quinta-feira, 28 de abril de 2011

SALVAR ANGOLA DAS REVOLUÇÕES “DAS ROSAS”




LEOPOLDO BAIO* - AGORA

Nas revoluções “das rosas ” que vão acontecendo um pouco por todo mundo árabe, uma nota ficou saliente e se tornou fundamental. Tiveram no seu epicentro uma juventude, arregimentada, gerida e feita “arma de arremesso” por intermédio das redes sociais.

Não menos fundamental é o facto de parte do seu suporte assentar na intelectualidade esclarecida – aqui destacamos professores universitários, advogados e outros – mancomunados num sistema de clientela à escala global, atingidos que estão a ser os objectivos dos tink tanks com relação aos seus interesses e a esses grupos localizados.

A ementa das revoluções “das rosas” remonta do ano de 2003 na Geórgia. Naquela altura, logo após a sua renúncia, Eduard Chevardnadze confirmou em Moscovo, os papeis de determinada linha de conduta de países acidentais e certas grupos de pressão, nas mudanças que estavam em curso na Geórgia, tendo-os acusado de estarem por detrás do seu afastamento da presidência daquele país.

As suas declarações, foram, depois, corroborando por um analista, Mark MacKinnon, que confirmava – a 26 de Novembro de 2003, em “breaking news”, no “Globe and Mail”:

“Foi em Fevereiro que determinados grupos começaram o trabalho para o afastamento do Presidente Georgiano Eduard Chevardnadze .

Nesse mês, fundos de alguns tink tanks, foram enviados para uma activista de Tbiliss, de 31 anos, chamada Giga Bokeria, para a Sérvia, a fim de se encontrar com membros do movimento Otpor (Resistência) e aprender como eles usaram as demonstrações de rua a fim de derrubar o ditador Slobodan Milosevic. No Verão, uma fundação pagou as viagens para a Geórgia, de activistas do Otpor, a fim de realizarem cursos de três dias, ensinando a mais de 1000 estudantes sobre como se podia fazer uma revolução pacífica.

Meses depois, o Instituto Liberty que Bokeria, que havia ajudado a fundar uma estação de Televisão da oposição popular e que foi crucial na mobilização em apoio da revolução de veludo dando, também, apoio financeiro a um grupo juvenil que liderou os protestos de rua, transformando-se, assim, instrumental em organizar os protestos de rua que eventualmente conduziram Chevardnadze a assinar os seus papéis de renúncia. Bokeria disse que tinha sido em Belgrado que ele tinha aprendido o valor de manter elevada a moral, assim como fazer uso de pressão sobre a opinião pública, tácticas que se comprovaram muito persuasivas nas ruas de Tbilissi, no mês a seguir às eleições parlamentares.

Alguns meses antes da oposição ter voltado do avesso o parlamento em Tbilissi, pedindo a resignação do Presidente Eduard Chevardnadze , Djinovic, um dos mentores dos levantamentos, esteve na cidade explicando a sua experiência na revolução não sangrenta aos estudantes Georgianos.

“Estamos a trabalhar com movimentos civis em vários Países e não quero nomeá – los, mas a Geórgia é o primeiro sucesso”, disse Djinovic.

Concluída a revolução “das rosas” na Geórgia, dentro dos interesses da assumpção estratégica do “dossier” Cáucaso – Mar Cáspio (com incidência na Geórgia), observadores mais atentos ao desenvolvimento daquele processo político concluíram haver uma instrumentalização em tempo oportuno o “volte face” em benefício dos interesses em relação ao petróleo do Mar Cáspio, por parte dos Americanos e seus aliados Ocidentais.

O segmento das revoluções “rosa” em África e a sua conexão petrolífera

 Passadas as experiências georgianas para o norte de África, depois de um processo direccionado de amadurecimento dessas sociedades, e através do acesso à rede global, terem sido processados fluxos de informações que orientam os defensores das sociedades “abertas”, assistiram-se o despoletar das revoluções “cor de rosa” na Argélia, Tunísia, Egipto e mais recentemente na Líbia.

Avaliando as conexões de todos estes movimentos sociais, analistas atentos, não se têm dúvidas que as suas motivações passam por factores como a falta de liberdades fundamentais (característica de regimes autocráticos), elevado índice de pobreza e concomitante baixo desenvolvimento humano, expostos à manipulação de interesses, por vezes configurados em alianças económicas contra-natura, com os poderes instituídos.

 Em “Castas das Arábias”, artigo publicado no Blog “Página Um”, Martinho Júnior, reflectia sobre o carácter da aristocracia financeira mundial, das oligarquias corporativas afins, das “pétreas” monarquias da Arábia Saudita e da formação das elites no Terceiro Mundo, perseguindo a imagem e a semelhança da composição humana do poder de que se nutre a globalização por todos os aderentes, por mais insignificantes que eles pareçam, ou aparentemente longínquos que eles existam.

Daí, a necessidade das nossas avaliações de riscos da propagação das revoluções “cor de rosa” tomarem em linha de conta a arquitectura das nossas alianças económicas/ financeiras e interesses à elas adjacentes a curto e médio prazo, para além dos impactos a serem provocados nas nossas sociedades, já de si fragilizadas.

Os “usa, deita fora” em que se tornaram Ben Ali e Osni Mubarak, formaram enquanto no poder eminentemente elitista que criaram, sob a orientação do ocidente, formaram autênticos grupos com uma incomensurável capacidade conservadora e financeira, a despeito dos interesses das maiorias.

Durante os últimos 17 anos, a Líbia, Kadafi também funcionou adoptando o mesmo esquema. No entanto a sua trajectória anterior, em que sobressaia um forte pendor feudal da sociedade e do seu regime (em que as tribos foram propositadamente “conservadas” num gigantesco “banho maria” humano), acabou por se tornar num “usa, deita fora” organicamente mais “duro de roer” e portanto mais insuportável, mais insubmisso.

Daí percebermos as características da revolução na Líbia, onde, logo à partida as armas estavam presentes do lado dos revoltosos, o que não aconteceu nos outros países árabes.

As manipulações contraditórias em curso nas sociedades africanas, com o objectivo de derrubarem os regimes considerados ditatoriais pela via da revolta controlada, como se viu no Egipto e Tunísia, têm como objectivo propiciarem, ao nível do poder, a injecção do paradigma institucionalizado da “democracia representativa”, mantendo inalterável a lógica capitalista, mas garantindo um sistema articulado entre o poder financeiro mundial, as oligarquias corporativas, as monarquias Arábicas e as elites do Terceiro Mundo, criando com isso, a ilusão-cosmética da democracia.

Angola por dentro do turbilhão

A característica “pétrea” de Angola, coloca-a claramente no epicentro deste turbilhão de interesses globais, não podendo descurar-se a ideia dos mesmos apetites leoninos se sobreporem a lógica democrática em curso, partindo da contestação social em função das disfunções existentes na sociedade, assente no cada vez mais acentuado fosso entre ricos e pobres.

Mesmo que haja a inclusão na rebelião de organizações sociais com mérito na defesa dos trabalhadores, dos pobres, dos mais desfavorecidos, mais vulneráveis, mais fragilizados, mais marginalizados, os vínculos ficam evidentes, pelo carácter filantrópico dos seus financiamentos que alimentando sobretudo intelectuais jovens captados pela via das lutas em benefício dos “direitos humanos” e dos “direitos das minorias”, para que eles obtenham o máximo de aderência na juventude.

Nas revoluções “cor de Rosa” são os jovens que, por causa do conseguido “fim da história”, se tornam fáceis de enquadrar, de manipular e de organizar a baixo custo, que se movem deliberadamente contra os poderes locais, conservadores, corruptos e especuladores, garantindo com sua “pureza” e inexperiência mas extrema voluntariedade, os termos essenciais da manipulação explosiva pela carga atómica que contém: eles são capazes da revolta mas, por si, sem liderança efectiva de outra origem, são incapazes de uma verdadeira revolução com profundas implicações económicas, financeiras, mediáticas e sobretudo sócio políticas e institucionais.

Por isso, para salvar Angola da revolução “cor de rosa”, é preciso perceber uma juventude descomprometida com o passado histórico recente e em rápido processo de inclusão global por via das redes sociais, procurando garantir o emprego de uma grande parte que se encontra vulnerável, frágil e marginalizada, com vida precária, no sub-emprego, ou no desemprego, com toda a explosiva carga atómica de acção psicológica ao seu dispor.

Salvar Angola da revolução “das rosas” é tomar atenção à nossa sociedade, cada vez mais aberta e estudiosa dos fenómenos sociais do mundo global e governar com base numa democracia social, procurando a todo o custo, diluir as assimetrias regionais e sociais.

Salvar Angola da Revolução “das Rosas é tornar presente a necessidade de se devolver, periodicamente a palavra à sociedade, segundo o que está plasmado na Constituição, - independentemente de estarmos de acordo com ela ou não - para que o eleitorado avalie o desempenho das lideranças no poder.

Assim, provavelmente Angola, pela sua imensa riqueza natural, se mantenha como “referência”, para muitos circuitos internacionais do intrincado sistema de “lavagem de dinheiro”, que não é indiferente às operações de especulação financeira, e por via disso, se mantivesse, por enquanto, a salvo das contradições das revoluções “cor de rosa”.

*Jornalista e Comunicólogo, Mestrando em Marketing Estratégico

Sem comentários:

Mais lidas da semana