Pedro
Tadeu – Diário de Notícias, opinião
O
carácter dos líderes políticos é importante? É. Mas quando essa é a única
matéria que a política submete ao voto dos eleitores, então estamos perante uma
fraude democrática.
Aquilo
que se passou no domingo, que deixa o Partido Socialista contente, dada a
elevada participação nas suas eleições primárias para primeiro-ministro, aquilo
que deixa inúmeros analistas políticos a implorar repetição noutros partidos,
por ser um suposto aprofundamento da participação dos cidadãos nos destinos do
Estado, vai transformar-se em mais um veneno para a fé democrática do
eleitorado.
Que
acontecerá quando se repetirem, uma e outra vez, as escolhas abertas à
população em geral do ator político mais articulado, mais convicto e mais
telegénico de um mesmo e único enredo partidário? Da escolha, em suma, do
melhor papagaio para cantar as ideias comuns, os projetos comuns e os programas
comuns duma mesma e única organização profissional de conquista do poder? Que
acontecerá quando aqueles que, generosamente, acorreram agora às assembleias de
voto do PS começarem a perceber que o valor do seu ato cívico é equivalente ao
da eleição da Miss Portugal - a substância está, apenas, na aparência?
E
que papel restará aos militantes, sem influência real e equiparados a
simpatizantes, senão o de calarem o que pensam para reforçarem o vício do
carreirismo? Que lhes sobra senão catarem o vento para ficarem do lado
favorável ao sopro da última brisa eleitoralista?
Depois
da euforia, a inevitável frustração resultará em níveis de abstenção recordistas,
não só em primárias mas também, por contágio, em legislativas. Bastam
dois ciclos eleitorais. Aposto...
António
Costa é melhor que António José Seguro? A maioria parece pensar que sim. É
indiferente. A pergunta sufragada deveria ter sido outra: António Costa pensa
melhor do que António José Seguro? A resposta, temo, acabaria por ser esta: nem
pensa melhor nem pensa pior; na essência, pensa igual.
Se
já é difícil encontrar diferenças programáticas (e ideológicas) entre PS, PSD e
CDS (e há), escarafunchá-las dentro deste PS (um caldo programático, morno,
onde se diluem Manuel Alegre e Francisco Assis) dará sempre um resultado
semelhante: um líder híbrido.
Por
isso mesmo, vivaço, é que António Costa se recusou a detalhar um projeto para o
País, pois se o melhor que tem para dar é um programa de reabilitação urbana,
um Ministério da Cultura e uma "leitura inteligente" do Tratado
Orçamental, percebe que está a oferecer aos portugueses, apenas e só, mais do mesmo.
Igualzinho a Seguro... mas com outro carácter, claro.
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