Fernando Dacosta –
Jornal i, opinião
Uma das guerras
mais curiosas contra o governo é a que está a ser feita pelos chamados
senadores portugueses. Vultos de projecção em passado recente estão, com
efeito, a vir a público com críticas arrasadoras ao executivo. Críticas
especialmente significativas por virem de figuras ligadas aos partidos do poder
– as provenientes de elementos da esquerda não fazem, claro, a mesma mossa.
Ouvir, na verdade, Ferreira Leite, Adriano Moreira, Freitas do Amaral, Bagão
Félix, António Capucho reduzirem a lixo a dupla Passos Coelho/Vítor Gaspar
torna-se desconcertante – e fatal para ela (dupla); porque não se limitam a
meras discordâncias, mas a repulsas éticas, a indignações cívicas nunca
ouvidas. Ora diz a história que quando o clero, a nobreza e o povo se unem contra
os soberanos, estes caem. Diogo Freitas do Amaral atirou mesmo a referida dupla
para o caixote do tea party, acreditando que Belém venha em breve a fazer o
mesmo.
Se Cavaco Silva não
arrumar Vítor Gaspar, este arruma-o a ele e ao país – Ramalho Eanes e Jorge
Sampaio não hesitaram, quando presidentes, em demitir governos e parlamentos. A
história revela igualmente que quando as instituições democráticas bloqueiam,
as populações passam a ver nas Forças Armadas a sua última reserva moral, e a
acreditar que só elas impedirão o poder de cair na rua. Daí golpes como o do 28
de Maio de 1926, com o general Gomes da Costa vitoriado pelos lisboetas com
cravos vermelhos.
PS: A última edição
do “La Stampa” noticia que os floristas italianos estão a receber pedidos portugueses
de cravos vermelhos – com discreta mas reiterada urgência.
Escreve à
quinta-feira
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