quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Portugal: REVOLTA DOS SENADORES




Fernando Dacosta – Jornal i, opinião

Uma das guerras mais curiosas contra o governo é a que está a ser feita pelos chamados senadores portugueses. Vultos de projecção em passado recente estão, com efeito, a vir a público com críticas arrasadoras ao executivo. Críticas especialmente significativas por virem de figuras ligadas aos partidos do poder – as provenientes de elementos da esquerda não fazem, claro, a mesma mossa. Ouvir, na verdade, Ferreira Leite, Adriano Moreira, Freitas do Amaral, Bagão Félix, António Capucho reduzirem a lixo a dupla Passos Coelho/Vítor Gaspar torna-se desconcertante – e fatal para ela (dupla); porque não se limitam a meras discordâncias, mas a repulsas éticas, a indignações cívicas nunca ouvidas. Ora diz a história que quando o clero, a nobreza e o povo se unem contra os soberanos, estes caem. Diogo Freitas do Amaral atirou mesmo a referida dupla para o caixote do tea party, acreditando que Belém venha em breve a fazer o mesmo.

Se Cavaco Silva não arrumar Vítor Gaspar, este arruma-o a ele e ao país – Ramalho Eanes e Jorge Sampaio não hesitaram, quando presidentes, em demitir governos e parlamentos. A história revela igualmente que quando as instituições democráticas bloqueiam, as populações passam a ver nas Forças Armadas a sua última reserva moral, e a acreditar que só elas impedirão o poder de cair na rua. Daí golpes como o do 28 de Maio de 1926, com o general Gomes da Costa vitoriado pelos lisboetas com cravos vermelhos.

PS: A última edição do “La Stampa” noticia que os floristas italianos estão a receber pedidos portugueses de cravos vermelhos – com discreta mas reiterada urgência. 

Escreve à quinta-feira

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