quinta-feira, 8 de novembro de 2012

OBAMA É BRASILEIRO

 

João Almeida Moreira – Dinheiro Vivo
 
O candidato democrata é um fenómeno de popularidade em qualquer ponto do mundo e também no Brasil. Aliás, mais no Brasil do que em qualquer outro ponto do mundo.
 
Mikhail Gorbatchev, no tempo da Glasnost e Perestroika, era o homem mais amado à face da terra. Exceto na sua União Soviética, em que a minoria não tão minoritária assim que defendia o antigo regime o odiava e a maioria que sofria com o regresso do racionamento, o défice público gigantesco e a dívida externa de 120 mil milhões de dólares, o condenava.
 
Barack Obama, o primeiro presidente pop dos EUA depois de JFK, sofre do Efeito Gorbachev. Como se tem verificado em sondagens um pouco por todo o globo, fora dos EUA Obama venceria Mitt Romney de goleada. E na sua casa a votação será apertada (a esta hora ainda não se sabem os resultados finais). Um, Obama, e outro, Gorbachev, têm ou tiveram o mundo a seus pés mas não necessariamente os seus países.
 
O Brasil também torceu pelo candidato democrata nesta campanha.
 
Desde logo, o Itamaraty (nome porque é conhecido o Ministério das Relações Exteriores brasileiro por causa do palácio onde está sediado) porque com Obama o Brasil passou a ser o país que recebe mais vistos dos EUA à frente da China, foram estabelecidos acordos de cooperação na área dos biocombustíveis e das energias renováveis, facilitadas vagas nas universidades americanas para estudantes brasileiros no âmbito do programa Ciência Sem Fronteiras e realizados progressos na redução dos mútuos protecionismos comerciais. Obama visitou Dilma Rousseff apenas dois meses depois da presidente(a) ter sido eleita e disse na ocasião que o crescimento do Brasil é um dos seus “empreendimentos prioritários”, como antes dissera “I love this guy” enquanto cumprimentava calorosamente Lula (veja o vídeo aqui).
 
Mas é fora dos portões do Itamaraty que o amor por Obama é mais profundo. Porque é incondicional. Naquela visita ao Brasil espalharam-se cartazes a dizer “Obama, o Brasil te ama”, há cada vez mais desportistas chamados pela alcunha Obama e é fácil encontrar sósias do presidente americano, de fato e gravata, a animar as praias ou os estádios do país. Porque o povo brasileiro, que tem o povo americano como modelo, passou, com Obama, a ter um presidente americano como modelo. Ele podia ser brasileiro: na cor, no swing, no afeto. A ascensão social de um preto, ou negro, ou afro-americano, enquanto não inventarem um nome ainda mais politicamente neutro, tocou o coração dos brasileiros.
 
O Brasil é um dos raros lugares do planeta em que judeus e árabes vivem lado a lado, estudam e trabalham nos mesmos lugares, e, não raramente, se casam e reproduzem. Skinheads e outros grupos de aberrações, de tão residuais, nem são estatística. E no futebol, o lamentável costume europeu de imitar um macaco quando um jogador africano conduz a bola não existe. Não se concebe. À superfície, o racismo não é problema no Brasil. No fundo é. A escada sócio-económica (ainda) é quase impossível de subir e os negros ou pardos (mestiços), 45 por cento da população, estão na sua maioria entre os brasileiros de menores rendimentos. Os EUA, pelo contrário, com apenas 12 por cento de afro-americanos já têm um presidente negro – até nisso se tornaram um modelo para o Brasil.
 
Mas com 44 presidentes ao longo da história e 53 por cento de mulheres na sua população, os EUA ainda não foram capazes de eleger uma. Nesse departamento, o modelo é o Brasil.
 
*Jornalista - Crónicas de um português emigrado no Brasil - Escreve à quarta-feira

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