segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Portugal: OS 20 SEGUNDOS INACEITÁVEIS DE PASSOS COELHO

 

Henrique Raposo – Expresso, opinião, em Blogues
 
 
A questão era só uma: como é que o governo substituiria aqueles dois mil milhões de despesa pública? Na minha santa ingenuidade, eu pensei que o governo iria manter as agulhas na despesa; assumi que aquelas cabeças iriam ter a gentileza de pensar que "ok, os senhores juízes do soviete não deixam cortar os subsídios, logo, vamos procurar os dois mil milhões nas 14 mil entidades que dependem do Orçamento, nem que seja preciso baixar administrativamente os salários dos funcionários públicos tal como fez Teixeira dos Santos em 2010, tal como fizeram os irlandeses em 2009".
 
O primeiro-ministro não teve esta gentileza, e lançou um novo aumento de impostos através da segurança social. Cortes na despesa, despedimento de funcionários excedentários, encerramento de institutos e departamentos sem sentido? Passos Coelho falou durante 10 ou 15 minutos, mas só dedicou uns 20 segundos a este tema, assim ao estilo de um "ai, já me esquecia, também vamos lidar com as fundações e PPP". 20 segundinhos sobre cortes na despesa num país soterrado em impostos devido à enormidade da despesa pública; 20 segundos de vacuidade sobre uma das principais causas da alunagem da troika no Terreiro do Paço. É caso para dizer que o Dr. Passos está a ser piegas com a despesa e com o Estado.
 
Tirar dois subsídios ao funcionalismo não era uma reforma do estado, era uma solução de aperto. Um ano depois, este governo tinha a obrigação de ter na mão um plano concreto para a redução do número de funcionários, do número de fundações, do número de institutos, etc., etc., etc. Aliás, este tema devia ter sido o foco central do discurso de Passos. O primeiro-ministro devia ter passado vários minutos a anunciar o encerramento de xxx fundações e a retirada de x.xxx milhões às PPP. Se quisesse ter legitimidade para impor um novo aumento de contribuições destinadas ao curto prazo, este governo só tinha um caminho: apresentar um programa claro e duríssimo de corte na despesa que aliviasse as contas a médio-prazo; só isso permitiria ao contribuinte pensar que "pá, estou a pagar agora, mas ao menos a despesa vai baixar depois". Após um ano de troika, este governo foi incapaz de executar esta política, foi incapaz de fazer este discurso. E isto não se perdoa.
 

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