sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Moçambique: CONGRESSO FRELIMO XXL, GUEBUZA MOSTRA FORÇAS E FRAQUEZAS?

 


Congresso será "à medida de Armando Guebuza" - analista
 
21 de Setembro de 2012, 09:29
 
Maputo, 21 set (Lusa) - O jornalista e analista Lázaro Mabunda considera que o X Congresso da Frelimo, partido no poder em Moçambique, será "à medida" do seu Presidente, Armando Guebuza, e servirá de plataforma para ele se manter no poder.
 
A Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), no poder há mais de 37 anos, realiza o X Congresso de 23 a 28 de setembro em Pemba, norte do país, e nele serão eleitos o presidente do partido, o Comité Central e a Comissão Política.
 
Para Lázaro Mabunda, editor do diário O País e analista político, com base nas declarações dos dirigentes do partido, principalmente do secretário-geral, Filipe Paúnde, a reeleição de Armando Guebuza na presidência da Frelimo "será um problema menor ou mesmo um não problema para o Congresso", por já estar garantida.
 
"A continuação de Armando Guebuza na presidência do partido está na lógica da solução de estabilidade governativa até ao fim do seu segundo mandato em 2014. Como ele é Presidente da República até 2014, não vai querer um presidente do partido que não seja ele", observa Lázaro Mabunda.
 
Ao dar indicações de que Armando Guebuza deve manter-se na presidência do partido até 2014, a direção da Frelimo quer influenciar o Congresso de Pemba a manter a tradição de o chefe de Estado oriundo desta formação política ser igualmente presidente do partido, para se evitar "um chefe de Estado cosmético, que recebe ordens do presidente" do partido.
 
"Joaquim Chissano teve de renunciar à presidência do partido em 2005, quando Armando Guebuza ascendeu à Presidência da República, para se evitar uma situação de dois centros de poder", recorda o jornalista.
 
Contudo, assinala Lázaro Mabunda, o principal receio é que Armando Guebuza se mantenha na presidência do partido para além de 2014, "ofuscando" um Presidente da República da Frelimo, caso o partido vença as eleições presidenciais desse ano, como é provável.
 
"Guebuza pode querer continuar na Presidência por via da presidência do partido, porque os estatutos da Frelimo dão poder ao presidente do partido sobre o Presidente da República, que seja do partido, e sobre o Governo", enfatiza o jornalista.
 
Mabunda considera que a alegada pretensão do atual chefe de Estado de querer alterar a Constituição para conseguir um terceiro mandato, projeto entretanto gorado, aumenta o receio de que Armando Guebuza pode não abdicar da direção do partido, para manter a influência sobre a governação.
 
"Há muitos interesses em jogo para que ele queira continuar no poder. O controlo dos recursos naturais que estão a ser descobertos faz-se através do controlo político e ele tem interesses empresariais", considera Lázaro Mabunda.
 
Para o editor do diário O País e analista, a influência que Armando Guebuza tem sobre as bases do partido e sobre a preparação do Congresso criou condições para que este seja realizado à sua medida.
 
"Acho que vai ser um Congresso favorável a Guebuza. A máquina partidária ao nível das bases é leal ao Presidente. Será contestado ao nível dos quadros do topo, mas terá o apoio das bases, que são a maioria", antevê.
 
E os apoios no Congresso de Pemba vão determinar qual das principais tendências internas consegue colocar os seus apoiantes no Comité Central e na Comissão Política e construir uma composição que lhe será favorável na indicação do seu candidato à Presidência da República, explica.
 
"Ao nível do aparelho partidário, Armando Guebuza parte em vantagem. Dependerá mais do seu bom senso, se respeita ou não a tradição de a Frelimo ter um Presidente da República que é também presidente do partido e assim evitar conflitos entre esses dois centros de poder", frisa Lázaro Mabunda.
 
PMA
 
"Força do partido" impede a personalização -- politóloga portuguesa
 
21 de Setembro de 2012, 09:29
 
Pemba, 21 set (Lusa) - A "força das estruturas" da Frelimo impede a personalização do partido e uma situação idêntica à da Rússia, com "alternância combinada de poder", defendeu, em entrevista à Lusa, Elisabete Azevedo, professora nas universidades católicas portuguesa e moçambicana.
 
O cenário de um duplo poder, com o futuro Presidente da República submetido ao comité central da Frelimo, controlado pelo atual chefe de Estado, Armando Guebuza, domina a discussão política no país, na véspera do X Congresso do partido no poder em Moçambique.
 
"Até agora, o Presidente da República, independentemente de quem ocupou o cargo, pelo desenho constitucional "não deve obediência" a nenhuma instituição politica a não ser ao eleitorado no final do mandato, em caso de uma recandidatura", começou por dizer a politóloga portuguesa.
 
"A Frelimo já teve várias lideranças, o que tem reforçado as estruturas do partido e evitado a "personalização" do partido, acrescentou Elisabete Azevedo, que rejeitou qualquer comparação com o atual modelo russo de "alternância combinada" de poder.
 
"A situação talvez mais parecida terá sido a de Thabo Mbeki, em 2007, que, também na impossibilidade de se recandidatar à Presidência sul-africana, candidatou-se, em 2007, à liderança do ANC. No entanto, esta comparação parece não ser válida no seu resultado, uma vez que Mbeki foi derrotado no congresso enquanto tudo indica que tal não acontecerá no congresso da Frelimo", defendeu a académica.
 
Armando Guebuza, impedido constitucionalmente de se recandidatar à Presidência da República, em 2014, é o candidato à sua sucessão na liderança da Frelimo, no X Congresso do partido que arranca no domingo em Pemba, no norte do país.
 
Pelos estatutos partidários, é o comité central que orienta o governo do país, dirigido pelo Presidente da República, no caso de este ser oriundo do partido, o cenário mais provável para o desfecho das eleições de 2014.
 
Essa possibilidade tem levantado questões por parte de setores da sociedade moçambicana que consideram que Guebuza, mesmo abandonando a Ponta Vermelha (residência dos presidentes moçambicanos) controlará o seu sucessor, reforçando o seu poder, cenário que a politóloga portuguesa rejeitou.
 
"Recordo que já em 1986, durante o sistema monopartidário, quando o partido poderia ter tido a tal "personalização", com a forte liderança de Samora Machel, a assembleia monopartidária na altura, Assembleia Popular, decidiu que Samora não podia continuar a ser Presidente da República e presidente da Assembleia Popular", justificou Elisabete Azevedo.
 
LAS
 
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
 
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