segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Portugal: ACELERAR ALTERNATIVAS




Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

As ideias e propostas que Passos Coelho transmitiu aos portugueses, no passado dia 14 de agosto, desafiam as forças políticas, sociais e económicas e os cidadãos que dizem não à política de desastre nacional a um esforço redobrado para a construção de políticas e soluções governativas alternativas, que tragam progresso para o país.

O discurso foi, em vários aspetos, um desastre. Não porque o cidadão Passos Coelho estivesse menos feliz ou se "espalhou", mas sim porque as políticas da governação externa (da troika) e, em particular, da governação interna (do PSD/PP) são desastrosas. Elas estão a infernizar a vida de milhões de portugueses no imediato e a comprometer o nosso futuro coletivo.

As mensagens de Passos Coelho, primeiro-ministro (PM) de Portugal, devem ser tomadas como um facto de relevo face ao seu conteúdo e ao contexto político em que vivemos.

O PM nada disse sobre o enquadramento de Portugal na União Europeia (U.E.) e sobre as políticas erróneas que estão a ser impostas nesse espaço; ignorou o significado dos graves indicadores sobre o emprego e a economia conhecidos nos últimos dias, e não apresentou nenhuma medida política nessas áreas vitais; vendeu gato por lebre e prometeu o que não poderá cumprir; colocou a Constituição da República Portuguesa como obstáculo e relevou uma patranha a que chama "regra de ouro" para, numa conceção neoliberal e retrógrada, justificar o não investimento e atacar a solidariedade entre gerações; anunciou aos portugueses mais austeridade, sem um mínimo de garantia de os violentos sacrifícios nos conduzirem a um futuro melhor.

O PM não pode, com verdade, dizer que "no mais importante ganhámos", pois, nem com todas as manipulações contabilísticas e com os saques feitos diretamente aos trabalhadores e ao povo, vai cumprir os objetivos de redução do défice.

O PM sabe que a dívida continuará a aumentar. Os juros e compromissos de Portugal para com os seus credores (e agiotas) conduz inevitavelmente para aí, e a nossa economia está a debilitar-se. A produção industrial caiu 4,4% num ano. As exportações estão a desacelerar e o contexto europeu não lhes vai ser favorável.

Temos crescimento da exportação de ouro, o que não admira quando vemos proliferar por cidades e vilas as casas de "Compra e Venda". Os portugueses estão a vender os anéis para sobreviver e as políticas seguidas aprisionam-lhes os dedos e as capacidades físicas e intelectuais.

Como pode Passos Coelho dizer que "no mais importante ganhámos" perante a violenta destruição de emprego, que num ano atingiu mais 205 mil pessoas, ou quando temos 827 000 desempregados e cerca de 1,3 milhões de desempregados e subempregados?

Como pode ser feita aquela afirmação perante os graves bloqueios com que se depara a juventude?

Um estudo conhecido esta semana mostra-nos cerca de 70% dos alunos universitários a pensarem emigrar, surgindo à cabeça os estudantes de engenharia, de tecnologias e de arquitetura. A emigração de jovens (muitos qualificados) em massa e a existência de uma baixa taxa de fertilidade condicionarão o desenvolvimento da sociedade portuguesa por longo tempo.

É uma autêntica fraude dizer que vai haver crescimento económico num quadro de acentuada quebra salarial, de inexistência de investimento, de privatizações oportunistas, de destruição de empresas, de reformismo retrógrado no ensino e na saúde, de aumento dos combustíveis e das rendas de casa.

Para o PM quais são os reais problemas dos portugueses?

Este discurso torna mais urgente "mobilizar as energias e procurar os denominadores comuns entre todos os que estão disponíveis para realinhar as alianças na U.E. e reforçar a frente dos que se opõem à austeridade e pugnam pela solidariedade, pela coesão social, pelo Estado de Bem-Estar e pela efetiva democratização das instituições europeias" como é assumido na "Convocatória para um Congresso Democrático das Alternativas".

Travar o ciclo vicioso austeridade/recessão/austeridade é hoje um imperativo que não se compadece com ciclos eleitorais normais.

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