João Almeida Moreira – Dinheiro Vivo
O candidato
democrata é um fenómeno de popularidade em qualquer ponto do mundo e também no
Brasil. Aliás, mais no Brasil do que em qualquer outro ponto do mundo.
Mikhail Gorbatchev,
no tempo da Glasnost e Perestroika, era o homem mais amado à face da terra.
Exceto na sua União Soviética, em que a minoria não tão minoritária assim que
defendia o antigo regime o odiava e a maioria que sofria com o regresso do
racionamento, o défice público gigantesco e a dívida externa de 120 mil milhões
de dólares, o condenava.
Barack Obama, o
primeiro presidente pop dos EUA depois de JFK, sofre do Efeito Gorbachev. Como
se tem verificado em sondagens um pouco por todo o globo, fora dos EUA Obama
venceria Mitt Romney de goleada. E na sua casa a votação será apertada (a esta
hora ainda não se sabem os resultados finais). Um, Obama, e outro, Gorbachev,
têm ou tiveram o mundo a seus pés mas não necessariamente os seus países.
O Brasil também
torceu pelo candidato democrata nesta campanha.
Desde logo, o
Itamaraty (nome porque é conhecido o Ministério das Relações Exteriores
brasileiro por causa do palácio onde está sediado) porque com Obama o Brasil
passou a ser o país que recebe mais vistos dos EUA à frente da China, foram
estabelecidos acordos de cooperação na área dos biocombustíveis e das energias
renováveis, facilitadas vagas nas universidades americanas para estudantes
brasileiros no âmbito do programa Ciência Sem Fronteiras e realizados
progressos na redução dos mútuos protecionismos comerciais. Obama visitou Dilma
Rousseff apenas dois meses depois da presidente(a) ter sido eleita e disse na
ocasião que o crescimento do Brasil é um dos seus “empreendimentos
prioritários”, como antes dissera “I love this guy” enquanto cumprimentava
calorosamente Lula (veja o vídeo aqui).
Mas é fora dos
portões do Itamaraty que o amor por Obama é mais profundo. Porque é
incondicional. Naquela visita ao Brasil espalharam-se cartazes a dizer “Obama,
o Brasil te ama”, há cada vez mais desportistas chamados pela alcunha Obama e é
fácil encontrar sósias do presidente americano, de fato e gravata, a animar as
praias ou os estádios do país. Porque o povo brasileiro, que tem o povo
americano como modelo, passou, com Obama, a ter um presidente americano como
modelo. Ele podia ser brasileiro: na cor, no swing, no afeto. A ascensão social
de um preto, ou negro, ou afro-americano, enquanto não inventarem um nome ainda
mais politicamente neutro, tocou o coração dos brasileiros.
O Brasil é um dos
raros lugares do planeta em que judeus e árabes vivem lado a lado, estudam e
trabalham nos mesmos lugares, e, não raramente, se casam e reproduzem.
Skinheads e outros grupos de aberrações, de tão residuais, nem são estatística.
E no futebol, o lamentável costume europeu de imitar um macaco quando um
jogador africano conduz a bola não existe. Não se concebe. À superfície, o
racismo não é problema no Brasil. No fundo é. A escada sócio-económica (ainda)
é quase impossível de subir e os negros ou pardos (mestiços), 45 por cento da
população, estão na sua maioria entre os brasileiros de menores rendimentos. Os
EUA, pelo contrário, com apenas 12 por cento de afro-americanos já têm um
presidente negro – até nisso se tornaram um modelo para o Brasil.
Mas com 44
presidentes ao longo da história e 53 por cento de mulheres na sua população,
os EUA ainda não foram capazes de eleger uma. Nesse departamento, o modelo é o
Brasil.
*Jornalista - Crónicas
de um português emigrado no Brasil - Escreve à quarta-feira
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