terça-feira, 30 de setembro de 2014

Portugal: COSTA É MESMO MELHOR QUE SEGURO?



Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião

O carácter dos líderes políticos é importante? É. Mas quando essa é a única matéria que a política submete ao voto dos eleitores, então estamos perante uma fraude democrática.

Aquilo que se passou no domingo, que deixa o Partido Socialista contente, dada a elevada participação nas suas eleições primárias para primeiro-ministro, aquilo que deixa inúmeros analistas políticos a implorar repetição noutros partidos, por ser um suposto aprofundamento da participação dos cidadãos nos destinos do Estado, vai transformar-se em mais um veneno para a fé democrática do eleitorado.

Que acontecerá quando se repetirem, uma e outra vez, as escolhas abertas à população em geral do ator político mais articulado, mais convicto e mais telegénico de um mesmo e único enredo partidário? Da escolha, em suma, do melhor papagaio para cantar as ideias comuns, os projetos comuns e os programas comuns duma mesma e única organização profissional de conquista do poder? Que acontecerá quando aqueles que, generosamente, acorreram agora às assembleias de voto do PS começarem a perceber que o valor do seu ato cívico é equivalente ao da eleição da Miss Portugal - a substância está, apenas, na aparência?

E que papel restará aos militantes, sem influência real e equiparados a simpatizantes, senão o de calarem o que pensam para reforçarem o vício do carreirismo? Que lhes sobra senão catarem o vento para ficarem do lado favorável ao sopro da última brisa eleitoralista?

Depois da euforia, a inevitável frustração resultará em níveis de abstenção recordistas, não só em primárias mas também, por contágio, em legislativas. Bastam dois ciclos eleitorais. Aposto...

António Costa é melhor que António José Seguro? A maioria parece pensar que sim. É indiferente. A pergunta sufragada deveria ter sido outra: António Costa pensa melhor do que António José Seguro? A resposta, temo, acabaria por ser esta: nem pensa melhor nem pensa pior; na essência, pensa igual.

Se já é difícil encontrar diferenças programáticas (e ideológicas) entre PS, PSD e CDS (e há), escarafunchá-las dentro deste PS (um caldo programático, morno, onde se diluem Manuel Alegre e Francisco Assis) dará sempre um resultado semelhante: um líder híbrido.

Por isso mesmo, vivaço, é que António Costa se recusou a detalhar um projeto para o País, pois se o melhor que tem para dar é um programa de reabilitação urbana, um Ministério da Cultura e uma "leitura inteligente" do Tratado Orçamental, percebe que está a oferecer aos portugueses, apenas e só, mais do mesmo. Igualzinho a Seguro... mas com outro carácter, claro.

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