O
verão em Portugal está como é costume. Muito calor. Finalmente. Aos que andaram
por África e outras regiões do mundo vincadamente tropicais sabe muito bem
estas temperaturas de verão. Recorda-nos a juventude naquilo que era agradável.
O clima. Depois vêm à memória as partes odiosas que caracterizaram o
colonialismo, mas essa é outra história. Triste história, muitas vezes hedionda
nas práticas de regimes e safardanas que se diziam civilizados. Diziam, na
prática não eram. Nem são. Nem nunca serão. São, isso sim, mentalidades e
ideologias sabujas que abundam naqueles que se acham e são grandes potências
mundiais. Sendo que os maiores safardanas, os maiores colonialistas, os maiores
criminosos da atualidade, se albergam nos EUA e aliados considerados médias
potências. Caso de Inglaterra, França, Alemanha… e etc. Os restantes não passam
de mainatos desses. Não passam de colonizados que só se consideram livres
devido às cargas ilusórias despejadas pela ação psicológica que utilizam no que
dá vantagem para a tarefa - em enorme percentagem manipulando os meios de
comunicação social. Rede vasta de sabujos a fazerem a cabeça das pessoas para
servirem este sistema corrupto, criminoso, assassino. Em incessante busca dos
lucros exacerbados que rebentam todas as escalas até às desumanidades que
sabemos que praticam.
Na
manhã de praia na paz do senhor falava-se aqui e ali de Nice, sobre o atentado.
Foi triste facto ocorrido em França horas antes. Tão real como a areia que
pelas 11 horas já começava a escaldar milhentos portugueses e estrangeiros que
se esticavam a oferecer-se ao bronze ou em busca de uma sombra. Ou os que em
passo de corrida entravam nas águas atlânticas para se refrescarem e de lá
saíam a pingar e iam aplicar mais
carradas de protetor da pele. Cuidado com o cancro da dita. O sol é amigo mas
“non tropo”. Certo é que sem sol a vida não existiria.
Em
Nice, uma excelente estância balnear mediterrânica francesa, o luto começou
ontem à noite um pouco antes das 23 horas. O Daesh atacou… com um camião (ainda
não foi reivindicado). Sem precisar de avanços tecnológicos ou sofisticações um
só terrorista matou, pelo menos, mais de 80 pessoas (primeiro balanço) que à
beira mediterrâneo tinham acabado de assistir ao fogo de artifício em comemoração
da Tomada da Bastilha. Dia importante para França e para o mundo. A Tomada da
Bastilha foi a derrota da pesporrência, da prepotência em uso pela criminosa
elite francesa alapada a uma monarquia que fazia do povo uns colonizados e
escravizados por uns quantos. Menos de 1%. A Tomada da Bastilha mostrou e
inspirou outros povos do mundo a libertarem-se. Não é só data importante para
os franceses.
Um
terrorista destes nossos dias, com um camião, percorreu cerca de dois
quilómetros a atropelar os que se juntaram na marginal para usufruírem do
espetáculo comemorativo de data tão importante para o mundo. Tomada da Bastilha
que deu o empurrão para uma frase-chave que ainda hoje importa a toda a
humanidade: Liberté, Egalité, Fraternité (Liberdade, igualdade, fraternidade).
Se
é correto que existe proteção para o sol e assim evitar o cancro de pele, já
não é verdade que exista proteção contra o terrorismo na amplitude que
desejaríamos. Tal situação deve-se a um cancro que alastrou e alastra na
humanidade e tem raiz nos atuais 1% que detêm os poderes que dominam e colonizam
os povos. Com os EUA à cabeça, a Inglaterra, a França, a Alemanha e mais uns
poucos a alimentarem o imenso tumor doentio e desumano, criminoso e assassino.
É por isso que há terroristas, e há Daesh, e há outros do mesmo estilo. O
estilo igualmente hediondo que ceifa a vida de povos inocentes.
Disse
o maioral da NATO, Jens Stoltenberg, sobre o atentado monstruoso em Nice: "Terrorismo
nunca derrotará democracia". Que terrorismo? Que democracia? Ele
referia-se ao terrorismo exercido pela NATO ante povos indefesos? E à pseudo
democracia que tem vindo a permitir que criminosos como George W. Bush, Tony
Blair, Aznar e Durão Barroso se mantenham impunes? E aos generais norte-americanos
e seus subordinados que vivem numa duradoura impunidade apesar de serem monstruosos
criminosos de guerra e praticantes de crimes contra a humanidade? Terroristas
do Daesh e de outras latitudes? Sim, claro que são terroristas a partir do
momento em que cometem ações de terror como em 11 de Setembro no Word Trade
Center, em Londres, em Paris. Etc. E o terrorismo conetado com as ações da
NATO? Conetado com as ações dos Aliados no Iraque? E os bombardeamentos
criminosos que os EUA, a NATO, os Aliados praticam e aniquilam homens, mulheres
e crianças absolutamente indefesos e inocentes? Sim, àquilo a que os criminosos
do mundo cruel ocidental chama de “danos colaterais” com a maior das
indiferenças e demonstrações de desumanidade assassina. Esses não são
terroristas? Claro que também são terroristas… como os outros.
E
os drones? E os drones? Indiscriminadamente assassinam terroristas, supostos
terroristas… e inocentes – incluindo crianças. É a sofisticação do terrorismo
do ocidente. Democrático? Civilizado? Ora, ora!
Nem
adianta pôr mais na escrita. Estamos perante a barbárie que não se compadece
com a desumanidade dos crimes que fomenta e comete. Imparável faz as suas vítimas
aos milhares, aos milhões, ano após ano. É esta a cultura ocidental imposta
pela alta finança, usando os políticos e os militares como veículos ao seu
serviço. Por isso há os que se revoltam numa cegueira de ódio que vitima os
povos ocidentais. Povos que em grande parte são responsáveis por votarem e
elegerem os salafrários, ladrões e criminosos que nos conduziram à atual situação.
Situação que não interessa aos europeus, nem aos norte-americanos. Não
interessa a nenhum povo no mundo.
E
a NATO diz… Que credibilidade tem a NATO, os EUA ou a pseudo União Europeia?
O
Expresso Curto de hoje a seguir. Depois têm Martinho Júnior. A ler no PG: INOCENTES
PAGAM PELA AMBIGUIDADE, HIPOCRISIA E CINISMO DAS ELITES EUROPEIAS…
E
depois, fim-de-semana para ganhar coragem. Boa praia, se quiser e puder frequentar.
Os transportes estão muito caros. Facto derivado do terrorismo económico
imposto às plebes, aos escravos modernos que são a maioria da humanidade.
Mário
Motta / PG
Bom
dia, este é o seu Expresso Curto
Valdemar
Cruz - Expresso
22h30
- Promenade des Anglais
O
tempo era de festa. Nas cidades, vilas e aldeias de França celebra-se, a 14 de
julho, a Tomada da Bastilha, o evento decisivo para o início da
Revolução Francesa. Entre os múltiplos programas organizados por cada
comunidade, há uma constante, das maiores cidades, às mais recônditas
aldeias: o fogo de artifício. Foi assim, ontem, em Paris. Foi assim em Nice,
uma cidade da Côte d’Azur. Uma multidão concentrou-se no Promenade des
Anglais para assistir ao momento alto da noite. Pouco passava das 22h30 locais e, de repente, os
gritos, a dor, os olhares aterrorizados, o desespero, as correrias
desordenadas, o pânico. E de repente, onde havia vida tresandava a
morte. Onde havia alegria, escorriam lágrimas. Onde havia prazer e
confraternização, sobrava apenas a frustração. Um camião conduzido por um
franco-tunisino de 31 anos investira contra aquelas mulheres, aqueles homens,
aquelas crianças. A fúria selvagem daquela massa mecânica sobre tanta
gente que nada mais queria, a não ser desfrutar do prazer de assistir ao fogo
de artifício, deixa pelo caminho um discurso de morte. Às 6h15 da manhã em
Portugal, estavam já contabilizados, pelo menos, 84 mortos e dezenas de feridos, e 18 em estado muito grave.
O presidente francês, François Hollande, jáprorrogou por mais três meses o
Estado de Emergência, que devia terminar a 26 de julho.
Nenhuma organização de qualquer natureza reivindicou, até o momento, a autoria do ataque. O condutor do camião alugado há dois dias terá disparado alguns tiros e foi abatido no local pela polícia francesa. Pela documentação encontrada no veículo as autoridades conseguiram perceber que se tratava de um indivíduo já referenciado pela polícia, não por suspeitas de ligações a algum movimento terrorista, mas por crimes de delito comum. As próximas horas serão cruciais para perceber a existência, ou não, das reais motivações incentivadoras de um ato que, em si mesmo, espalhou uma onda de terror, não apenas pela cidade de Nice, onde vivem 10 mil portugueses. As imagens transmitidas ao longo da noite pela cadeia de televisão France 24 são demolidoras quanto ao estado de espírito de uma população francesa massacrada por sucessivos ataques mortíferos. O terror espalha-se como uma onda e provoca infindáveis danos colaterais. Desencadeia rumores, notícias infundadas, amplificações do drama. Ontem à noite, pouco tempo depois do ataque, já as redes sociais estavam inundadas de boatos. Do facebook, do Twitter, os rumores saltavam para as televisões, e já se falava da tomada de reféns em hotéis, de um incêndio em Paris junto à Torre Eiffel, divulgavam-se fotos falsas, seja dos acontecimentos, seja de pessoas tidas como desaparecidas em Nice. Às 0h37 locais, o ministro do Interior francês via-se forçado a divulgar um Twitter através do qual assegurava não haver qualquer tomada de reféns.
As imagens já divulgadas sobre o momento em que o camião se lança contra as pessoas presentes no passeio marítimo são brutais. Há uma crueldade infinita a rasgar aquele momento de comunhão de um povo. O dia da festa nacional de França. Há umaperplexidade incontida face à multiplicação de perguntas às quais podem ser dadas tantas respostas que, no final, não sobra qualquer resposta.
Estamos cansados de mortos. Estamos cansados desta incerteza quotidiana. Estamos cansados de ver as mesmas e ineficazes respostas para problemas cada vez mais complexos. Estamos cansados de ver a cada vez mais previsível reação a cada ataque. Mais tanques nas ruas. Mais polícias muito artilhados. Mais ações na Síria e no Iraque, como ontem se apressou a anunciar François Hollande.Estamos cansados de guerra.
Nenhuma organização de qualquer natureza reivindicou, até o momento, a autoria do ataque. O condutor do camião alugado há dois dias terá disparado alguns tiros e foi abatido no local pela polícia francesa. Pela documentação encontrada no veículo as autoridades conseguiram perceber que se tratava de um indivíduo já referenciado pela polícia, não por suspeitas de ligações a algum movimento terrorista, mas por crimes de delito comum. As próximas horas serão cruciais para perceber a existência, ou não, das reais motivações incentivadoras de um ato que, em si mesmo, espalhou uma onda de terror, não apenas pela cidade de Nice, onde vivem 10 mil portugueses. As imagens transmitidas ao longo da noite pela cadeia de televisão France 24 são demolidoras quanto ao estado de espírito de uma população francesa massacrada por sucessivos ataques mortíferos. O terror espalha-se como uma onda e provoca infindáveis danos colaterais. Desencadeia rumores, notícias infundadas, amplificações do drama. Ontem à noite, pouco tempo depois do ataque, já as redes sociais estavam inundadas de boatos. Do facebook, do Twitter, os rumores saltavam para as televisões, e já se falava da tomada de reféns em hotéis, de um incêndio em Paris junto à Torre Eiffel, divulgavam-se fotos falsas, seja dos acontecimentos, seja de pessoas tidas como desaparecidas em Nice. Às 0h37 locais, o ministro do Interior francês via-se forçado a divulgar um Twitter através do qual assegurava não haver qualquer tomada de reféns.
As imagens já divulgadas sobre o momento em que o camião se lança contra as pessoas presentes no passeio marítimo são brutais. Há uma crueldade infinita a rasgar aquele momento de comunhão de um povo. O dia da festa nacional de França. Há umaperplexidade incontida face à multiplicação de perguntas às quais podem ser dadas tantas respostas que, no final, não sobra qualquer resposta.
Estamos cansados de mortos. Estamos cansados desta incerteza quotidiana. Estamos cansados de ver as mesmas e ineficazes respostas para problemas cada vez mais complexos. Estamos cansados de ver a cada vez mais previsível reação a cada ataque. Mais tanques nas ruas. Mais polícias muito artilhados. Mais ações na Síria e no Iraque, como ontem se apressou a anunciar François Hollande.Estamos cansados de guerra.
OUTRAS
NOTÍCIAS
Preso por ter cão e por não ter
Subverto e recupero de imediato a secção “O que ando a ler” porque tenho há uma semana uma frase a martelar-me a cabeça. O título aqui escolhido não é de tão fino recorte literário, mas percebe-se a ideia. Abala-me a profundidade filosófica do conceitocontida numa expressão com a força das declarações de lugar certo no Olimpo das citações, a par de um Churchill, de um Rei Lear, de um Platão, sei lá, de um Walt Disney: “É-se criticado por ter cão e por não ter”, disse José Manuel Durão Barroso a propósito da sua contratação pela Goldman Sachs. Não percebo, de resto, como pôde o mundo político ter andado décadas distraído e incapaz de aproveitar o potencial contido numa frase como esta.
Ontem, por vários motivos, o tema Barroso veio de novo à superfície e com grande intensidade. Hollande passou ao ataque e foidemolidor para com Monsieur Barroso. Numa entrevista à TF1 considerou a sua opção “moralmente inaceitável”.Já outros membros do governo francês tinham sido bem duros para com o ex-presidente da Comissão Europeia, que, sem honra, nem glória, fizera na passada segunda-feira a capa do Libération. O título: “Sans foi ni Loi”. Por cá,PSD e CDS têm manifestado a maior das compreensões por esta transferência para uma poderosa instituição financeira. Ricardo Costa tenta, no Expresso Diário, enquadrar o assunto. Num primeiro tempo desqualifica as críticas que têm sido feitas a Barroso, mas acaba a dizer que o seu maior erro foi contribuir de forma definitiva para todas as conspirações que existem sobre política e finança .
Nunca lhe perguntei, aliás, creio nunca na vida lhe ter perguntado coisa alguma, mas suspeito ser aquela máxima de Barroso, por estes dias, o pensamento dominante de António Costa. O Primeiro Ministrotem nos braços um governo emparedado, tão acutilante parece ser a ameaça das sanções da Comunidade Europeia, assunto que, curiosamente, não é assunto para a comunicação social espanhola. Costa quer evitar as sanções, mas por outro lado pouco terá feito para as evitar, acusam PSD eCDS. Lá está, preso por ter cão, preso por não ter. Em entrevista ao DN, Passos Coelho diz que a decisão de Bruxelas de castigar Lisboa por não cumprir o défice "é incompreensível", mas responsabiliza o governo, que terá deixado que esse castigo acontecesse "por passividade".
Zeinal Bava e Henrique Ganadeiro voltaram a ocupar o centro das notícias. A SIC anunciava ontem à noite que as suas casas tinham sido alvo de buscas. Mais tarde, a Procuradoria-Geral da República confirmava as buscas no âmbito da “Operação Marquês”. Em causa estão eventuais ligações entre circuitos financeiros investigados naquele inquérito e os grupos PT e Espírito Santo.
Os próximos dias serão de muito calor, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera. A temperatura máxima irá registarvalores superiores a 30ºC em praticamente todo o território. As instituições de saúde têm vindo a divulgar algumas recomendações, às quais devem dar particular atenção os mais idosos. Assim, éimportante manter o corpo hidratado e fresco; proteger-se do calor; utilizar protetor solar com fator igual ou superior a 30; manter as casas frescas. Pode encontrar aqui todas as recomendações proporcionadas pelo Serviço Nacional de Saúde.
Os tribunais, diz o Público, estão a recusar o acesso das famílias a planos de recuperação financeira. Pela primeira vez, a adesão ao mecanismo alternativo á insolvência está em queda e os juízes consideram que só as empresas podem recorrer a estes processos.
Através do Negócios ficamos a saber que o IRS discrimina divorciados. As regras impedem a divisão dos filhos na declaração de rendimentos e, na prática, um dos progenitores fica a perder para o outro.
No DN dá-se conta de uma realidade preocupante quando se noticia que os hospitais públicos estão cada vez mais dependentes de tarefeiros. Nos primeiros cinco meses deste ano, os serviços já gastaram mais cinco milhões de euros do que em período homólogo do ano passado.
Beyoncé, Alicia Keys, Rihanna, Bono, ou Pharrell Williams são alguns dos artistas que num vídeo emocionado e emocionante falam sobre a morte de negros alvejados pela polícia norte-americana. É uma ação inserida na campanha #23Ways, pensada para denunciar as injustiças raciais nos Estados Unidos da América. O objetivo é conseguir juntar €140 milhões – o exato custo do envio para o espaço da nave Apollo – para investir aquele dinheiro em programas destinados a zonas desfavorecidas. Vão ter críticas. Se não falam, é porque não falam. Se falam… Lá está o problema do cão.
FRASES
“Cada vez tenho menos dúvidas que com a prossecução desta política europeia e com este pacto, muito dificilmente a Europa virará a sua trajetória económica e encontrará um caminho robusto de crescimento económico”. António Costa, Pirmeiro Minsitro
“Portugal fez um esforço estrutural muito maior do que a França”.Pedro Passos Coelho em entrevista ao DN
“Juridicamente é possível (ida de Barroso para a Goldman Sachs), mas moralmente é inaceitável”. François Hollande, presidente da república francesa
“A decisão de Durão Barroso demonstra a enorme promiscuidade que existe hoje entre as instituições da EU e o grande capital financeiro”. João Ferreira, eurodeputado do PCP na SIC Notícias
O QUE ANDO A LER E A OUVIR
Já se percebeu que ando a tentar entender a dimensão filosófica da frase “É-se criticado por ter cão e por não ter”. Já passei os olhos por Aristóteles, Heidegger, Marx, ou Deleuze, Nem assim chego lá. Creio, até, que vou por fim decidir-me a fazer a assinatura da Philosophie Magazine. Entendamo-nos, a frase não é dita pelo motorista do autocarro em altercação com um passageiro apressado. Sai da sibilina boca do ex-presidente da Comissão Europeia. Tem de significar algo de sublime. Temos de entender. Para isso lemos.
Por exemplo, Manuel Jorge Marmelo, vencedor do prémio do Festival Correntes d’Escritas com o livro “Uma mentira mil vezes repetida”. Sai-se agora com “Macaco Infinito”, todo ele passado num bordel onde impera Paulo Piconegro, o patrão paralítico, sentado numa cadeira de rodas, que tudo controla e a quem todas as putas (é o termo escolhido pelo autor) veneram, algumas desejam, e outras seguem com olhar servil. Deliciosa metáfora sobre a Europa que temos e o tempo que nos coube viver, o romance parte de uma ideia genial: se sentarmos um macaco a uma máquina de escrever por tempo indeterminado e sem limite, o animal acabará por conseguir escrever uma obra-prima ao nível de um Shakespeare ou de um Cervantes. Wakaso, o criado negro, está lá, ao serviço de Piconegro, para demonstrar a eficácia do teorema do Macaco Infinito.
Leitura quase terminada é o muito bom – não obstante o título, não obstante a capa – “Doce Carícia”, de William Boyd. Fez-me lembrar amonumental biografia do desconhecido poeta novecentistaTiago Veiga, escrita por Mário Cláudio. Também aqui, o premiado Boyd inventa umj biografia, a da fotógrafa Amory Clay e aproveita para contar três histórias: a da fotografia, a do século XX e a de Amory. Nascida com os alvores da I Grande Guerra, atravessa o século de máquina em punho. Vive as consequências do escândalo provocado por uma sua primeira exposição com fotos de mulheres nuas num bordel de Berlim, fotografa festas sociais, éagredida numa manifestação fascista em Londres, faz reportagem de guerra, e, enquanto viaja ao passado, transporta-nos para as deambulações do seu presente. Amory é uma poderosa voz feminina, mesmo se em dada altura se classifica a si própria como uma relíquia do passado.
Amanhã o Expresso começa a publicar uma seleção de obras de Camilo Castelo Branco. Arranca com “Amor de Perdição”, que deuum dos grandes filmes de Manoel de Oliveira. Escrito em apenas 15 dias, quando Camilo esteve preso na Cadeia da Relação do Porto devido aos amores adúlteros com Ana Plácido, com quem compartilhou cadeia, mas em celas diferentes, o romance retrata a tragédia amorosa entre Teresa Albuquerque e Simão Botelho, figura inspirada, outros diriam decalcada, de um tio de Camilo. Era visto como um permanente causador de problemas e acabou enviado para o degredo, não por qualquer crime passional, como Simão Botelho, mas por crimes bem mais graves. Na cadeia, Ana Plácido dispunha de criada e tinha um piano ao seu dispor. Conta-se que quem por ali passava conseguia por vezes ouvir a lânguida voz deAna a tocar e cantar árias da Traviata. Uma boa forma de entrar nos bastidores desta criação camiliana é pegar no indispensável “Camilo Broca”, de Mário Cláudio, até para se ficar a saber que “Brocas” era um dos apelidos da família de Camilo. Já agora, aproveite para visitar a Cadeia transformada em Centro Português de Fotografia e visite a cela onde o escritor esteve preso.
Está servido o seu Expresso Curto. Ao longo do dia terá toda a informação no
Expresso On line e no Expresso Diário. Ao longo dos próximos dias
experimente ouvir os artistas que preenchem o cartaz
do Festival Músicas do Mundo, que decorre em Sines de 22 a 30 de julho. É,
no género, um dos melhores da Europa e traz-nos as músicas que
escapam às formatadas listas da generalidade das rádios.
Sem comentários:
Enviar um comentário