quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Portugal: PAULO JÚLIO. SECRETÁRIO DE ESTADO ACUSADO DE FAVORECER PRIMO




Sílvia Caneco – Jornal i – foto Paulo Novais/Lusa

Segundo o DIAP de Coimbra, Paulo Júlio terá feito as regras do concurso à medida do perfil do primo para que fosse este o escolhido

Paulo Júlio, secretário de Estado da Administração Local que em 2011 suspendeu o cargo de presidente da Câmara de Penela para integrar o governo, foi acusado pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Coimbra de um crime de prevaricação de titular de cargo político por alegadamente ter manipulado um concurso público, em 2008, de forma que um primo em segundo grau fosse o escolhido para o cargo.

O esquema terá sido montado “em inícios do ano de 2008”, quando Paulo Júlio decidiu abrir um concurso interno para o cargo de chefe da Divisão de Cultura, Turismo, Desporto e Juventude. O primo, Mário Duarte, já era funcionário da autarquia de Penela há mais de 20 anos. Sabendo que o primo era licenciado em História de Arte, o secretário de Estado terá excluído todas as outras licenciaturas da lista de requisitos. De seguida terá decidido que o júri do concurso seria composto por ele próprio, um jurado na área do Desporto e um ex-professor do primo. Terá ainda proposto que o factor “experiência profissional” fosse especialmente valorizado: Mário Duarte já trabalhava no sector da cultura e património e o presidente propunha que a esse factor fossem atribuídos 12 valores acrescidos de 1 valor por cada ano suplementar. No final, quando chegou a altura das entrevistas, também terá sido Paulo Júlio a decidir quais as perguntas a fazer. No final, feitas as contas, os únicos dois pontos da avaliação em que Mário Duarte teve melhores notas que a outra candidata foram precisamente a entrevista e a experiência profissional. Nas habilitações académicas e na formação profissional, a outra candidata teve melhores resultados.

“Ao actuar da forma descrita, [...] agiu o arguido com o propósito de conduzir, ab initio, o procedimento concursal por forma a que o referido Mário Duarte fosse provido no cargo [...] assim o beneficiando em prejuízo dos demais candidatos que se apresentassem, o que conseguiu”, diz o despacho de acusação assinado pelo procurador Filipe Marta Costa, e a que o i teve acesso.

A queixa chegou ao Ministério Público através da Inspecção-Geral da Administração Local (IGAL) em Julho de 2011, pouco tempo depois de Paulo Júlio integrar a equipa de Miguel Relvas. Dois meses depois, o então inspector da IGAL Orlando Nascimento foi exonerado do cargo por alegada “quebra de lealdade institucional”.

A defesa de Paulo Júlio vai pedir a abertura de instrução para tentar evitar que o caso chegue a julgamento.

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