sexta-feira, 15 de julho de 2016

O CREPÚSCULO DA OTAN – com vídeo


A nova sede da Aliança, em Bruxelas, acaba de ser construida pela módica soma de mil milhões (um bilião-br) de dólares.

Thierry Meyssan*

A história da Otan e as suas acções actuais permitem compreender como o Ocidente construiu as suas mentiras e porquê está agora refém delas. Os elementos contidos neste artigo são chocantes, mas é impossível desmentir os factos. Quando muito podem-se agarrar às mentiras e persistir em manter-se nelas.

O que é a Aliança é hoje em dia

Cada Estado-membro é solicitado a armar-se para participar nas próximas guerras e a isso consagrar 2% do seu PIB, mesmo se ainda se está, na realidade, longe do exigido. Como estes armamentos devem ser compatíveis com as normas da OTAN solicita-se que sejam comprados em Washington.

Claro, restam ainda algumas produções nacionais de armamento, mas não por muito tempo. No decurso dos últimos vinte anos, a OTAN forçou sistematicamente o encerrar das fábricas de aeronáutica militar dos seus Estados-Membros, salvo a dos Estados Unidos. O Pentágono anunciou a criação de um avião multi-tarefas, a um preço imbatível, o F-35 Joint Strike Fighter. Todos os Estados o encomendaram e fecharam as suas próprias fábricas. Vinte anos mais tarde, o Pentágono ainda não está em condições de produzir um único destes aviões multi-tarefa e continua a apresentar durante as feiras de armamento aviões F-22 reciclados. Os clientes são constantemente solicitados a financiar as pesquisas, enquanto o Congresso estuda o relançamento da produção de antigos aviões porque, provavelmente, o F-35 jamais verá a luz do dia.

A OTAN funciona, portanto, como uma empresa de extorsão: os que não paguem terão de enfrentar atentados terroristas.

Tendo os EUA empurrado os seus aliados para se tornarem dependentes da sua indústria militar cessaram de a aperfeiçoar. No entretanto, a Rússia reconstituiu a sua indústria de armamento e a China está prestes a fazê-lo. No momento, o exército russo já ultrapassou o Pentágono em matéria de armamento convencional. O sistema que pôde colocar no Oeste da Síria, no mar Negro e em Kaliningrado permite-lhe desactivar os sistemas de comando da OTAN, os quais tiveram que renunciar a vigiá-la nestas regiões. E, em material aeronáutico, ela produz já aviões multi-função de deixar verdes de inveja os pilotos da Aliança. A China, por sua vez, deverá ultrapassar a OTAN em material convencional daqui a dois anos.

Os Aliados assistem, pois, à decrepitude da Aliança, que é também a sua, sem reagir, com a excepção do Reino Unido.

O caso do Daesh (E.I.)

Após a histeria dos anos 2000 a propósito da Al-Qaida, um novo inimigo nos ameaça: o Emirado Islâmico no Iraque e no Levante, conhecido como «Daesh». Foi pedido a Todos os Estados-Membros foram solicitados a juntarem-se à «Coligação Mundial» (sic) para o derrotar. A cimeira de Varsóvia felicitou-se pelas vitórias conseguidas no Iraque, e mesmo na Síria, apesar «da intervenção militar da Rússia, a sua significativa presença militar, o seu apoio ao regime» que constituem uma «fonte de riscos e [de] desafios suplementares para a segurança dos Aliados» (sic) [1].

Tendo toda a gente percebido muito bem que o Emirado Islâmico tinha sido criado, em 2006, pelos Estados Unidos, garantem-nos que a organização hoje em dia se voltou contra eles, como nos tinham impingido a propósito da al-Qaida. Mesmo assim, a 8 de Julho, enquanto o Exército árabe sírio combatia contra grupos terroristas, entre os quais o Daesh (EI), a Leste de Homs, a Força aérea americana veio apoiá-los durante quatro horas. Desta vez para benefício do Daesh com o propósito de destruir metodicamente o “pipeline” ligando a Síria ao Iraque e o Irão. Ou, novamente, aquando dos atentados de 4 de Julho na Arábia Saudita (nomeadamente face ao Consulado norte-americano de Jeddah, do outro lado da rua) o Daesh utilizou explosivos militares high tech (alta tecnologia) que actualmente só o Pentágono possui. Não é, pois, difícil compreender que com uma mão o Pentágono combate o Emirado Islâmico em certas zonas, enquanto, com a outra, lhe fornece armas e um apoio logístico em outras zonas.

O exemplo ucraniano

O outro bicho-papão é a Rússia. As suas «acções agressivas (…) e incluindo as suas provocadoras actividades militares na periferia do território da OTAN, e a sua vontade revelada de atingir objectivos políticos através da ameaça ou do emprego da força, constituem uma fonte de instabilidade regional, representam um desafio fundamental para a Aliança» (sic).

A Aliança reprova-lhe ter anexado a Crimeia, o que é exacto, negando aqui o contexto desta anexação: o golpe de Estado organizado pela CIA em Kiev e a instalação de um governo que inclui nazis. Em suma, os membros da OTAN têm todos os direitos, enquanto a Rússia violaria os acordos que tinha concluído com a Aliança.

A cimeira de Varsóvia

A cimeira não permitiu a Washington colmatar as brechas. O Reino Unido que acaba de pôr um fim à sua «relação especial» saindo da União Europeia recusou-se a aumentar a sua participação na Aliança para compensar o esforço que cancelou no seio da UE. Londres refugiou-se atrás da sua próxima mudança de governo para iludir as questões.

No máximo puderam tomar duas decisões: instalar bases permanentes na fronteira russa e desenvolver o escudo anti-míssil. Sendo a primeira decisão contrária aos compromissos da OTAN, agirão instalando tropas que alternarão de modo que não haverá aí nenhum contingente permanente, mas, em que as tropas estarão sempre presentes. A segunda consiste em utilizar o território de Aliados para aí colocar soldados norte-americanos e um sistema de armas. Para não vexar os povos que ocuparão, os Estados Unidos aceitaram colocar o escudo anti-míssil não não sob o seu comando, mas sob o da OTAN.

O que apenas muda no papel, já que o Comandante supremo da Aliança, actualmente o general Curtis Scaparrotti, é obrigatoriamente um oficial norte-americano nomeado unicamente pelo Presidente dos Estados Unidos.

Thierry Meyssan* – Voltaire.net - Tradução Alva

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).


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