quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Portugal: “RACIONAMENTO EXPLICITO” DE MEDICAMENTOS É INADMISSIVEL

 

 
"Não podemos tolerar qualquer racionamento. O que tem de haver é racionalização dos recursos", reage o bastonário da Ordem dos Médicos em relação a um parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.
 
O bastonário da Ordem dos Médicos considera inadmissível que o Conselho Nacional de Ética venha defender "a passagem de um racionamento implícito para um racionamento explícito", na área dos medicamentos. "Não podemos tolerar qualquer racionamento. O que tem de haver é racionalização dos recursos", afirma José Manuel Silva em declarações à Lusa, proferidas hoje.
 
O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) considera, num parecer hoje tornado público, que existe fundamento ético para que o Serviço Nacional de Saúde promova medidas para conter custos com medicamentos, tentando assegurar uma "justa e equilibrada distribuição dos recursos".
 
Num parecer sobre o custo dos medicamentos, a que agência Lusa teve acesso, o CNECV recomenda que as decisões sobre racionalização de custos sejam baseadas "entre os mais baratos dos melhores" (fármacos de comprovada efetividade), e não sobre "os melhores dos mais baratos".
 
Para o bastonário José Manuel Silva, está a defender-se um racionamento, que significa "ter um recurso à disposição, e não o utilizar em razão do seu custo". "Como fica a relação entre o médico e o doente? Sabendo que há racionamento o doente ficará sempre na dúvida se o médico estará a dar tudo o que é necessário", questiona.
 
"O Infarmed não serve para nada?"
 
O bastonário sublinha ainda que, com racionamento na saúde, haverá "sempre alguém que fica de fora", o que é "inadmissível". "Outra coisa bem diferente é racionalizar. Racionar nunca. Racionar na saúde para depois andar a construir autoestradas?", argumenta.
 
José Manuel Silva insurge-se ainda contra o facto de o parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida se referir a "medicamentos de eficácia duvidosa". "Estão a dizer que o Infarmed não serve para nada? Quem lhes deu autoridade para definir a eficácia dos medicamentos?", questiona o bastonário.
 
Em declarações à Lusa, o presidente do Conselho, Miguel Oliveira da Silva, sublinha que o parecer nunca defende nem refere a ideia de cortes nos medicamentos: "Não falamos em cortes, antes pelo contrário. Falamos em dar os melhores medicamentos aos doentes".
 
Segundo Oliveira da Silva, o parecer aponta para uma necessidade de racionalização. "Racionalizar é usar a razão, no sentido de lutar contra o desperdício, a ineficiência e a duplicação desnecessária dos cuidados em saúde, refletir de forma transparente e clara sobre os melhores gastos dos recursos limitados, envolvendo médicos, os melhores estudos clínicos, administradores hospitalares e doentes todos fazendo a respetiva de declaração de conflitos de interesses", declarou à Lusa.
 
A notícia do parecer foi hoje de manhã avançada pela Antena 1, que adiantava que o conselho defendia que o Ministério da Saúde "pode e deve racionar" o acesso a tratamentos mais caros para pessoas com cancro, sida e doenças reumáticas.
 
No parecer, os conselheiros indicam que "há uma dimensão ética no racionamento dos cuidados de saúde" e que, quando esse racionamento exista deve ser tornado transparente aos cidadãos e profissionais de saúde.
 

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