domingo, 3 de fevereiro de 2013

Chuvas destroem salas e ameaçam aulas de cinco mil alunos no centro de Mocambique




André Catueira, da agência Lusa

Chimoio, Moçambique, 02 fev (Lusa) - Enquanto sacode o caderno das gotas de água que pingam do teto da sala, Forest Miguel, oito anos, tenta concentrar-se na aula, mas distrai-se com o vento que, no exterior, "conduz" o chuvisco para o interior.

"A parede deste lado da sala caiu, por isso a chuva está a entrar", explica à Lusa Forest Miguel, que ainda se lembra dos seus primeiros dias numa sala, depois de frequentar a 1ª e 2ª classes debaixo da árvore na EPC de Trangapasso, uma escola pública do segundo grau nos arredores de Chimoio, capital de Manica, centro de Moçambique.

No interior da sala, as condições estão cada vez mais deploráveis devido aos efeitos das chuvas.

As autoridades governamentais de Manica estimam que as chuvas tenham destruído pelo menos 77 salas de aula em vários distritos atingidos pelas enxurradas na província, afetando uma população estudantil de mais de 5.500 alunos.

"A população estudantil afetada com a destruição de salas de aula nos distritos da província de Manica corresponde a 1,3 por cento do efetivo de 2013", disse Ana Comoana, governadora de Manica, durante uma reunião de balanço da situação de emergência.

O universo dos milhares de alunos que estudam debaixo das árvores e cujas aulas estão condicionadas pelas chuvas, não foi quantificado.

As próprias comunidades afetadas, disse Ana Comoana, como medida de urgência "estão a reconstruir as escolas de material precário" destruídas pelas tempestades, para evitar que as chuvas atrasem ou impeçam o arranque das aulas nos distritos atingidos.

"Tivemos problemas de desembolsos de fundos para a aquisição de chapas de zinco para a reconstrução de salas de material convencional, mas criámos condições locais para garantir o decurso normal das aulas", disse à Lusa Estêvão Rupela, diretor provincial de Educação de Manica.

As salas de aula e outras infraestruturas públicas desabaram na sequência de um excesso de precipitação - em dois dias choveu o equivalente a 70 por cento do previsto para todo mês de janeiro - na mesma semana em que arrancou, oficialmente, o ano letivo escolar, provocando muitos atrasos no início das aulas.

"A professora disse para nós irmos para casa, senão vamos molhar livros e cadernos", disse à Lusa Lindinha Zacarias, sete anos, 1ª classe do nível primário na Escola Primária e Completa de (EPC) de Trangapasso.

A falta de condições nas salas de aula devido à destruição ou falta de infraestruturas e equipamento adequados têm contribuído para a baixa qualidade de ensino no país, um desafio para o setor da Educação em atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) estabelecidos pelas Nações Unidas.

Um estudo do Consórcio da África Austral para a Monitoria da Qualidade de Ensino (SACMEQ, na sigla inglesa), de 2007, indica que 74,6 por cento dos alunos que concluem o primeiro ciclo do ensino primário apresentam grandes dificuldades na leitura, em português, de frases simples.

Entre as crianças (5-9 anos), as proporções dos que falam português são muito menores do que entre os jovens e pessoas de meia-idade. A proporção é mais baixa entre a população adulta, devido o facto de a maioria não ter tido uma educação formal, a principal fonte de aprendizagem do português, segundo o censo de 2007 do INE.

"Ainda estamos apostados na melhoria e edificação de mais salas de aula na província para a maior cobertura do ensino e na introdução de ensino secundário e superior nos distritos que já necessitam deste tipo de ensino", afirmou Estêvão Rupia.

AYAC // VM.

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