José Ribeiro –
Jornal de Angola, opinião
Está prestes a
terminar a primeira década de paz em Angola. Cada dia que passou ficou gravado
no coração dos angolanos que amam o seu país. A vida das pessoas mudou muito
desde que os heróis do Luena assumiram o compromisso de abandonar as armas. As
mudanças são tantas e tão profundas, os ganhos da paz foram tão importantes que
os resultados positivos fizeram esquecer a violência da guerra.
Das ruínas renasceu um país novo, alicerçado em mais saúde e mais ensino. A
organização da economia, até há dez anos destroçada, permitiu criar milhões de
postos de trabalho. Ter hospitais e centros médicos é importante. As escolas
são fundamentais. Mas levar para casa um salário ganho com o suor do nosso
rosto significa o triunfo da dignidade e da esperança sobre o desespero. As
metas alcançadas, os sonhos realizados, os projectos concretizados fizeram
esquecer os anos da guerra. Este é o ganho mais importante.
A dinâmica económica e social que hoje vivemos é tão positiva que não dá espaço
ao passado de sofrimento. Ainda que hoje haja gente que sofre, todos têm
garantido que ninguém vai ficar para trás. O poder político tem um claro
compromisso com o combate à pobreza e ao subdesenvolvimento. A geração dos
filhos da Paz do Luena sabe que, com ele, nunca mais vai sofrer as desgraças
que os pais e avós suportaram. A determinação política e o avanço da
reconstrução nacional fabricaram o cimento da reconciliação e abrem o caminho do
desenvolvimento. Este clima de progresso é a garantia de que o regime
democrático triunfou em toda a linha e a corrente do desentendimento foi
derrotada.
À primeira década de paz vão juntar-se muitas mais se o passado recente que pôs
a nossa pátria em sangue e os corações em ferida for compreendido. Que seja
apenas uma página da História de Angola que as futuras gerações têm de estudar,
para que nunca mais a ambição desmedida se sobreponha à liberdade de todo o
povo. Para que a falta de discernimento entre o principal e o acessório nunca
mais se transforme em dor e luto e em retrocesso nacional.
Esta década de paz que está prestes a chegar ao fim teve como artífices
milhares de patriotas que deram tudo para salvar o país da ocupação
estrangeira, unir o povo e defender a democracia. As Forças Armadas Angolanas
têm um lugar de honra na galeria dos construtores da paz. As Igrejas deram
igualmente um contributo inestimável para que os angolanos vivam há uma década
em paz e reconciliados. E por isso é com grande tristeza que registo acusações
“despropositadas, injuriosas e caluniosas”, como afirmam os bispos católicos,
contra as denominações religiosas a quem todos devemos muito.
E não é de hoje. As acusações ignominiosas vieram precisamente de quem
beneficiou, no passado, da acção educativa das Igrejas. Muitos quadros da UNITA
estudaram nas missões católicas e protestantes. Jonas Savimbi foi aluno interno
do Colégio dos Irmãos Maristas, no Cuito. Estudou com a ajuda da Igreja
Católica. Injuriar e caluniar os responsáveis das Igrejas é um gesto de
ingratidão que não mancha apenas os seus autores. Põe em causa todos os
angolanos de bem, independentemente de serem crentes ou não. No final da década
prodigiosa de paz, é um dever de todos dispensar um gesto tão irresponsável
como despropositado, injusto e provocatório.
Mas esta década de paz tem um líder que merece um reconhecimento inequívoco.
José Eduardo dos Santos é apontado pelo Povo Angolano como o arquitecto da paz.
Mas ele é muito mais do que o autor do projecto que levou ao Acordo de Luena. A
sua acção foi muito para além do calar das armas. Dirigiu os combates, até o
conseguir, contra aqueles que quiseram destruir a democracia. Contrariou a
doutrina e as práticas na moda até ao dia 4 de Abril de 2002 e provou que
Angola tem o seu próprio modelo. Quando em todo o mundo os vencidos são
impiedosamente arrasados, em Angola eles são honrados e tratados como irmãos. É
um caso raro, único mesmo, na História da Humanidade. Nunca antes todos foram
tratados em igualdade como vencedores. Nunca os inimigos da democracia
beneficiaram tanto do sistema democrático que quiseram aniquilar.
José Eduardo dos Santos teve o cuidado de estender a mão a todos os que, de
armas na mão, tudo fizeram para pôr em agonia a soberania nacional e a
integridade da Pátria. E apesar de todos os gestos de ingratidão e de
deslealdade, ainda continua de mãos estendidas à reconciliação, ao diálogo, ao
entendimento. Apesar de verificar que entre os iguais vencedores há quem tudo
faça para atrasar o combate à pobreza e ao subdesenvolvimento, pondo em causa
os ganhos da paz, continua a achar que é mais importante o perdão do que o
castigo. O Presidente, com a superioridade moral dos que sabem perdoar e dos
ganhadores, aguarda pacientemente que eles se penitenciem e se juntem ao
trabalho dos angolanos de boa vontade que dão o seu melhor, todos os dias, para
que Angola seja um grande e próspero país.
Esse é o ponto mais importante desta década de paz que está prestes a chegar ao
fim. Em dez anos fizemos imenso, mas ainda há muito caminho por percorrer. José
Eduardo dos Santos mostrou que quer Angola na via do empreendedorismo e do
desenvolvimento, do emprego e do trabalho, da paz e do diálogo, do entendimento
e da estabilidade política. Não é difícil perceber que esse é o rumo de que
Angola precisa e que se todos nos entregarmos a esse esforço, dentro da rica
diversidade que nos caracteriza, mais rapidamente anda o país e surgem novos
resultados.
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