço pode ser a
ingovernabilidade”, num cenário em que “os pactos mais prováveis não são
suficientes”. O jornal, que afirma que o líder socialista registou uma “queda
demolidora” e não conseguiu superar a herança dos seus antecessores, destaca,
no entanto, que o facto de o PSOE se ter mantido como a principal força de
esquerda “evita a sombra do PASOK grego”.
Para
o jornal, resta uma certeza: “O verdadeiro vencedor das eleições foi o caos, o
bloqueio, a ingovernabilidade e a Espanha politicamente invertebrada”.
Na
foto: O Podemos de Pablo Iglesias foi apontado como o principal vencedor de
umas eleições que deixaram tudo em aberto / Fernando Villar
Expresso
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