EL – SB - Lusa
Luanda, 02 fev
(Lusa) - Um padre lançou uma campanha de ajuda para combater a fome no
município dos Gambos, província da Huíla, no sul de Angola, onde existirão
cerca de 155 mil pessoas em risco.
Contactado
telefonicamente a partir de Luanda, o padre Pio Wacussanga, pároco de Nossa
Senhora de Fátima do Chiange, em Gambos, disse à Lusa que aquela zona de Angola
atravessa desde 2008 "efeitos da estiagem prolongada".
"Os que se
dedicam à agricultura já não têm nada para comer, pois consumiram as sementes
que tinham para plantar, e os que se dedicam à pastorícia, que viviam da troca
de animais por alimentos produzidos pelos agricultores, também não têm nada
porque ninguém lhes dá nada em troca dos animais", explicou.
A campanha,
denominada "Mão na Mão - Contra a fome os Gambos", foi lançada na
sexta-feira e o padre Pio Wacussanga aceita donativos em géneros alimentícios e
em dinheiro, com a garantia de registo de todas as doações.
"Toda a ajuda
é bem-vinda. Cada um à sua maneira, pode contribuir", salientou o pároco,
que deu como exemplo especialistas angolanos que se disponibilizaram a ir a
Gambos ensinar técnicas de recolha dos aquíferos subterrâneos na região.
"Gambo tem muita água no subsolo que podia ser usada ela população para
não depender das chuvas, e isso não está a ser feito por falta de meios e
planeamento", acrescentou.
Depois da forte
seca registada em 2008 e 2009, Gambos foi apanhada em 2010 por chuvas fortes,
que formaram enxurradas que destruíram parte significativas das culturas, e em
2011 e 2012 a irregularidade pluviométrica não ajudou a garantir as colheitas.
Quanto a apoios
institucionais, o padre Pio Wacussanga reconhece que o Ministério da
Agricultura, que já declarou aberta a campanha agrícola, tem ajudado no que
pode, mas salienta que a situação de seca que atinge 10 das 18 províncias do
país resulta na dispersão de apoios.
"Tendo em
conta a imensidão da crise, o Estado não tem condições para a resolver sozinho.
Tem que haver articulação", defendeu.
Em novembro
passado, a Federação Internacional da Cruz Vermelha (IFRC) lançou um apelo
internacional para ajudar a combater a situação de seca em Angola, que então
afetava cerca de 1,8 milhões de pessoas em 10 das 18 províncias.
Segundo IFRC, a
falta de ajuda internacional poderá ter efeitos devastadores se não for
garantida ajuda de emergência.
"As
necessidades são enormes e aumentam especialmente no período de maior escassez
de alimentos - entre novembro e março. Até agora a resposta da comunidade
internacional tem sido fraca. As eleições gerais realizadas em agosto desviaram
a atenção da crise de segurança alimentar", salientou então a IFRC.
A época agrícola de
2011-2012 em Angola foi marcada pela acentuada diminuição de chuvas, cerca de
60 por cento quando se compara com anos normais, de que resultaram as atuais
condições de seca.
As 10 províncias
mais afetadas são Bengo, Benguela, Bié, Cuanza Sul, Cunene, Huambo, Huíla,
Moxico, Namibe e Zaire.
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