segunda-feira, 1 de abril de 2013

POR UMA CULTURA DE PAZ EM ÁFRICA




Filomeno Manaças – Jornal de Angola, opinião

Em vésperas de completar mais um aniversário do fim do conflito armado que dilacerou o país e deixou profundas marcas que os angolanos procuram apagar com o esforço diário de reconstrução, Angola acolheu durante três dias o Fórum Panafricano sobre Cultura de Paz.

No próximo dia 4 de Abril os angolanos celebram uma das datas mais importantes para a História do país. A data marca o fim do longo conflito militar, que ceifou milhares de vidas humanas, e significou a abertura do processo de reconciliação política e das portas para o desenvolvimento social e económico.

Onze anos passados os angolanos podem orgulhar-se de terem dado passos seguros e decisivos para cimentar a paz conquistada e prosseguir na via da sua consolidação. Para um país que viveu praticamente três décadas de guerra fratricida, é óbvio que onze anos é pouco tempo para se poder dizer que as feridas do conflito armado estão completamente saradas. Mas os angolanos sentem-se orgulhosos do que já foi feito, que não é pouco, e estão confiantes no trabalho que está em curso. Mais do que isso, acreditam que os resultados serão fantásticos.

Onze anos depois do fim da guerra, a realização em Angola do Fórum Panafricano sobre Cultura de Paz acaba por ter o sabor de um reconhecimento do empenho laborioso dos angolanos em construir um país renovado, onde os valores da democracia, do diálogo e do progresso económico são a bússola que nos vai conduzir na construção de um grande país, de uma nação desenvolvida.

Muitas das grandes nações de que hoje ouvimos falar e que são reconhecidas como tal também tiveram no seu percurso histórico momentos de profundas convulsões e turbulências. Foram literalmente varridas pela guerra que em diferentes períodos colocou os seus povos na mais profunda e indigente miséria, ao ponto de faltarem alimentos para a sua própria sobrevivência. Os Estados Unidos da América e a Europa em particular têm no seu histórico exemplos que são hoje estudados em todo o mundo. A Europa, onde há 68 anos a II Guerra Mundial deixou vários países em destroços, beneficiou do plano Marshall para poder reerguer-se dos escombros. A reconstrução levou décadas e décadas.

Angola tem a sua própria experiência dos efeitos da guerra e bem presente o facto de lhe ter sido negado apoio quando precisou desesperadamente de uma conferência internacional de doadores para reunir fundos para a sua reconstrução. Todavia, os angolanos têm plena consciência de que saíram de um abismo e que, por mais árdua que seja a caminhada, é firme a determinação de construir uma sociedade de paz, ainda que haja quem diga que “por enquanto, as armas estão nas arrecadações e só saem em momentos próprios…”

Conhecemos não apenas os efeitos materiais de uma guerra como também e sobretudo as suas consequências sociais. Vimos como muitas famílias perderam os seus ente queridos, sabemos o quão doloroso é ter pessoas mutiladas a deambular sem eira nem beira pelas cidades em busca de alimentos, e não é preciso alguém vir nos dizer o que pode acontecer com as escolas e as crianças em muitas localidades.

O atraso na educação e o fomento da pobreza são os primeiros resultados. O país perde na formação de quadros e acentua-se o atraso económico e social. Foi isso que Angola viveu durante os vários anos em que a guerra impediu que as estradas fossem reabilitadas e construídas novas, que fosse feita a reabilitação dos caminhos-de-ferro que se desse nova projecção à economia nacional, que os investimentos chegassem a todas as províncias do país para construir o bem-estar e a progressiva melhoria da qualidade de vida das populações.

O Fórum Panafricano sobre Cultura de Paz tratou de fazer uma abordagem multidisciplinar sobre as condições essenciais à promoção da concórdia com vista a estabilidade política, económica e social dos países do continente africano. Não é demais referir que a intervenção do Presidente José Eduardo dos Santos é não só de aplaudir como de reter, pelo facto de apontar premissas indispensáveis para que a cultura de paz em África seja um facto e se consolide, premissas essas das quais muitos políticos africanos preferem manter-se arredados, tornando o seu papel redutor e potenciador de conflitos, em desarmonia com os mais sublimes valores da democracia, entretanto tidos como sagrados e respeitados por quem faz política na Europa ou nos Estados Unidos.

A recusa do princípio da confrontação violenta para dirimir questões de natureza interna e mesmo as que possam eventualmente ocorrer a nível, e a defesa da concertação e negociação permanentes, até chegar-se a um acordo que dê respostas às aspirações de todas as partes envolvidas, em conformidade com a salvaguarda dos superiores interesses nacionais, tais como a soberania, a unidade e integridade da nação, e o respeito pela dignidade humana, representam não apenas uma ideia lapidar como constituem ponto sobre o qual não se deve transigir. Ninguém com visão se desfaz desse compromisso.

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