Inês
Santinho Gonçalves, da agência Lusa
Hong
Kong, China, 30 set (Lusa) - A luta pelo sufrágio universal em Hong Kong tem inspirado
portugueses a residir no território que admitem valorizar mais o "voto
popular" depois de acompanharem os protestos na cidade.
Gonçalo
Frey-Ramos vive na região administrativa chinesa há mais de oito anos e tem
assistido a um escalar da luta pela escolha direta do chefe do Executivo:
"Já oiço falar do sufrágio universal desde que cheguei, mas na altura não
era uma coisa que as pessoas me dissessem que as preocupava muito".
No
entanto, "muito mudou desde então, principalmente com a chegada do novo
chefe do Executivo, há muito mais apoio [ao sufrágio universal]", conta à
Agência Lusa.
Apoiante
do movimento, apesar de ter estado no local das manifestações apenas de
passagem, o consultor considera que "toda a gente deve poder votar" e
defende que "o enquadramento com a China devia ter sido resolvido de outra
forma".
"Há
muita coisa que só damos valor quando sentimos falta", comenta, explicando
que assim que passou a ser residente permanente de Hong Kong (ao fim de sete
anos) se recenseou para poder votar nas eleições locais - apesar de a escolha
do chefe do Executivo estar restrita a um colégio de 1200 pessoas, os
residentes podem votar para os representantes dos Conselhos Distritais e
deputados.
"A
partir do momento que sou residente permanente, tenho esse direito e
dever", diz, admitindo que estes protestos levam a uma maior valorização
do direito ao voto: "Isto faz-nos pensar".
O
sentimento é partilhado pelo criativo João Seabra, a residir em Hong Kong há um ano:
"Tenho 33 anos e acho que a minha geração, que não viveu o 25 de abril,
sente que o voto é algo adquirido, mas sempre contactei com realidades em que
isso não acontece".
"
Temos a sensação que [o sufrágio universal] é a norma, mas não é, e em Hong Kong as pessoas
lutam porque sentem que devia ser um direito", diz.
Por
agora, João Seabra não pode votar, mas espera vir a ter esse direito no futuro.
Nesse
momento, "estarei ainda mais por dentro [das notícias] e terei todo o
gosto em participar", afirma.
João
Seabra esteve em vários pontos da cidade durante a noite de segunda-feira e
testemunhou "um ambiente de calma e harmonia".
"As
pessoas estão a manifestar-se porque amam a cidade. Continuam a ir para os seus
trabalhos porque não querem prejudicar a cidade. Há um grande sentido de
entreajuda e organização, o povo tomou conta do movimento", descreve.
Para
o jovem português, este movimento vem comprovar que o território está preparado
para escolher diretamente o seu líder.
"Tenho
um grande respeito pelas pessoas de Hong Kong, estão mais do que preparadas
para a democracia. Venho de um país democrático e percebo perfeitamente a
frustração que sentem, estão a ser encostados a um canto pela China",
comenta.
Hoje
à noite, João Seabra vai voltar às ruas para continuar a "registar um
momento histórico" e juntar-se às pessoas de Hong Kong, até porque
acredita que os protestos vão engrossar com a aproximação do Dia Nacional da
China, assinalado na quarta-feira.
O
movimento em Hong Kong
surge em contestação à decisão de Pequim de restringir o sufrágio universal
pleno.
A
31 de agosto, a Assembleia Nacional Popular decidiu que os aspirantes ao cargo
vão precisar de reunir o apoio de mais de 50% de um comité de nomeação para
concorrer à eleição e que apenas dois ou três serão então selecionados.
Ou
seja, a população de Hong Kong exercerá o seu direito de voto mas só depois
daquilo que os democratas designam de 'triagem'.
A
China tinha prometido à população de Hong Kong, cujo chefe do Governo é
escolhido por um colégio eleitoral composto atualmente por cerca de 1.200
pessoas, que seria capaz de escolher o seu líder em 2017.
ISG
(DM) // PJA
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