Baptista-Bastos – Diário de Notícias, opinião
Estávamos
habituados aos rituais das palavras comuns, eis senão quando se introduziu uma
outra, levemente rastejante como um verme, que sobressaltou a rotina dos nossos
dias: swap. Não é um acrónimo, como pode parecer: é uma expressão inglesa que
possui um significado ameno mas, pelos vistos, com resultados inquietantes.
Permuta, troca, aqui está o que quer dizer a palavra. Permuta entre bancos,
para exprimir o exacto sentido de swap. E começa agora a turbulência do que
está em causa. Quando mete bancos as pessoas vulgares estremecem de receios,
densas vezes bem justificados. O mundo dessas organizações, é mais secreto do
que parece, e tudo o que respeita a dinheiro pode conduzir a tudo o que
respeita ao que de pior se oculta entre os homens. Depois, o processo bancário
é o grande pilar do sistema, no qual os enredos chegam a ser charadas
impenetráveis.
A polémica
portuguesa actual sobre os swaps resulta do grande imbróglio financeiro e,
diga-se de passagem, é uma componente dos modos capitalistas usuais. Ao que
chegámos a entender, foram criados esses "produtos" como salvaguarda
de aldrabices e embustes, que alguns bancos propuseram aos Governos, a fim de
estes viciarem as contas públicas e os orçamentos gerais do Estado. José Sócrates
recusou a proposta, diga-se de passagem. A rede é imensa e complexa. Até agora,
apenas meia dúzia de indicados, sem haver muitos acusados, a não ser alguns
bancos e agentes secundários. Por portas travessas, alguns treparam a postos
governamentais, lugares privilegiados para a negociata.
Porque de negociata
se trata. A natureza dos swaps traduz-se em riscos imponderáveis, e nada indica
que os bancos sejam, em primeira ou última instância, os prejudicados. Quando,
longinquamente, o são, os contribuintes pagam a vazada, através de tributações
e impostos violentíssimos. Como se tem visto.
A cultura do
capitalismo passou a ser a cultura do não interdito. Quase tudo é permitido,
porque a inconsistência da autoridade e a cada vez mais acentuada crise de valores
estimulam o vandalismo da alma que nos empurra para este tipo de sociedade. A
ganância, o lucro pelo lucro sem limites nem peias morais, tornaram-se
cartas-de-alforria de uma época que se esvaziou de sentido.
Os partidos são
cada vez mais semelhantes, e o caso do PS, conluiado ideologicamente com o PSD,
não é original português: faz parte da crise geral da Esquerda que atravessa a
Europa. Nos swaps, a responsabilidade política terá de ser dividida entre
aqueles dois partidos. Nenhum deles sai impune da embrulhada, assim como nenhum
deles é capaz de no-la explicar com seriedade. Somos os excluídos das grandes
questões que nos afectam directamente. O poder financeiro favelou-nos,
uniformizando o empobrecimento como doutrina, para que uma classe dirigente
reduzida adquira um poder quase patogénico.
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