Daniel Oliveira –
Expresso, opinião, em Blogues
Afinal o homem que
foi à Horta para agredir o Miguel Relvas é o jornalista Nuno Ferreira, que
trabalhou para o "Expresso e para o "Público" e que muitos
camaradas seus conhecem e apreciam (a insuspeita Ana Sousa Dias, no seu
facebook, classifica como "um grande repórter e ótimo companheiro de
trabalho"). Afinal, segundo a versão de Nuno Ferreira, a sua ida à Horta
não se terá devido a Relvas mas corresponde a um projeto que está a
desenvolver: "Açores a Pé Pelas Nove Ilhas". Afinal não se terá
instalado propositadamente num quarto próximo de Relvas, até porque deu entrada
naquele hotel antes do ministro. Afinal não terá tentado agredir ninguém.
Apenas terá dito, no hall de entrado do hotel onde estavam os dois instalados,
"você não tem vergonha na cara de andar por ai depois de tudo o que tem
feito?" O seu crime terá sido protestar, pacificamente, com um cartaz, em
frente à Assembleia Legislativa. "Bem-vindo excelentíssimo sr. dr. Miguel
Relvas, Angola gosta do senhor doutor". E, depois de o fazer, terá sido
detido quando se dirigia para o seu quarto, no hotel.
Já nem choca a
mentira que as forças de segurança fizeram circular sobre o jornalista para
justificar a sua própria arbitrariedade ou incompetência. O que nos deve
preocupar é a repetição de episódios deste género - lembram-se da identificação
de um estudante que protestou, dentro das instalações da sua faculdade, contra
Passos Coelho, e a agressão a um jornalista da TVI? Acossado e sem se poder
deslocar a lado nenhum sem ter de ouvir os protestos dos portugueses, com
ministros que, só pela sua presença no Executivo, insultam a dignidade da
República, o governo parece apostado em criminalizar a contestação.
Mas, acima de tudo,
choca como a comunicação social terá sido tão lesta a comprar a versão dos
seguranças do Miguel Relvas, quando ela ainda nem podia ser confirmada pelo
principal envolvido. Não posso garantir com toda a certeza que o jornalista
Nuno Ferreira esteja a contar a verdade. Mas entre ele e os capangas de Relvas
não me é difícil escolher quem tenha mais credibilidade. A ver se nos
entendemos: este governo, como outros que o antecederam, tem uma relação
complicada com a verdade. Seria melhor a comunicação social não comprar as suas
versões sem tratar de garantir antecipadamente o contraditório. Até porque,
diz-se, é essa a sua obrigação.
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