quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Brasil: Morreu Oscar Niemeyer. Revisite aqui a obra que marcou a arquitectura

 

Ana Tomás – Jornal i, com Lusa
 
Corpo será transportado em cortejo para o aeroporto e segue para Brasília
 
Oscar Niemeyer morreu esta esta quarta-feira. O corpo do arquitecto brasileiro foi embalsamado durante a madrugada e será levado para o aeroporto, em cortejo fúnebre, para ser velado em Brasília.
 
A previsão é de que o corpo do arquiteto seja levado ao aeroporto Santos Dummont por volta das 10:00 locais (12:00 em Lisboa), de onde seguirá para a capital do país.
 
O arquitecto morreu aos 104 anos no Hospital Samaritano, em Botafogo, no Rio de Janeiro, onde se encontrava internado há várias semanas.
 
Oscar Niemeyer, que completaria 105 anos no próximo dia 15 de Dezembro, deu entrada no hospital a 2 de Novembro, para tratar de uma desidratação, mas o seu estado agravou-se e esta semana sofreu uma infecção respiratória, acabando por não resistir.
 
Nome ímpar da arquitectura brasileira e conhecido internacionalmente pelos traços curvos e em cimento armado, Niemeyer deixou a sua marca em várias cidades, entre as quais Brasília, construída de raiz e para a qual projectou os edifícios.
 
Recebeu vários prémios, como o Pritzker, em 1988, e a Ordem do Mérito Cultura.
 
Teve também um papel activo na política brasileira, tendo-se filiado no Partido Comunista Brasileiro em 1945.
 
Niemeyer, o arquitecto da linha sensual
 
A originalidade e a imaginação do brasileiro Oscar Niemeyer, falecido quarta-feira à noite no Rio de Janeiro aos 104 anos, valeram-lhe uma reputação de líder da arquitetura moderna.
 
"Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual", dizia.
 
Dono de uma personalidade doce e incisiva, características aprofundadas pela sabedoria do tempo, a história do artista fluminense cruza-se com a política, literatura, fotografia e artes plásticas brasileiras.
 
Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares nasceu a 15 de dezembro de 1907, no Rio de Janeiro.
 
Em 1928, casou-se com Annita Baldo, com quem teve sua única filha, Anna Maria Niemeyer, que morreu em 2012. Viúvo desde 2004, voltou a casar-se, com a sua secretária dois anos mais tarde.
 
Em 1929, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e em 1934 obteve o diploma de engenheiro arquiteto no Rio de Janeiro e trabalhou com o arquiteto suíço Le Corbusier.
 
Ingressou no Partido Comunista Brasileiro em 1945 e um ano depois foi convidado a dar um curso na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, mas o visto de entrada foi cancelado.
 
Dois anos depois, obtida a permissão de entrada, viajou para Nova Iorque para desenvolver o projeto da sede da ONU.
 
Niemeyer realizou sua primeira viagem à Europa em 1954 para participar na Exposição Internacional de Arquitetura de Berlim (Interbau). Integrou ainda o programa de reconstrução da capital alemã no pós-guerra.
 
Em 1957 e 1958, o arquiteto projetou o Palácio da Alvorada -- residência oficial do Presidente -, o Palácio do Planalto e todos os principais edifícios da nova capital brasileira, inaugurada em abril de 1960.
 
Estava fora do país quando foi surpreendido pela notícia do golpe militar no Brasil e no regresso foi chamado a depor perante as novas autoridades.
 
Em 1965, retirou-se da Universidade de Brasília com mais 200 professores, em protesto contra a política universitária, e viajou para Paris para a exposição de sua obra no Museu do Louvre. No mesmo ano, projetou a sede do Partido Comunista Francês.
 
Em 1967, impedido de trabalhar no Brasil, instalou-se em Paris e três anos depois, em protesto contra a guerra do Vietname, afastou-se da Academia Americana de Artes e Ciências.
 
Niemeyer regressou ao Brasil no começo da década de 1980, no início da abertura política brasileira e dez anos depois desligou-se do Partido Comunista Brasileiro, embora tivesse mantido até ao fim amizade com figuras como Fidel Castro.
 
Recebeu o Prémio Pritzker em 1988 (Estados Unidos) e o Leão de Ouro da Bienal de Veneza, em 1996, dois dos muitos prémios e homenagens ao arquiteto brasileiro.
 
Niemeyer deixa muitas obras e projetos diversos no Brasil e em vários países. Projetou a Universidade de Constantine, na Argélia, o Memorial da América Latina, em São Paulo, o Sambódromo, no Rio de Janeiro, a Residência em Oslo, o Acqua City Palace Moscovo, na Rússia, o Museu do Cinema e o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói, no Rio de Janeiro.
 
Em Portugal, em 1966, fez o projeto original da obra do Pestana Casino Park, no Funchal, cuja construção foi finalizada nos anos 70, mas um dos seus colaboradores, Viana de Lima, modificou e concluiu o desenho final.
 
O arquiteto brasileiro também projetou uma obra de urbanização no Algarve, em 1965, mas esta nunca foi realizada, tal como a sede da Fundação Luso-Brasileira em Lisboa, pensada em 1990.
 
Em 2006, desenhou o Centro Cultural Internacional Oscar Niemayer, na cidade de Avilés, em Espanha, inaugurado em março de 2011 e fechado no final do mesmo ano por divergências da administração do instituto com o Governo espanhol.
 
Apesar da idade avançada e da saúde já debilitada, Niemeyer manteve até o fim a rotina de trabalho no seu escritório, localizado na Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro.
 
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