Margarida Bon de
Sousa – Jornal i
Economista diz que
o Estado está a quebrar contratos que firmou com portugueses e admite recurso
até para tribunais internacionais
João Salgueiro
defende que, se a sociedade civil não desencadear um processo vencedor em
termos de competitividade, Portugal não tem saída para a crise. Mais. Também
diz que é contraditório o Estado estar a quebrar contratos que firmou com os
portugueses, como é o caso dos pensionistas, e em simultâneo tentar
contratualizar investimento produtivo cá e no estrangeiro. E apela à união de
todos os que se sentem lesados para lutarem pelos seus direitos, com recurso
aos tribunais internacionais se tal se mostrar necessário. "Não há outros
contratos que estão a ser mantidos apesar dos prejuízos que provocam ao
país?", interrogou-se.
A intervenção do
ex-ministro foi feita durante uma conferência organizada pelo CIDSENIOR -
Movimento para a Cidadania Senior -, em que participaram igualmente Manuela
Ferreira Leite e Emanuel dos Santos, antigo secretário-adjunto e do Orçamento
dos dois governos Sócrates, entre outros.
Num tom que não lhe
é habitual, Salgueiro defendeu que os problemas do país não se resolvem porque
os políticos ficam reféns das suas promessas eleitorais e quando chegam ao
poder não conseguem pôr em prática as medidas necessárias para reformar o país.
"Há um
problema de cultura em Portugal", disse. "A publicidade faz o mesmo:
promete às pessoas benefícios imaginários. Na política ainda não se gasta
tanto, mas o raciocínio é o mesmo. E a sorte dos reformados está ligada à sorte
do país."
O também antigo
presidente da Associação Portuguesa de Bancos apelou a que outros grupos se
juntem ao recém-formado Movimento para a Cidania Sénior a fim de que lutem e
defendam uma estratégia de competitividade e crescimento, mas num enquadramento
em que haja uma garantia de cumprimento dos contratos transversal a todas as
situações.
GUERRA GERACIONAL
A ex-ministra das
Finanças Manuela Ferreira Leite também se distanciou forte e feio do governo
formado pelo partido que integra, acusando-o de estar a querer confundir os
portugueses com a necessidade de reformar o sistema da segurança social e os
cortes cegos que têm estado a ser feitos nestes apoios. "Estamos a
misturar dois problemas", defendeu. "Uma coisa é a sustentabilidade
do sistema, que toda a vida foi discutido e em que tem de ser feito mais um
ajustamento devido ao facto de a população estar a diminuir e a esperança de
vida estar a aumentar. Mas a situação actual é diferente, tem a ver com as
finanças públicas e o ajustamento que estamos a fazer. E avança-se com este
argumento para cortar onde há dinheiro."
Ferreira Leite
acrescenta que se está a utilizar a Segurança Social para tapar os buracos que
existem um pouco por todo o lado: nas PPP, nas empresas públicas, nas
autarquias, nas empresas municipais, nos desperdícios, nas fraudes ou nas
decisões mal tomadas.
"Quando
analisamos os problemas das contas públicas", recorda, "nunca foi a
Segurança Social a causar problemas. Antes pelo contrário. Foi a única parcela
que nunca apresentou défices, ao contrário das restantes, como os fundos
autónomos ou as autarquias."
Mas o que choca
verdadeiramente a ex-governante é o discurso oficial estar a provocar uma
guerra geracional. "Devo dizer que estou disponível para aceitar a
discriminação absurda dos cortes que afecta um sector e não o outro. Mas não
aceito pelos motivos que estão a ser invocados, que dividem as gerações, e deixam
implícita a ideia de que os reformados têm benefícios para os quais nunca
descontaram. E que as vítimas são as novas gerações. É um discurso do ponto de
vista dos valores absolutamente condenável, atribuindo aos antigos uma passagem
por aqui absolutamente inútil."
FAVORÁVEL ÀS 40
HORAS
Mais fleumático
esteve o ex-secretário adjunto e do Orçamento de Sócrates. Emanuel dos Santos
concorda com o aumento da carga horária para as 40 horas na função pública e
com a aproximação entre as pensões pagas pelo Estado e as que são da
responsabilidade da Segurança Social, "sobretudo através das regras de
cálculo, que devem ser as mesmas". O ex-governante também se definiu como
defensor de melhores serviços públicos e menos Estado. Quanto à crise que o país
atravessa, e que está a provocar um corte radical nos direitos adquiridos,
Emanuel dos Santos defende que ela foi causada por factores endógenos à Europa
e foi resultado sobretudo do mau funcionamento dos mercados financeiros.
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