terça-feira, 30 de setembro de 2014

Hong Kong: “Guerreiros da Democracia” repousam. Pequim continua a recusar mais democracia




Manhã invulgarmente tranquila na metrópole financeira asiática

30 de Setembro de 2014, 17:23

Fátima Valente, da agência Lusa

Hong Kong, China, 30 set (Lusa) -- Hong Kong teve uma manhã atipicamente calma para a metrópole conhecida como centro financeiro e de negócios internacional, com um ambiente radicalmente diferente do cenário violento de domingo, quando forças antimotim lançaram gás lacrimogéneo sobre os manifestantes.

Apesar de se manterem as transações na Bolsa de Valores de Hong Kong, o mercado financeiro sentia impactos dos protestos, tal como outras praças financeiras internacionais, e o principal índice, o Hang Seng, registava perdas de 1,2% a meio da sessão, depois de na segunda-feira ter encerrado em baixa de 1,9%.

A compra e venda de ações estavam em linha com a banca e o retalho sobretudo das grandes marcas de luxo, com muitos bancos e lojas encerrados desde segunda-feira. Hoje, às 09:00 (02:00 em Lisboa), um total de 37 sucursais ou escritórios de 21 bancos tinham sido afetados pelos protestos do movimento 'Occupy Central' e estavam temporariamente encerrados, segundo um comunicado publicado no portal do Governo.

Por volta da mesma hora, o South China Morning Post divulgava a informação de que aeronaves sobrevoaram Victoria Harbour. "Não se sabe a razão dos movimentos, mas o seu alinhamento faz supor que seriam aparelhos do Governo ou militares", lia-se no alerta emitido pelo jornal em língua inglesa.

A informação não foi, entretanto, passível de confirmação pela agência Lusa. Uma ativista disse que poderia ser uma operação de rotina, como o transporte de doentes para um dos hospitais da cidade.

Durante a manhã, nas principais avenidas do que se seria equivalente à Baixa de Lisboa -- zona entre Central e Causeway Bayway que compreende as estações de metro de Wanchai e Admiralty (sede do Governo) --, o percurso era também feito a pé pelo meio da via pública em passo descansado, como quem dá um passeio de domingo.

Manifestantes, curiosos ou transeuntes a caminho do trabalho aproveitavam para tirar fotografias nas avenidas despidas de carros e transportes públicas.

Por volta do meio-dia (05:00 em Lisboa), a polícia continuava a alinhar algumas barreiras de proteção, mas quem queria assumir uma atitude mais pró-ativa galgava, sob o olhar passivo dos agentes, as grades e juntava-se ao aglomerado que se ia sentando no chão, entre barricadas improvisadas de guarda-chuvas coloridos, entretanto transformados num dos símbolos da atual vaga de protestos.

As manifestações desencadeadas pelos estudantes e entretanto apoiadas pelo movimento 'Occupy Central' -- que, na madrugada de domingo, anteciparam a sua campanha de desobediência civil -- ganharam já uma dimensão para além de todas as expetativas, reconheceram alunos e líderes pró-democracia na noite de segunda-feira em declarações aos jornalistas.

A zona de Admiralty -- onde se situa o complexo de Tamar, que além das secretarias do Governo também alberga o Conselho Legislativo (LegCo, parlamento) -- continua hoje a ser o palco principal das iniciativas para contrariar a decisão de Pequim, tomada a 31 de agosto, de pré-selecionar os candidatos a chefe do Executivo.

Pelas 14:00 (07 em Lisboa), uma multidão voltava a ganhar forma entre as principais artérias e viadutos junto a Tamar depois de o número de pessoas no local ter baixado para menos de meio milhar quatro horas antes, segundo 'posts' publicados no Facebook pela "Hong Kong Confederation of Trade Unions".

Pequenos grupos percorriam tranquilamente as passagens pedonais aéreas até às saídas embora os acessos à praça continuassem interditos, enquanto voluntários passavam a distribuir águas e toalhas molhadas para enfrentar o calor húmido que 'ocupa' Hong Kong. Já outros, mais dados a desafios físicos, aproveitaram para fazer 'jogging' no 'circuito democrata'.

Nos preparativos para nova jornada de luta pela democracia voltavam-se a ensaiar cânticos a pedir a demissão do líder do Governo da antiga colónia britânica, CY Leung, enquanto amadores e profissionais captavam com as suas lentes o momento em fotografias e vídeos.

Aplausos e palavras de ordem eram também ouvidos e, por vezes, intercalados por manifestações espontâneas de apoio moral, como a de um grupo de oito jovens que passava entre a multidão, cada um com um caractere chinês escrito em cartões, compondo a mensagem "continuem a lutar. Continuem o protesto pacífico".

FV // PJA

China reafirma apoio ao governo local na gestão das manifestações

30 de Setembro de 2014, 18:12

Pequim, 30 set (Lusa) -- A China assegurou hoje que o Governo de Hong Kong tem o seu inteiro apoio na gestão das manifestações "ilegais" que estão a ocorrer naquele território sob administração chinesa.

"Apoiamos inteiramente o governo da Região Autónoma Especial de Hong Kong para resolver o problema", declarou a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying.

A reafirmação da posição de Pequim foi divulgada depois de o chefe do Executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, exigir hoje o fim imediato das manifestações. O Governo chinês já havia declarado o seu apoio ao Executivo de Hong Kong na semana passada.

Os ativistas pró-democracia prometeram ocupar o centro da cidade até que o Governo central chinês concorde com as reformas políticas prometidas após a integração da ex-colónia britânica (em 1997) ao território chinês.

"Certos países fizeram declarações sobre este tema", disse a porta-voz da diplomacia chinesa, acrescentando que "os assuntos de Hong Kong fazem parte das questões internas chinesas".

"Nós pedimos às partes externas moderação e que não interfiram de maneira nenhuma", sublinhou ainda Hua Chunying.

Londres pediu a abertura de conversações "construtivas" e Washington apelou à calma às autoridades e aos manifestantes.

Pequim enfrenta em Hong Kong a mais importante onda de contestação desde a sua passagem para a administração chinesa.

As manifestações começaram no início da semana passada e participam deste movimento estudantes, trabalhadores e outros setores da sociedade de Hong Kong, resultando em detenções e feridos depois de confrontos com a polícia.

Os manifestantes protestam contra a decisão de Pequim, anunciada em agosto, de realizar uma eleição geral para o chefe do Executivo de Hong Kong em 2017, mas mantendo o controlo das candidaturas.

Os habitantes de Hong Kong beneficiam de um sistema judiciário e político diferente do da China e de uma liberdade de expressão desconhecida no continente, mas estão preocupados com a crescente interferência de Pequim nas questões do território.

CSR // PJA
  
Pequim vai manter-se firme face aos protestos -- media

30 de Setembro de 2014, 17:24

Pequim, 30 set (Lusa) -- A imprensa estatal chinesa insistiu hoje que a China não vai ceder aos manifestantes de Hong Kong que reivindicam democracia plena e vai esperar que os protestos massivos na Região Administrativa Especial terminem naturalmente.

Milhares de pessoas concentradas nas ruas da antiga colónia britânica têm prometido não cessar os protestos e bloqueios até que as autoridades de Pequim lhes garantam pleno sufrágio universal na escolha do chefe do Executivo, nas próximas eleições, marcadas para 2017.

O Presidente da China e líder do Partido Comunista chinês (PCC), Xi Jinping, não teceu qualquer comentário sobre os protestos em Hong Kong durante uma cerimónia pública na Praça de Tiananmen, onde se assinalou pela primeira vez o "Dia dos Mártires", um novo feriado para celebrar os heróis nacionais.

A China condenou os protestos em Hong Kong, os quais qualificou de "ilegais", sendo que os líderes da Região Administrativa Especial chinesa negaram rumores de que Pequim estaria a preparar-se para destacar efetivos do exército para reprimir a dissidência.

O Diário do Povo, jornal do órgão central do PCC, diz num comentário no seu portal na Internet que os manifestantes são uma "minoria extrema" que "destruiu o Estado de Direito" na cidade.

"Esta violação da paz e comportamento radical vão conduzir, em última instância, a um colapso da ordem social", refere o jornal.

O estatal China Daily diz, por seu turno, que os protestos estão a afetar a harmonia e estabilidade locais, enquanto o Global Times salienta que "a maré se vai voltar contra os opositores" se Pequim se mantiver firme.

"O governo central não vai recuar só por causa do caos criado pelos oposicionistas", acrescenta a publicação em inglês do grupo Diário do Povo, órgão oficial do PCC.

O povo de Hong Kong "vê claramente que o governo central não vai mudar de ideias, eles vão reconhecer que os dramas protagonizados pelos opositores só tornam as coisas piores", adverte o diário.

DM // PJA

*Título PG

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